Lá se vão três outubros rosas desde que tive o diagnóstico de câncer de mama. Na época eu nem imaginava, mas o nódulo maligno na mama direita traria com ele a responsabilidade de buscar conscientizar mulheres sobre a importância da prevenção. Uma em cada oito brasileiras receberão essa notícia durante a vida. O Rio Grande do Sul é um dos Estados com maior número de casos no país. Por isso precisamos reverberar informação na mesma velocidade em que a doença se multiplica.
A mãe, a esposa, a tia, a amiga, a amiga do amigo, todo mundo conhece alguém que teve ou tem câncer de mama. Por isso, nas sextas-feiras de outubro vamos exibir no Globo Esporte, na RBS TV, a terceira temporada da série "Vitórias". Estivemos em lugares públicos de Porto Alegre e, acompanhados de médicas oncologistas e mastologistas, convidamos as pessoas a refletirem. O resultado foram muitos momentos marcantes e a certeza de que se uma mulher tomou a decisão de ir fazer o exame a partir da nossa lembrança, conseguimos a maior das nossas vitórias.
A seguir, conto três histórias marcantes da série.
O que é que a baiana tem?
Não tem nada! Ainda bem! Estávamos no meio da praça da Encol quando Ediusa se aproximou com um envelope nas mãos. Era a biópsia realizada em um nódulo na mama. Ela viu o movimento no parque, entendeu do que se tratava, e veio direto me entregar o exame, acompanhado da pergunta:
— Vamos abrir juntas?
Gelei. Se havia sido pedida uma investigação, poderíamos ter um diagnóstico de malignidade. Mas o paciente pode abrir o próprio laudo como e onde quiser. E a Ediusa escolheu abrir ali, sem se importar com todas as pessoas que a cercavam.
Com o coração acelerado, abri o lacre. E respirei aliviada quando li "benigno" em letras maiúsculas bem no meio da folha. Toda a equipe de gravação bateu palmas e a baiana Ediusa esqueceu dos doze anos vivendo no Rio Grande do Sul e comemorou como se estivesse dançando com o Olodum no pelourinho.
Para cada diagnóstico positivo para a doença, são sete negativos para comemorar. Só que para ter certeza é preciso fazer a mamografia. Uma por ano a partir dos quarenta é a recomendação. Ediusa vai voltar ao ginecologista para mostrar o resultado e seguir fazendo os acompanhamentos de saúde. Se despediu faceira e foi pegar o ônibus para voltar para casa comprometida a melhorar na alimentação e no exercício físico, que são fatores importantes de proteção.
O canto dos pássaros
Sheila, cabelos curtinhos, grisalhos apesar da pouca idade, blusão cor de rosa. Estava sentada no banco da praça admirando a paisagem. Nada muito específico. Sem o celular na mão, nem fones de ouvido, nada para tomar sua atenção além do canto dos pássaros.
— Algo tão simples, não né? — comentou comigo em tom reflexivo.
Ela diz que passou a enxergar o mundo de um jeito diferente depois do diagnóstico de câncer de mama. Trabalha como caixa de supermercado e tem encontrado tempo na rotina para cuidar mais da própria saúde. Só não conseguiu engrenar nas atividades físicas regulares, mas adora bike e caminhadas. Prometi encontrá-la para uma tarde de movimento. Tenho certeza que incluindo mais isso na vida, curada como está, não demora muito para ela sair voar como os pássaros que gosta de observar.
E os exames?
Short, camiseta justinha, viseira, um bom tênis no pé e um ritmo de corrida acelerado. Não precisei fixar o olhar por muito tempo na Lucélia para perceber que se tratava de alguém que gosta de praticar esportes. Me contou que o filho é jogador na base do Grêmio. Enquanto ele treina no clube, ela também se exercita. Tudo lindo! Até eu perguntar sobre os exames de rotina.
— Não faço há quatro anos — respondeu.
Chamei a mastologista Betina Volbrecht, que nos acompanhava para tirar as dúvidas, e ela soltou a seguinte frase:
— Não foi por acaso que tu estavas passando aqui agora, pode ser um sinal para ires fazer teus exames.
Lucélia prometeu que iria correndo marcar. E nós ficamos com a sensação de dever cumprido, quase como quem cruza a linha de chegada de uma maratona, reforçando porque o outubro rosa existe.