Você, brasileiro que acordou às 8h da manhã de domingo e se postou estremunhado em frente ao aparelho de TV. Você, brasileiro que apenas ouviu pelo rádio a transmissão da maior final da história das Copas. Você, brasileiro que foi ao Japão. E até você, brasileiro que detesta futebol. Todos vocês são campeões do mundo. Pentacampeões. Porque a Seleção Brasileira, representando cada um de vocês, derrotou a poderosa Alemanha por 2 a 0, no Estádio Internacional de Yokohama, e deu esse título ao Brasil. Um título conquistado em cada detalhe.
A começar pela inteligente estratégia do técnico Luiz Felipe Scolari. Luiz Felipe preparou uma surpresa à Alemanha. Kléberson, pela escalação o segundo volante, na prática atuou como quarto homem de ataque. Logo aos dois minutos, ele apareceu indo à linha de fundo pela direita, cruzando, obrigando Oliver Kahn a uma boa defesa. Aos sete, Kléberson chutou mais uma vez, de fora da área, e Kahn defendeu de novo.
A Alemanha respondia com um jogo mais do que apenas viril. Um jogo que passeava pela orla da violência. Klose deu um chute em Cafu e um cotovelaço em Edmílson. Recebeu cartão amarelo aos nove minutos. Em compensação, RoqueJúnior parou um contragolpe da Alemanha com falta e levou amarelo aos quatro.
Era essa, aliás, a proposta da Alemanha: o contra-ataque, com passagens inteligentes dos laterais pelos flancos e cruzamentos para seus atacantes de estatura elevada. Mas a defesa do Brasil estava sólida. Em nenhum momento o perigoso Klose, artilheiro alemão com cinco gols na Copa, pôde cabecear livremente. O Brasil, ao contrário, jogava por baixo, bola no chão, na habilidade de seus atacantes. O principal deles até aquele momento, Ronaldinho. Aos 18, ele rolou a bola suavemente para Ronaldo na pequena área, por uma fresta descoberta apenas por ele na zaga alemã, que parecia não estar ali. Ronaldo deu uma estocada com o lado de fora do pé esquerdo, e a bola saiu.
Aos 29, Ronaldinho lançou Ronaldo por cima dos zagueiros. O camisa 9 se desequilibrou, e Kahn tomou-lhe a bola. Aos 41, foi a vez de Cafu lançar Kléberson, que, sozinho diante de Kahn, bateu para fora. Três minutos depois, o mesmo Kléberson chutou forte, no travessão. E aos 45, Kahn salvou os germânicos ao tirar com os pés um chute de Ronaldo de dentro da área.
O final do primeiro tempo foi alvissareiro para o Brasil. Só que a Alemanha convocou a Divisão Panzer para o segundo. Logo no primeiro minuto, Jeremies conseguiu o que ninguém conseguira até então: cabeceou livre. Marcos pegou. Aos três, Neuville cobrou falta da intermediária e acertou a trave esquerda de Marcos, que ainda tocou na bola com a ponta dos dedos. O Brasil respondeu aos seis, com Gilberto Silva cabeceando para baixo. Oliver Kahn defendendo.
Os alemães saudaram seu goleiro da arquibancada:
— Oli! Oli! Oli!
Mas a torcida brasileira logo respondeu:
— Brasil! Brasil! Brasil!
No estádio, havia mais brasileiros do que alemães. Mas, em campo, a Alemanha jogava com disposição ofensiva inédita, atacando sobretudo pelo lado direito, com os velozes Frings e Neuville. Jogo duro. Final de Copa. A tensão só arrefeceu um pouco aos 16 minutos, quando Edmílson foi trocar a camisa rasgada e... não conseguiu! Atrapalhou-se com o forro especial criado pelo fabricante de material esportivo e fez o jogo ficar parado por quase um minuto ,o mundo inteiro esperando que ele acertasse a gola. Acertou, e o estádio aplaudiu de satisfação.
A Alemanha ainda pressionava quando, aos 21 minutos, Ronaldo lutou contra Hamann na intermediária. Roubou a bola. Ela ficou com Rivaldo. Que chutou com força e efeito, à meia altura. Kahn errou. Defendeu parcialmente, mas a bola voltou para o meio da área e lá estava Ronaldo, o grande Ronaldo. Que empurrou para o gol: 1 a 0.
O Brasil, então, se encolheu. Ficou em seu campo, esperando que a Alemanha errasse. E a Alemanha errou. Aos 33 minutos, Kléberson puxou o contragolpe pela direita, passou rasteiro para o meio da área e Rivaldo abriu as pernas num "corta-luz" sensacional. Ronaldo apanhou a bola, bateu rasteiro e marcou seu oitavo gol na Copa da Ásia e seu 12º em Copas do Mundo, igualando uma marca que só Pelé tinha no futebol brasileiro.
Das arquibancadas, a torcida gritava:
— Pentacampeão! Pentacampeão!
O título estava assegurado. Um título de Luiz Felipe, de cada um dos 23 jogadores da Seleção e, sobretudo, de cada brasileiro.