Nesta quarta-feira (21), a Libertadores voltará a ter público em uma partida no Brasil. Com a liberação da Conmebol para a presença de torcedores nos estádios e a autorização do governo do Distrito Federal, o Flamengo mandará o seu jogo contra o Defensa y Justicia, às 21h30min, pela volta das oitavas de final, no Mané Garrincha, com a presença de até 18 mil pessoas (25% da capacidade total do estádio).
Há uma série de protocolos que deverão ser seguidos, como um teste PCR negativo para a covid-19 feito até 48h antes da partida ou com a imunização completa até 15 dias antes do jogo. Também há proibição para menores de 18 anos e grávidas, além do distanciamento entre os torcedores nas arquibancadas (é permitido o agrupamento de no máximo seis pessoas) e o uso de máscaras.
Esse será um dos primeiros jogos oficiais no Brasil com a presença de público após a paralisação das competições, em março do ano passado. E o com a maior torcida, devido ao percentual liberado e a capacidade do estádio. Antes, duas partidas chamaram atenção pela liberação de torcedores nas arquibancadas: a final da Libertadores e a decisão da Copa América, as duas neste ano.
No torneio entre clubes, em janeiro, foram 2,5 mil convidados de Palmeiras e Santos no Maracanã. Todos os presentes ficaram no setor oeste inferior, o que gerou aglomeração. Mesmo com a obrigatoriedade do uso de máscaras e distanciamento, poucas pessoas cumpriram as determinações.
Na decisão da Copa América, entre Brasil e Argentina, a prefeitura do Rio de Janeiro liberou 10% da capacidade total do Maracanã, o equivalente a 7,8 mil torcedores. Foi exigido que as pessoas apresentassem testes negativos de até 48 horas e utilizassem máscaras no estádio, o que não foi seguido à risca.
— Temos observado uma diminuição, mas ainda temos números importantes de casos de covid-19. O número de vacinados ainda é muito baixo. Então, a gente acha muito prematuro abrir essa possibilidade de volta do público aos estádios nesse momento. Temos que ter mais segurança em termos de proteção das pessoas antes de abrir essa possibilidade — avalia Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Cunha cita ainda o exemplo de países da Europa e os Estados Unidos. Os países flexibilizaram muitas regras e o número de casos aumentou. Mesmo na Inglaterra, que tinha cerca de 80% da população vacinada com a primeira dose e 50% com as duas aplicações do imunizante quando começou a Eurocopa, teve uma piora nos índices. Em 6 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que os casos de covid-19 no continente europeu subiram cerca de 10% durante o torneio, após mais de 10 semanas de queda nos números.
— No Reino Unido, inclusive, foi criticada pelos cientistas essa presença de públicos nos estádios pelo que está acontecendo lá. Mesma coisa nos Estados Unidos, que estão com restrições abrandadas e se observa um aumento no número de casos — relatou o médico.
Hoje, o Brasil tem 44% da população vacinada com a primeira dose, mas apenas 16% está com a imunização completa. O número de novos casos de covid-19 por dia segue acima de 15 mil, sendo mais de 600 mortes, na média móvel, a cada 24 horas.
Confira quando, com quantas pessoas e com quais regras alguns países autorizaram a volta de público aos estádios:
França
Um amistoso foi o primeiro jogo com público entre os países das principais ligas da Europa. Em 12 de julho de 2020, o Paris Saint-Germain de Neymar venceu o Le Havre, clube da segunda divisão, por 9 a 0, no Stade Océane, na região da Normandia, na França. O estádio tem capacidade para 25 mil pessoas e recebeu 5 mil torcedores (20%), que foi o limite autorizado pelo governo francês. Entre as regras, todos foram obrigados a usar máscara e respeitar distanciamento de duas cadeiras entre cada grupo, que poderia ter no máximo quatro pessoas. Naquele momento, a França havia registrado 24 novas mortes nas 24 horas anteriores ao jogo. Porém, não havia vacinação ainda no país.
O governo francês, assim como vários outros, revogou a liberação de público nos estádios em novembro, com o aumento no número de casos de covid-19. A volta dos torcedores aos campos ocorreu novamente apenas em junho deste ano, para um amistoso entre França e Bulgária, no Stade de France, em Paris. Cerca de 5 mil pessoas acompanharam ao jogo no estádio, que tem capacidade para 80 mil pessoas. Na época, o país tinha cerca de 40% da população vacinada com a primeira dose, e apenas 19% com a imunização completa. O número de mortes por covid-19 era de nove pessoas a cada 24 horas.
Espanha
A Espanha teve o primeiro jogo com a presença de público pouco tempo depois da França. A vitória por 1 a 0 do Tamaraceite sobre o Marino, pela terceira divisão espanhola, em 18 de julho do ano passado, registrou cerca de 300 pessoas no pequeno estádio El Municipal de La Frontera, com capacidade para até mil pessoas, nas Ilhas Canárias. Para ingressarem no local, os torcedores tiveram de apresentar testes negativos para a covid-19, medir suas temperaturas na entrada — que não poderia ser superior a 37,3°C – e ficar de máscara. Pelo tamanho do estádio, não havia normas de distanciamento. Naquele momento, ainda não havia vacinados no país.
Nos grandes centros esportivos da Espanha, porém, o público demorou a voltar aos estádios. Apenas em maio deste ano, La Liga autorizou a volta dos torcedores aos campos, com até 30% da capacidade de público. O máximo de pessoas permitida foi de 5 mil, mas apenas algumas regiões do país autorizaram a volta da torcida. No início de maio, apenas 26% da população espanhola havia tomado a primeira dose da vacina, e pouco mais de 10% da população estava totalmente imunizada. Naquele início de mês, a média de casos por dia era de pouco mais de mil no país, com 12 mortes a cada 24 horas.
Inglaterra
O amistoso entre Brighton e Chelsea, no Falmer Stadium, casa do Brighton, foi o primeiro jogo com público na Inglaterra desde o início da pandemia, em 29 de agosto de 2020. Foram liberadas 2,5 mil pessoas no estádio, que tem capacidade para pouco mais de 30 mil espectadores. As pessoas tinham de usar máscaras — embora muitas tenham tirado dentro do estádio, desrespeitando as normas — e passavam por checagens de temperatura. Todos tinham de ficar nos assentos marcados, com distanciamento de ao menos uma cadeira para o lado ou para frente. Essa partida fez parte de uma série de eventos-teste realizados pelo governo britânico. Na época, as mortes por covid-19 haviam diminuído no país, chegando a menos de duas por dia no fim de agosto, ainda que não tivessem vacinas disponíveis.
Diversos jogos com um percentual de pessoas nos estádios foram liberados neste período e o número de casos e, especialmente, de mortes por coronavírus cresceu no fim do ano passado. No início de dezembro, já eram mais de 50 mortes por dia. Assim, o governo vetou a presença de público em grandes eventos.
Apenas neste ano o país voltou a liberar torcedores nos estádios. Foram feitos eventos-teste em Wembley, como na semifinal e na final da Copa da Liga Inglesa, no fim de abril, com 4 e 10 mil pessoas, respectivamente, em cada partida. A capacidade do estádio é de 90 mil pessoas.
Na Eurocopa, em junho, foi liberada 25% da capacidade total do estádio, que sediou a final do torneio. Só poderiam ingressar no local pessoas com as duas doses da vacina ou que apresentassem um teste negativo para a covid-19 de até 48 horas antes. Na semifinal e na final do torneio, os portões do templo do futebol inglês foram abertos para 60 mil pessoas (75% da capacidade total).
No mês passado, quase 80% da população local já havia tomado a primeira dose, enquanto pouco mais de 50% havia completado o processo de imunização.
Itália
Uma série de jogos amistosos em setembro do ano passado marcou a volta dos torcedores aos estádios na Itália, após o ministro do Esporte, Vincenzo Spadafora, autorizar a reabertura das partidas de futebol para até mil torcedores, desde que fossem respeitadas medidas de segurança sanitária e distanciamento entre as pessoas.
A volta da torcida em um jogo oficial teve como palco o Estádio Ennio Tardini, em Parma, para um duelo do time da casa contra o Napoli, em 20 de setembro. A derrota do Parma por 2 a 0 foi acompanhada de perto por cerca de mil pessoas, todas convidadas pelo clube local. Como ainda não havia nenhum vacinado, o controle era feito apenas medindo a temperatura dos torcedores, obrigando o uso de máscaras e uma distancia mínima de um metro entre cada pessoa nas arquibancadas. Naquele momento, os casos haviam diminuído e a média de mortes por dia era de duas pessoas.
Semanas depois, com o agravamento da pandemia no país, os estádios voltaram a ficar fechados. Somente em 1º de maio deste ano, com os números de casos em queda e a vacinação avançando — 24% da população havia tomado a primeira dose, e 10%, as duas — o país voltou a liberar até mil pessoas nos estádios. Na Eurocopa, porém, foi autorizado até um terço da capacidade de ocupação do Estádio Olímpico de Roma, uma das sedes do evento. Com isso, até 24 mil pessoas puderam assistir aos jogos no local durante o torneio, desde que comprovassem as duas doses da vacina ou um teste negativo de até 48 horas.
Portugal
Em outubro do ano passado, a Federação Portuguesa de Futebol anunciou a liberação para a presença de público nos jogos da seleção portuguesa, que seriam usados como testes para um possível retorno dos torcedores às partidas pelo campeonato local. O primeiro jogo com público no país foi em 7 de outubro, no clássico contra a Espanha, no estádio José Alvalade, em Lisboa. Com capacidade para 50 mil pessoas, foi liberado 5% desse total, para até 2,5 mil torcedores. Ainda não havia ninguém vacinado no país, e o número de mortes por dia por conta do coronavírus era de menos de duas pessoas na média móvel.
Em seguida, com o aumento no número de casos, voltou a ser proibido a presença de público nos estádios. Uma concessão foi feita para a final da Liga dos Campeões da Europa, entre Chelsea a Manchester City, em 29 de maio deste ano. Com menos de 50 casos de covid-19 por 100 mil habitantes, Portugal era o segundo país com a melhor taxa de controle à pandemia no continente.
A liberação para a decisão do principal torneio entre clubes da Europa foi de 16,5 mil pessoas — um terço da capacidade total do Estádio do Dragão, no Porto, que recebeu pouco mais de 14 mil pessoas. Naquele momento no país, a média de mortes por covid-19 era de menos de uma pessoa por dia. Além disso, 37% da população já havia tomado a primeira dose da vacina, embora apenas 18% estivesse com as duas doses. Até agora, ainda se discute a volta do público nos estádios do país. A federação local autorizou um terço da lotação, mas o governo ainda não.
Estados Unidos
Nos EUA, com tantas competições esportivas em diversas modalidades, difícil dizer qual foi o primeiro jogo com público. Porém, o país foi um dos que menos restringiu a presença dos torcedores nos estádios. Desde o início da temporada passada da NFL, em setembro de 2020, a Liga de Futebol Americano dos Estados Unidos, alguns estados liberaram a presença de público. Assim, algumas equipes tinham a possibilidade de contar com o apoio de seus torcedores, com a ocupação máxima de 25% do público.
Em fevereiro deste ano, a NBA abriu a possibilidade para que as franquias decidissem se abririam seus jogos para a torcida, de acordo com as leis de cada Estado. Nova York foi o primeiro Estado a liberar 10% da capacidade de público das arenas. Pessoas com as duas doses das vacinas ou com testes negativos para a covid-19 estariam aptas a estar nos jogos, com a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Em abril, porém, o Texas Rangers recebeu o Toronto Blue Jays pela Major League Baseball (MLB) no primeiro jogo com 100% da capacidade de público no estádio Globe Life Field. Foram pouco mais de 40 mil pessoas liberadas para acesso ao local, com aval do governo do Texas. A única regra para o ingresso no estádio era o uso de máscara, que foi desrespeitado por muitas pessoas. Naquele momento, apenas 20% da população de Dallas, onde fica o estádio dos Rangers, havia recebido as duas doses da vacina contra a covid-19. Além disso, a média móvel de mortes a cada 24 horas no Texas no dia do jogo era de 11 pessoas.