A bicampeã olímpica dos 800 metros rasos Caster Semenya obteve uma vitória simbólica importante no Tribunal Europeu de Diretos Humanos, nesta terça-feira (11). A corte afirmou que a corredora sul-africana foi alvo de discriminação por parte de entidades esportivas e questionou a validade das regras que vêm impedindo a atleta de competir em nível internacional. A World Athletics, contudo, reiterou seu regulamento.
Semenya vem buscando os tribunais esportivos e da Justiça comum nos últimos anos para poder voltar a competir sem precisar baixar seus níveis de testosterona, considerados acima do normal pela World Athletics, a federação internacional de atletismo (antiga IAAF). Ela foi campeã olímpica nos Jogos do Rio-2016 e também em Londres-2012. No entanto, não pôde competir em Tóquio, em 2021, por causa das regras sobre limitação de testosterona.
Nesta terça, ela alcançou rara vitória nos tribunais. A corte especializada em direitos humanos, baseada em Estrasburgo, na França, decidiu pelo placar de 4 a 3 que Semenya foi alvo de discriminação e que foi negado à atleta um "remédio efetivo" nas decisões tomadas recentemente pela Corte Arbitral do Esporte (CAS) e pela Suprema Corte da Suíça, país onde se localiza a CAS.
O tribunal francês decidiu que o governo suíço precisa pagar a Semenya o valor de 60 mil euros (cerca de R$ 321 mil) relativos aos custos e despesas pelo julgamento realizado em Estrasburgo. O caso avaliou apenas a relação entre a sul-africana e a Suprema Corte da Suíça, sem atingir diretamente a World Athletics.
Em comunicado, a federação internacional de atletismo avisou que não reverá suas regras.
— Nós mantemos nossa visão de que a regulação de DSD (Diferenças no Desenvolvimento Sexual) é um meio necessário, razoável e proporcional de proteger a competição justa na categoria feminina, como a Corte Arbitral do Esporte e a Suprema Corte da Suíça decidiram, após uma avaliação detalhada e especializada das evidências", registrou a entidade.
Semenya foi legalmente identificada como mulher ao nascer e se identificou como mulher durante toda a sua vida, mas as regras introduzidas pela World Athletics, em 2019, a forçaram a reduzir artificialmente sua testosterona natural para poder competir em competições femininas.
A World Athletics diz que ela tem uma das várias condições conhecidas como "diferenças no desenvolvimento sexual" (DSD), que resulta em um nível natural de testosterona na faixa masculina, o que lhe faria uma vantagem injusta nas disputas femininas.
Semenya, que ainda sonha em disputar a Olimpíada de Paris-2024, contesta as regras da testosterona nos tribunais há anos, mas já havia perdido uma apelação na mais alta corte do esporte em 2019 e uma segunda contestação contra as regras na Suprema Corte da Suíça, em 2020. Essa segunda rejeição de seu recurso foi a razão pela qual o governo suíço foi réu no caso do Tribunal Europeu de Direitos Humanos.