Um campeonato em que a confraternização entre culturas vale mais do que a técnica em campo. É assim que jogadores e torcedores definem a 3º edição da Copa dos Refugiados e Imigrantes, que ocorreu neste domingo, em Porto Alegre, no Estádio Passo D'Areia. Foram 12 seleções formadas por refugiados e imigrantes: Angola, Guiné Bissau, Senegal, Nigéria, Costa do Marfim, Venezuela, Colômbia, Peru, Haiti, Chile, Líbano e Palestina.
O torneio foi criado em São Paulo, em 2014, e teve sua primeira expansão para Porto Alegre em 2017. Este ano, a copa tem seis etapas regionais ocorrendo entre agosto e setembro: além do Rio Grande do Sul e de São Paulo, está passando pelo Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Recife. Os times campeões da primeira fase irão para o torneio nacional em outubro, no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, a seleção do Líbano levou a melhor e na partida final venceu a Angola por 2 a 1.
Integrante da animada torcida do Peru, a comerciante Neli Barra Garcia, 30 anos, veio assistir o marido, Franklin, 31 anos, jogar. Mas admite que o evento também é pretexto para celebrar o convívio entre diferentes culturas. Além de torcer, ela acredita que o evento possibilita a criação de laços com outros imigrantes:
– Eu adoro futebol mas estar aqui é mais do que isso. Fizemos amizades e depois passamos a nos frequentar, um indo na casa do outro, especialmente com haitianos e colombianos – contou ela, enquanto assistia a seleção do seu país enfrentar a Angola ao lado da mãe, dos filhos e de amigas. Todos os peruanos torciam calorosamente pelo seu país da arquibancada.
Há dez anos morando no Brasil, ela vive com a família em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. Pela terceira vez assiste a competição:
– Este também é o momento de acolhermos outras pessoas que chegaram ao Brasil há pouco. É difícil estar longe do nosso país de origem e, ajudando a enturmar outras pessoas, podemos agradecer a receptividade que tivemos pelos brasileiros.
A integração também ocorre dentro da formação dos times. O da Costa do Marfim, por exemplo, contou com jogadores brasileiros, congoleses, venezuelanos e haitianos:
– É nossa primeira vez no campeonato, então, reunimos pessoas de outras nacionalidades para formar o time. É uma oportunidade de nos conhecermos e compartilharmos culturas – explica o marfinense Esmel Atchori, 29 anos.
O cobrador de ônibus Andrei Murando, 27 anos, que defendeu a Costa do Marfim, explica que a forma de jogar entre os países é muito diferente, especialmente no estilo de marcação:
– Foi difícil até nos entrosarmos mas é um aprendizado – explica ele.
"Jogar é uma forma de união"
Também estreante no campeonato, o time do Chile apresentou dois veteranos na sua escalação. Os amigos Rene Lopez, 71 anos, e Feliciano Segundo Silva Soto, 72 anos, ambos formados em engenharia mecânica pela mesma universidade em seu país de origem, são zagueiros do time. Os dois, que vivem há mais de quatro décadas no Rio Grande do Sul, encontram no esporte uma forma de descontração:
– Qualquer encontro do futebol é algo muito saudável, mas no fundo, todo mundo joga para ganhar. O futebol é competitivo.
Rene avalia que o time ainda precisa evoluir e elogiou a atuação da seleção do Líbano que, segundo ele, é entrosada e corre muito.
Para Feliciano, o futebol é uma forma de integração única, que une diferentes interesses:
– A gente vira guri em campo, de vez em quando os mais jovens nos passam na corrida mas a gente não desiste – brinca.
Mais experiente, a equipe do Senegal, que participa da competição pela terceira vez, treina pelo menos uma vez na semana para participar da competição e tem em Neymar e Messi suas principais referências.
Na manhã de domingo, enquanto aguardavam a vez de jogar, assistiam aos outros jogos sem desgrudar da bandeira do seu país:
– Jogar bola é um prazer, faz parte da nossa rotina e é uma forma de união – afirma Modou Diaw, 30 anos, há quatro no Brasil.