Com a liberação da volta de torcedores a partir das oitavas de final da Libertadores e da Copa Sul-Americana por parte da Conmebol, cresceu no Estado a movimentação para a reabertura dos portões de Arena e Beira-Rio.
Na noite de quarta-feira (14), foi aprovada na Câmara de Vereadores o projeto que autoriza o retorno gradual de público nos estádios da Capital. Mais cedo, a prefeitura submeteu ao gabinete de crise do governo estadual uma proposta para a flexibilização gradual de eventos em Porto Alegre e nos municípios vizinhos.
Autor do texto aprovado na Câmara, o vereador Mauro Pinheiro (PL) destaca que o protocolo prevê uso obrigatório de máscaras, distanciamento de dois metros entre cada pessoa e apresentação da carteirinha comprovando vacinação contra a covid-19. Ele diz ainda que, em conversas com os clubes, ouviu de Grêmio e Inter que a Dupla está pronta para o próximo passo.
— Estive conversando com os presidentes tanto de Grêmio, quanto de Inter e da FGF. Tenho certeza de que estão preparados (para a volta do público). O presidente do Inter (Alessandro Barcellos) me falou que tem todos os protocolos preparados, basta ter a liberação — afirma.
Presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha é contra a volta das torcidas neste momento. Ele aponta que o momento é de conseguir uma diminuição no número de casos de coronavírus, o que possibilitaria um alívio para a rede de saúde.
— Temos observado uma diminuição dos números de covid, mas ainda temos números importantes de casos. O número de vacinados ainda é muito baixo. Então, achamos muito prematuro abrir essa possibilidade de volta do público aos estádios neste momento — opina.
Cunha cita ainda o exemplo de países da Europa e os Estados Unidos. Lá, onde as taxas de vacinação são mais altas, a flexibilização começou mais cedo. A Inglaterra, por exemplo, tinha cerca de 80% da população com a primeira dose do imunizante e 50% com as duas aplicações quando começou a Eurocopa. Em 6 de julho, porém, a OMS informou que os casos de covid-19 no continente subiram em cerca de 10% durante o torneio após mais de 10 semanas de queda nos números.
— No Reino Unido, inclusive, foi criticada pelos cientistas essa presença de públicos nos estádios pelo que está acontecendo lá. Mesma coisa nos Estados Unidos, que estão com restrições abrandadas e têm sido observado um aumento no número de casos — aponta.
Infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do RS (UFRGS), Luciano Goldani aponta outro problema: as aglomerações no entorno dos estádios. Esta questão, aliás, não é tratada no projeto que passou pela Câmara nem proposta de flexibilização enviada pela prefeitura ao governo do Estado. Especialistas temem que não haja controle do lado de fora, mesmo que as pessoas nas arquibancadas estejam vacinadas e com testes PCR negativos.
— O grande problema que eu vejo em abrir os portões não é só a questão do estádio, é tudo o que gera o evento. Os bares que ficam em volta, o transporte público que leva gente até lá — observa.
Do outro lado, Pinheiro defende que é de responsabilidade do poder público fazer o controle neste sentido. Ele acredita que em outros setores isso já acontece sem problemas maiores.
— Tenho certeza de que o município, a Guarda e a Brigada estão preparados para manter a ordem na cidade. Assim como já têm feito a todo momento nas praças e bares. É uma linha que tem se mantido nos demais dias e locais — argumenta o vereador.
Preocupação com nova cepa
Outro temor dos profissionais é que o retorno dos torcedores nas partidas aumente a circulação da variante delta. Cunha aponta os casos de Israel e de outros países europeus que, mesmo com uma cobertura vacinal maior do que o Brasil, estão tendo o retorno da doença após meses de queda nos números.
— Ainda testamos muito pouco essa variante, embora saibamos que já circula por aqui. Então, se os países que têm vacinação mais adiantada do que a nossa estão tendo aumento do número de casos, como temos menos vacinados o risco é ainda maior — alerta.
Goldani corrobora com o pensamento de Juarez Cunha e destaca ainda outros fatores:
— Tu vais fazer com que uma variante circule de maneira mais intensa nessas pessoas que participam de eventos fora dos estádios em bares, no transporte público. Tem uma variante que tu sabes que infecta com muito mais intensidade as pessoas e pode se adaptar mais. Abrir os estádios é um risco de ela ficar mais adaptada em termos de infectividade às pessoas.