Um dos maiores treinadores do voleibol brasileiro, o gaúcho Jorge Schmidt está nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no comando da seleção da Colômbia. Nesta quarta-feira (1), após vencer o México por 3 a 0 (25/23, 25/23 e 25/19) e classificar sua equipe para as quartas de final, o tricampeão da Superliga com a Frangosul/Ginástica (1994-95) e a Ulbra/Canoas (1997-98 e 1998-99) conversou com a reportagem da Rádio Gaúcha e GZH.
No comando da seleção colombiana desde junho de 2021, ele chegou ao Chile com o claro objetivo de ficar entre os quatro primeiros colocados. Para atingir a meta será necessário passar pelas quartas de final.
— Merecedor. O 3 a 0 mais ainda. Saímos com orgulho porque planejamos este final de ano. Esta é a primeira vez que a Colômbia poderá jogar uma semifinal pan-americana. Vocês não sabem o que isso significa para o Ministério (Esporte) para o Comitê Olímpico Colombiano e para a federação. Muito contente e à medida que estou aqui e vejo essa sigla (microfone da Rádio Gaúcha) na minha frente, me dá uns retornos (lembranças) na minha vida muito importantes.
Aos 66 anos, Jorginho esbanja a mesma energia dos tempos em que comandou equipes no Brasil e no exterior, como a seleção de Portugal, por exemplo. Responsável por um projeto de crescimento do voleibol colombiano, ele poderá ficar até o final de 2028 à frente da equipe.
— Tem o que fazer. Quando você chega numa empresa e tudo está encaminhado para terminar, você sabe se vai continuar ou não. A federação colombiana me propôs um contrato até o final de 2028, mas eu disse a eles que fico até o final de 2024, onde tem a possibilidade de nós jogarmos o Mundial e não precisa de contrato assinado, apenas na palavra. O time tem potencial para o voleibol.
Terceira colocada no último Campeonato Sul-Americano, disputado no Recife, a Colômbia tem vaga no Mundial de 2025 e, até lá, Jorginho quer trabalhar a capacidade atlética de seus jogadores, que lembra um pouco o vôlei cubano.
—Não é tom crítico. Cáli é a capital mundial da salsa, não tem como parar — diz ensaiando um passos na zona mista da Arena do Parque O'Higgins, para logo a seguir completar.
—No primeiro Sul-Americano (em 2021) eu tomei cartão vermelho por falta de desportividade. Eles estavam vibrando (depois de um ponto) e resolveram (dançar) olhando pro lado de lá (quadra adversária). Eu acho que isso é um alento. Mas eu estou na Colômbia, não a Colômbia que me recebe e eu tenho que me adaptar. Eles tem biotipo, uma escola, escola não, são derivados da escola cubana que eu tenho que mudar algumas coisas. Eles só querem atacar e sacar. Ou seja, só jogar com potência. Então tem que ter um trabalho de base, senão não vai dar (para crescer).
O quadro de medalhas do Pan de Santiago tem chamado a atenção porque a Colômbia está em quinto lugar, à frente de Cuba, Argentina, Venezuela e Jamaica, países que tradicionalmente têm melhores desempenhos no Pan. Para o treinador gaúcho isso é fruto do investimento.
— Eles vão sediar o próximo Pan (2027 em Barranquilla). Eu vou te dizer isso é um alento, é um fator de motivação. Eles tinham uma cultura do "mañana vamos fazer" (amanhã vamos fazer). Nós vivemos isso no Brasil e o futebol deu exemplo. Ou você faz fora da cancha (quadra), do campo, ou não vai conseguir fazer. Na seleção de vôlei eu trato igual jogo e treino e espero que sejam firmes fora da quadra.
Jorge Schmidt ainda contou alguns percalços na Vila dos Atletas do Pan, como a chegada à 1h da madrugada e a busca por comida para a delegação. Sem jantar disponível, todos receberam sanduíches, chamados por ele como pão com mortadela. Outro fato foi o de estar tomando banho após regressar para o prédio onde a Colômbia está hospedada e ser surpreendido com água fria enquanto terminava de se lavar. E antes de se despedir deixou um recado para sua terra natal, Novo Hamburgo.
— Para aí, tchê. Eu sou uma das pessoas mais fanáticas por Novo Hamburgo que deve ter (existir). Eu tentei fazer algumas coisas pela cidade e não deu. Entrei na política e fui secretário (de esportes). Não dá. Não é pra mim, Jorginho. Não tenho paciência. Mas eu gostaria de dizer que o Rio Grande do Sul faz falta na vida de qualquer gaúcho. Tenho chimarrão lá em casa em Cáli. E eu tenho um orgulho tremendo de dizer que povo mais carinhoso e receptivo como o do Rio Grande do Sul não tem.
E é assim, com seu jeito característico, que Jorginho Schmidt seguirá na Colômbia fazendo história. Além do bronze no Sul-Americano deste ano, em 2022, ele levou à equipe ao inédito título dos Jogos Bolivarianos, que envolve países da América do Sul (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Venezuela), além de Panamá, República Dominicana, El Salvador e Guatemala.