Uma postagem do jogador de vôlei Maurício Souza feita em 12 de outubro com teor homofóbico resultou na rescisão do contrato do atleta com o Minas Tênis Clube e na perda de espaço na seleção brasileira nesta quarta-feira (27). As duas semanas de repercussão envolveram usuários de redes sociais, depois a torcida do time, a diretoria do clube, colegas de profissão, e, por fim, os patrocinadores da equipe.
Mesmo depois de sofrer as consequências, o agora desempregado repetiu questionamentos para sustentar sua posição. Tomando proporções jurídicas, 20 parlamentares representantes das causas LGBT+ de 13 Estados e sete partidos políticos distintos protocolaram uma representação no Ministério Público de Minas Gerais contra o jogador, já na sexta (29).
Maurício criticou a bissexualidade do novo Super-Homem, personagem da DC Comics que aparece em anúncio da editora das histórias em quadrinho beijando outro personagem masculino. O perfil do jogador também traz outras publicações questionando movimentos sociais como o feminismo e conquistas de direitos relacionadas à comunidade LGBTQIA+.
Torcida nega apoio
A torcida organizada Independente Minas foi a primeira a se manifestar. Ela divulgou um comunicado oficial dizendo que passaria a ignorar o jogador em postagens nas redes e no apoio ao time em quadra, como forma de “não dar palco” para pessoas que querem “reverberar preconceito”.
Colegas de profissão
As declarações de Maurício Souza também causaram desconforto em um colega de seleção brasileira. Douglas Souza, assumidamente homossexual, usou suas redes sociais para criticar o jogador do Minas de forma indireta. Não foi a primeira vez que o jogador rebateu o companheiro nas redes.
Já nessa última segunda-feira (25), jogadoras históricas da seleção feminina como Sheila e Fabi, além de Carol Gattaz, agora ex-companheira de clube de Maurício, reforçaram o movimento contrário ao posicionamento de Mauricio. “Homofobia é crime”, postaram, cobrando respeito.
Diretoria
Através de nota, o clube mineiro afirmou que respeita a opinião de cada atleta, mas que não aceitará manifestações homofóbicas de jogadores que carregam a camisa do clube:
"O Minas Tênis Clube está ciente do posicionamento público do atleta Maurício Souza, do Fiat/Gerdau/Minas. Todos os atletas federados à agremiação têm liberdade para se expressar livremente em suas redes sociais. O clube é apartidário, apolítico e preocupa-se com a inclusão, diversidade e demais causas sociais. Não aceitamos manifestações homofóbicas, racistas ou qualquer uma que fira a lei. A agremiação salienta que as opiniões do jogador não representam as crenças da instituição sócio desportiva. O Minas Tênis Clube pondera que já conversou com o atleta e tem orientado internamente sobre o assunto.”
Patrocinadores
Fiat e Gerdau, mantenedoras do vôlei no Minas Tênis Clube, divulgaram notas cobrando que a diretoria do time tomasse as “medidas cabíveis” e reforçando o posicionamento inclusivo e de respeito ao movimento LGBTQIA+. Esta cobrança foi definitiva para que, em uma reunião também na terça-feira, o clube decidisse que o atleta seria afastado das atividades esportivas, orientado a se retratar nas redes sociais, e pagaria multa.
A retratação
A publicação criticando a orientação sexual do personagem da DC Comics foi feita por Maurício no Instagram, onde o atleta tem mais de 260 mil seguidores, e o vídeo de retratação foi publicado pelo jogador no Twitter, onde 400 contas o acompanham. A disparidade entre as duas publicações geraram mais criticas nas redes sociais.
Fora da seleção
Na última quarta-feira (27), o técnico de Maurício na seleção declarou que não convocaria mais o atleta. O gaúcho Renan Dal Zotto lamentou a postura do jogador, com quem trabalhou nos últimos cinco anos entre seleção e clubes, e sugeriu que ele revisse suas ideias sobre diversidade.
— Não compactuo em absolutamente nada do que ele escreveu e posso garantir que na seleção não existe espaço para preconceito, seja ele qual for, nem para jogadores e nem para alguém da comissão técnica. Nos ambientes que eu convivo, também não. O vôlei sempre foi inclusivo e ficamos chateados com isso. Espero que o Maurício repense na vida, em tudo que está fazendo, porque não tem cabimento. Repudiamos todo e qualquer tipo de preconceito — comentou, em contato com GZH.
O desligamento
Na tarde desta quarta, a rescisão do contrato de Mauricio com o Minas foi confirmada pela diretoria. O paulista de 33 anos defendeu a seleção em Tóquio e foi campeão da Liga das Nações que ocorreu no começo de 2021. Ele estava no clube desde 2012.
Aumentou a repercussão
Na quinta (28), um dia depois de ser desligado do Minas, Maurício voltou a movimentar as redes sociais. O jogador publicou uma imagem do Super-Homem original (Clark Kent, heterossexual) beijando a Mulher-Maravilha (mulher, heterossexual) e culpou a "turma da lacração" pela repercussão negativa de sua critica à sexualidade do novo Super-Homem (filho de Clark Kent nas histórias da DC Comics, homem bissexual).
"A culpa disso tudo é da turma da lacração fazendo pressão em cima dos patrocinadores", disse o jogador no vídeo. "Qualquer coisa falada que não seja o que eles aprovam você é homofóbico e preconceituoso fato", escreveu na legenda da publicação.
Representação judicial
Em mais um capítulo do caso, 20 parlamentares representantes das causas LGBT+ de 13 Estados e sete partidos políticos distintos protocolaram uma representação no Ministério Público de Minas Gerais contra o jogador de vôlei, que publicou postagens de teor homofóbico em suas redes sociais.
"A discriminação é nítida e direta, porque decorrente da intenção explícita de humilhar e constranger toda a população LGBTQIA+, causando prejuízo no exercício adequado do direito fundamental à cidadania e risco aumentado de violência por discursos como este", afirma o grupo.
Ao órgão, pedem que seja aberta uma ação penal pública contra Maurício por incitação do preconceito e discriminação homotransfóbica. Também são solicitadas uma indenização por dano moral coletivo a partir de R$ 50 mil e a exclusão de publicações homofóbicas das redes do jogador.