A sorridente Liège Gautério chega à pista de atletismo da Sogipa, em Porto Alegre, e já vai cumprimentando os outros corredores. A atleta de 49 anos é bicampeã dos Jogos Mundiais de Transplantados e se prepara para viajar para a Austrália, em abril de 2023, em busca do tri nos 100 metros rasos.
A corrida exige preparo e fôlego, principalmente para a gaúcha de Santa Maria, que só tem o pulmão esquerdo funcionando. Em 2011, ela passou por um transplante em razão das complicações de uma fibrose pulmonar, mas não deixou a doença a derrotar.
Apaixonada por esportes, resolveu deixar sua formação em biologia e fonoaudiologia para cursar Educação Física. A escolha foi ambiciosa, deixando até os médicos na dúvida se ela teria condições de acompanhar as atividades práticas pela dificuldade de respirar. A formatura ocorreu dois meses antes do transplante de pulmão, em julho de 2011.
— Eu fui receber o diploma com o oxigênio junto, mas fui! — conta.
Liège já participava de atletismo na escola e quis investir no esporte para mostrar que pessoas transplantadas não precisam desistir do que gostam. Sua determinação foi tão grande que foi a primeira brasileira a participar dos Jogos Mundiais de Transplantados, conquistando o ouro logo na estreia, em 2015, na Argentina, e depois na edição seguinte, em 2017, na Espanha.
— Ingressei nesse mundo dos esportes e, de lá para que cá, não parei. Estou seguindo nessa luta! — comemora.
Com a pandemia, a competição foi adiada e terá uma nova edição em Perth, na Austrália, no próximo ano. Por ser um país mais distante e com os reflexos da crise econômica, os custos estão mais elevados, chegando em torno de R$ 30 mil para cobrir as passagens, hospedagem e demais gastos. Sem desanimar, Liège iniciou uma campanha em busca de patrocínio e doações.
— Não está fácil para ninguém, mas eu conto com a solidariedade das pessoas que queiram me apoiar, porque de alguma forma isso acaba repercutindo positivamente na doação de órgãos, e esse é o meu maior propósito.
Confiante de que vai conseguir bater a meta e viajar, a atleta segue com três treinamentos por semana, além de praticar ioga, musculação e natação, e ainda dar aulas de pilates e funcional em seu próprio estúdio.
— Eu sempre bato nessa tecla para que as pessoas se exercitem. O transplantado pode ter uma vida plena, não é alguém que vai estar sempre debilitado ou doente. A gente pode renascer e voltar para a vida.