As vezes o que parece só o mínimo pode ser muito. É com essa reflexão que começo esse mês cor de rosa. Desde janeiro de 2020, quando tive um diagnóstico de câncer de mama, o outubro ganhou outro significado para mim. Junto com o resultado da biópsia de um nódulo maligno na mama direita, recebi a missão de buscar conscientizar mulheres a buscar mais cuidado com a própria saúde.
Não foi algo que percebi imediatamente, até porque inicialmente vem um desnorteamento muito grande, mas a partir do momento em que dividi com o público a notícia, entendi que precisava reverberar o tema. O Rio Grande do Sul é o líder de casos no país, uma em cada oito mulheres terão câncer de mama. Sou só mais uma que enfrentou e enfrenta essa doença, só mais uma das muitas vozes espalhando informação. Parece pouco, mas pode ser muito.
Perdi as contas de quantas vezes fui abordada nas ruas por mulheres e homens que têm vivências relacionadas ao câncer de mama. "Tu foste inspiração para eu seguir forte", "Minha mãe te assistia e se identificava", "Foi muito importante tu teres dividido a tua vivência", são algumas das falas que escuto. Por todas elas, decidimos que a terceira temporada da série Vitórias, do Globo Esporte, iria para as ruas. Depois de dividir a minha experiência pessoal na primeira edição, de conectar histórias de mulheres na segunda, agora estaremos em três parques de Porto Alegre, convidando as pessoas à prática esportiva e à busca por conhecimento sobre essa pauta. Já no primeiro local encontrei uma moça correndo: prática de exercícios em dia, alimentação saudável, mas há quatro anos sem nenhum exame de rotina. Falou que ia sair dali e marcar a mamografia. Parece pouco, mas pode ser o suficiente para salvar uma vida.
Em outra praça me acomodei ao lado de uma senhora em um banco. Ela não tinha um celular na mão, como a maioria das pessoas a nossa volta, não usava fones de ouvido, nem parecia preocupada, como tantos de nós, inclusive eu, passamos nossos dias. "Ouve só o canto dos passarinhos", me disse. Um diagnóstico de câncer de mama transformou radicalmente a forma dela de ver o mundo. Disse que passou a dar valor para coisas muito simples da vida. Aquelas que parecem pequenas, mas, na verdade, são gigantes.
Na correria do dia a dia as vezes esqueço, mas momentos como esse mês me fazem lembrar de valorizar coisas que acabei perdendo durante o período de tratamento. Hoje eu sinto o gosto dos alimentos; durante a quimioterapia eles ficavam alterados. Consigo dormir bem. Durante a quimioterapia a insônia acompanhava minhas noites. Não sinto dor e estou disposta. Durante a quimioterapia faltava energia. Meu cabelo voa e até atrapalha as gravações externas, mas agradeço por ele existir, lembrando de como foi difícil ficar sem ele. Ações simples podem ganhar um novo tamanho, uma nova importância, dependendo da perspectiva do olhar. Pequenas? Ou enormes?
Por conta do projeto Caminhos para a Vitória tenho ido à academia todos os dias. Muitas vezes vou reclamando, sinto o corpo dolorido pela intensidade da atividade, mas quando lembro do enorme esforço que demandava me movimentar durante o tratamento, sigo. Foi durante o auge do isolamento pela pandemia que cumpri a parte mais intensa do protocolo de enfrentamento à doença. Dentro de casa, eu colocava uma videoaula no computador e me mexia por quinze minutos, subia ao terraço do prédio e caminhava dez minutinhos no sol, montava circuitos com almofadas e me divertia com meu filho, enquanto mexia o corpo. Todos pequenos, porém, grandes movimentos.
Durante todas as sextas-feiras de outubro vocês vão acompanhar no Globo Esporte histórias ligadas ao outubro rosa. Queria convidar a me ajudarem nessa multiplicação de informação e reconhecimento sobre o câncer de mama. Dentro da tua família, entre tuas amigas, colegas de trabalho, vamos reverberar esse assunto. O que para ti pode parecer o mínimo, tem chance de ser muito para alguém. E só, assim aos poucos, vamos conseguir mais das nossas pequenas grandes vitórias.