Foram 31 dias. Ou 744 horas. Ou 44.640 minutos o tempo total de duração de outubro. Dividi assim para deixar bem claro algo que só ficou nítido para mim quando tive o diagnóstico de câncer de mama: cada instante precisa ser valorizado. Lembro que assim que recebi a notícia, em janeiro de 2020, inicialmente sentia pressa, urgência de visitar todos os médicos. Em seguida, veio a sensação de que o mundo havia parado. Já faz mais de dois anos, mas de alguma forma continuo carregando aquele sentimento.
Chegamos ao fim de mais um outubro rosa e usamos todo o tempo para conscientizar as pessoas da necessidade de estarem atentas, fazerem exames para garantirem o diagnóstico precoce, o tratamento e a cura. O mês está acabando, mas outros virão, com mais oportunidades. Porque a gente precisa celebrá-la todos os dias, horas, minutos.
A seguir, histórias contadas na série Vitórias que ajudam a entender a importância de cuidar da saúde e de cultivar o esporte como rotina.
As lições de uma campeã mundial
Em 2003, ao som de Brasileirinho, Daiane das Santos entrava para a história do esporte brasileiro. Executou com perfeição todos os movimentos do solo, inclusive o famoso duplo twist carpado, e tornou-se a primeira atleta do país, entre homens e mulheres, a conquistar uma medalha de ouro em Mundial de ginástica.
Quase 20 anos depois, vieram outras vitórias nos ginásios e longe deles. Daiane tem um projeto social, é comentarista da TV Globo, palestrante. Aos 39 anos, depois de morar longe de Porto Alegre desde os 18, quer voltar para casa para ficar mais perto da família.
– É preciso valorizar quem está ao teu lado nos momentos de dificuldade – ensinou Daiane, em um bate-papo com médicas, enfermeiras e pacientes do Hospital São Lucas da PUCRS e da Oncoclínicas, dentro do projeto Vitórias, da RBS TV.
Foram lições de uma jornada de superação no esporte que serve de inspiração a mulheres que estão enfrentando o câncer de mama. Com uma de suas muitas medalhas nas mãos, Daiane finalizou:
– Esse é um símbolo físico de vitória, mas eu não preciso ter uma dessas no peito pra ser campeã. A maior das vitórias é a vida.
Mais uma maratona vencida
A advogada tributarista Lisiani Calvano Pereira, 46 anos, estava se preparando para uma ultramaratona nos alpes franceses e suíços em 2019. Havia sido uma das poucas brasileiras a conseguir vaga na competição chamada Ultra Trail de Mont Blanc.
Entre os preparativos para percorrer os 43 quilômetros subindo e descendo montanhas, estava um check-up antes da prova. Após a realização dos exames, uma notícia inesperada fez as pernas, fortalecidas por anos de treinos, bambearem. Lisi estava com câncer de mama. Ela não tem dúvida sobre o que a fortaleceu nos meses de tratamento.
– Eu posso dizer que o esporte salvou minha vida.
Assim que se recuperou da cirurgia para retirada do tumor, seguiu treinando durante todo o período em que fez a radioterapia.
– Precisava fugir do sol por recomendação médica. Então, muitas vezes eu corria à noite, caminhava também. Enfim, fiz do jeito que dava.
Com essa dedicação, três meses depois do diagnóstico atravessou emocionada a linha de largada da prova na Europa. Correu durante 13 horas. Quando perguntada sobre a colocação ao final da prova, respondeu:
– Devo ter chegado em último, nem sei. Vencer foi conseguir estar lá.
Vida com outra cor
Pesquisas confirmam que a prática de atividade física diminui em 20% a chance do câncer de mama. Um número que é um incentivo para que cada vez mais mulheres se mexam. Mas ele não garante que a doença não apareça. Juliana Jung, empresária de 51 anos, sabe bem.
Com mãe, pai e irmão profissionais de educação física, Ju sempre fez muito exercício. Pratica surfe, standup padel, beach tenis e até balonismo. Em meio à rotina saudável, os exames de rotina mostraram um tumor. Descoberto cedo, teve como orientação a mastectomia bilateral, ou seja, a retirada das duas mamas, em 2018. Uma cirurgia que teve menos impacto porque encontrou um corpo fortalecido pelo esporte.
– O esporte nos dá outro ânimo, faz a gente ver a vida de outra cor, fica tudo cor de rosa.