A Copa dos Refugiados e Migrantes reuniu 180 futebolistas amadores neste domingo (27), na sede do Sesc Campestre, em Porto Alegre, em evento de lazer, confraternização e busca de visibilidade. Participaram da competição equipes representando 10 países, que foram divididos em dois grupos: Angola, Senegal, Moçambique, Haiti, Venezuela, Palestina, Líbano, Chile, Guiné-Bissau e Peru.
Os jogos ocorreram em quadras de grama sintética de futebol sete, as equipes trajavam uniformes padronizados e os enfrentamentos se sucederam pela manhã e à tarde. Passaram às semifinais Líbano, Guiné-Bissau, Senegal e Haiti. A maioria dos jogadores é residente em Porto Alegre, enquanto uma parcela menor é da Região Metropolitana.
Em tempos de Copa do Mundo, disputada profissionalmente pelos melhores atletas do planeta no Catar, a Copa dos Refugiados e Migrantes é uma realização singela, porém de objetivos nobres. Mais importante do que o vencedor é a busca pela integração na sociedade de pessoas de outras nacionalidades. Elas não costumam dispor de lazer cotidianamente e enfrentam dificuldades econômicas e preconceito.
— Os migrantes falam várias línguas, mas todos falam a do futebol. É uma linguagem universal. A copa é uma forma de chamar a atenção para a pauta migratória e para o fluxo que temos no Brasil atualmente — diz o angolano Januário Gonçalves, diretor-presidente da seção gaúcha do Pacto pelo Direito de Migrar — África do Coração (PDMIG), organização que realizou o evento.
Na atual conjuntura econômica, com brasileiros de vida estável atingidos pelos efeitos da crise, os estragos são ainda mais danosos para os imigrantes, de realidade vulnerável.
— Hoje, os principais desafios são emprego e moradia. É o que dá dignidade para uma pessoa que teve de fugir ou sair forçadamente do seu país — complementa Gonçalves.
Mario Fuentes Barba, coordenador da Unidade dos Povos Indígenas, Imigrantes, Refugiados e Direitos Difusos da prefeitura de Porto Alegre, cita dados dos registros da Polícia Federal: atualmente vivem na capital gaúcha cerca de 30 mil migrantes, de 52 nacionalidades.
— Desses 30 mil, em torno de 3 mil procuram a assistência social da prefeitura. É apenas 10%. Mas não podemos ignorar a realidade. São cerca de três mil famílias que precisam superar dificuldades. E muitas dessas barreiras são superadas pela linguagem do esporte. A copa é importante para ajudar a desconstruir estigmas de parte da sociedade que vê o migrante como ameaça. O migrante é um ativo social importante para a continuidade da construção e do desenvolvimento da cidade, a exemplo dos migrantes que nos precederam — diz Barba, que atuou na organização do evento.
Sul do país, destino de venezuelanos
O sul do Brasil está entre os principais destinos dos venezuelanos que seguem ingressando no país. São, em média, 300 homens e mulheres do vizinho sul-americano que cruzam a fronteira brasileira por dia, destaca Soraya Pessino, diretora no Brasil do programa Integrando Horizontes, da Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento. Essa instituição é não governamental e foi fundada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) com a missão de atuar em programas de proteção e desenvolvimento de refugiados e imigrantes.
Pessino acompanhou a realização da copa em Porto Alegre e definiu como um “espaço de desenvolvimento das capacidades emocionais e da integração”.
— A Venezuela tem a segunda maior crise humanitária do mundo. Um país que faz fronteira com o nosso. O desafio é prestar assistência, principalmente no início, mas criar uma rota de autonomia e autossuficiência para essas famílias — diz Pessino.
Durante os jogos no Sesc Campestre, a Secretaria Municipal da Saúde ofereceu testagens para diversas doenças, preservativos e materiais informativos.