A tática é pensada por crianças, mas executada com a esperteza de gente grande. O objetivo final: fotos com jogadores do Barcelona na entrada da tão moderna quanto imensa Cidade Esportiva Joan Gamper, em Sant Joan Despí, nos arredores da capital catalã.
Enquanto aproximadamente 50 jovens disputam posição amontoados no guard rail em frente à portaria principal, um se sacrifica pelo bem maior. É deste solitário a missão de avistar os veículos do outro lado da avenida e, com um aceno empolgado, avisar os demais que trata-se de um "cotxe" de algum boleiro rumo ao treinamento.
— Aquest cotxe és de Jordi (este carro é do Jordi) — berra o guri aos amigos, em catalão (a língua ensinada nos colégios da Catalunha), do outro lado da rua.
Ele se referia ao lateral-esquerdo Jordi Alba, 33 anos, mais da metade deles vividos no Barcelona.
É nesta parte que ocorre a missão final. Uma das crianças aperta o botão para o sinal ficar verde aos pedestres e, assim, parar o trânsito de carros luxuosos dos jogadores. A criançada, e até alguns adultos, jogam-se em busca de um retrato. E depois os exibem como se fossem troféus.
— Tem uns guris ali que já devem ter umas quatro ou cinco fotos com cada. Todo o dia eles passam a tarde ali. Já sabem de cor os nossos carros. Acho isso muito legal porque, como já fui torcedor, fã, gostava disso também. Não fazia essas loucuras de ir no CT (risos), mas sempre quando os via ficava admirado e encantando. Por isso, quando posso, paro e dou uma atençãozinha. Esse calor da torcida é gostoso — revela Raphinha, em entrevista exclusiva à GZH, que atravessou o Atlântico para encontrar o jogador numa das salas de imprensa da Cidade Esportiva Joan Gamper.
Já deu para ver que o gaúcho cria da Restinga está entre os favoritos da torcida. E até por isso não teve tranquilidade para conhecer da forma como gostaria algumas das singularidades da capital catalã. Uma cidade com sensações térmicas acima dos 40°C durante o verão, mas que oferece lindas praias, como a Barceloneta, banhadas pelo Mar Mediterrâneo na costa nordeste da Península Ibérica. O que mais chama atenção são as obras e prédios modernistas projetadas por arquitetos históricos como Gaudí, Doménech i Montaner e Puig i Cadafalch.
Contratado em julho pelo Barcelona ao custo que pode chegar a R$ 365 milhões, dependendo de gatilhos, Raphinha, 25 anos, quase ficou mais tempo em pré-temporada nos Estados Unidos do que na capital catalã. Apesar disso, já conseguiu visitar alguns lugares, como o zoológico da cidade, localizado entre Barceloneta e os prédios construídos como vila olímpica para os atletas nos Jogos de 1992.
— Faço qualquer passeio que uma pessoa normal curte fazer. Lógico que fica mais complicado para conhecer no final de semana. Por isso, tento me adaptar nos meus dias de treino e de folga para visitar os lugares. Não curto ficar muito "preso" dentro de casa. Quero ter uma vida normal, mas com responsabilidade — afirma o atacante.
Uma das razões para Raphinha não gostar de ficar preso dentro de casa atende pelo nome de Chanel. A golden retriever de três anos é uma das paixões dele e de sua esposa, a modelo Natalia Rodrigues, e aparece frequentemente ganhando afagos do dois no Instagram. Os pais do casal também estavam em Barcelona, auxiliando neste período de mudanças e adaptação (voltaram nesta semana ao Brasil):
— Gosto de passear com a Chanel em morros e praças. Curto sair de dentro de casa para desopilar um pouco a cabeça. É difícil ter essa "vida normal" porque aqui os fãs estão sempre esperando por vocês, como ocorreu com as crianças aqui na porta do CT. Isso é bom porque mostra que o trabalho está sendo bem feito. É o time da cidade, o maior do mundo. O mínimo que a gente pode esperar é isso das pessoas e até dos turistas que vêm de fora para acompanhar. Eles acabam parando no CT para tentar nos ver. O mais legal é que, independentemente do horário, sempre tem gente esperando. Já cheguei para treinar 19h15min e estava cheio. Já sai do CT às 16h e às 23h e o pessoal também estava ali na frente — revela Raphinha.
Infelizmente, a missão para os jovens ficará mais difícil. Na semana passada, o atacante Robert Lewandowski teve o relógio roubado durante a entrada ao CT. Ninguém se feriu, e o assaltante foi preso. Com a segurança reforçada no local, será hora de as crianças bolarem outro plano genial para fazer o que poucos defensores estão conseguindo: parar Raphinha.