Para se manter como referência todo este tempo, e com sucesso absoluto de audiência, o "Sala de Redação" precisou se reinventar. Desde os primeiros anos, quando deixou de ter três horas de duração para se tornar um debate esportivo, até os dias atuais. Para isso, também foi renovando o quadro de integrantes.
— Pessoas me perguntam: qual o melhor Sala de Redação, o atual ou o antigo? E eu respondo: isso é igual ao futebol, não tem melhor e nem pior. Tem diferente — sentencia Lauro Quadros, que integrou a mesa redonda por três décadas.
Uma das alterações mais profundas do programa ocorreu quando Ruy Carlos Ostermann, que mediou os debates desde 1978, deixou o programa e foi substituído "interinamente" por Lauro. Até que, em abril de 2012, Pedro Ernesto Denardin assumiu a cadeira em definitivo.
— Eu tive que substituir o Ruy, que era considerado por muitos o melhor comentarista do Brasil. O "Professor" dava autógrafos. Era, realmente, uma pessoa diferenciada dentro do jornalismo. Mas aí entra uma questão pessoal para mim. Como narrador da Gaúcha, eu também substituí o Armindo Antônio Ranzolin, um tipo mais sóbrio, falava como doutor. Eu sou completamente diferente. Então, tive que botar a minha cara. E a minha cara não é a do Ruy e nem a do Ranzolin. Graças a Deus, tem dado certo. Tomara que siga assim — diz ele.
No entorno do apresentador, os rostos também foram mudando pouco a pouco. Entre os representantes da dupla Gre-Nal, passaram nomes do calibre de Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, e Fernando Carvalho, ex-presidentes de Grêmio e Inter, respectivamente. Também foram escolhidos artistas conhecidos do público gaúcho, como João de Almeida Neto e Zé Victor Castiel. Por fim, com as últimas mudanças, o comunicador Duda Garbi e o músico Rafael Malenotti deram lugar a Alex Bagé e Luciano Potter, mantendo a tradição de debatedores identificados.
Qual o melhor Sala de Redação? Isso é igual ao futebol. Não tem melhor e nem pior, tem diferente
LAURO QUADROS
ex-integrante
— Meu estilo é mais debochado, mais leve em lidar com o futebol. Isso não quer dizer que um dia eu não vá ficar bravo no programa. Mas o que me acalenta é que eu não preciso ser o Ibsen Pinheiro ou o Kenny Braga. Eles tiveram os seus estilos e as suas inteligências. Não sei se tenho inteligência, mas tenho o meu estilo — avalia Potter.
— Eu continuo sendo primeiro jornalista para depois ser gremista. Então, não me sinto representante da torcida do Grêmio. Mas, no Sala, tem esse peso por causa da figura eternizada pelo Sant'Ana. Tem essa importância e responsabilidade — completa Bagé.
Nova geração e presença feminina
Na última década, o programa também se abriu para a presença feminina, quando teve Kelly Matos e Eduarda Streb como integrantes.
— Independentemente de serem gremistas ou coloradas, várias mulheres me procuravam para dizer que se sentiam representadas por mim, porque eu mostrava que mulher também entende de futebol. Quando eu deixei o Sala, tendo que escolher se faria política ou futebol, ficava pensando como ficariam estas mulheres. Mas a porta nunca mais se fechou. Depois, vieram a Amanda Munhoz, a Duda Streb, e nós ainda fizemos o "Saia de Redação", que fazia brincadeiras com os jogadores e foi um sucesso também. Então, foi muito especial — conta Kelly, que foi a primeira mulher a integrar o programa.
Da mesma forma, jornalistas que construíram suas carreiras dentro da empresa foram guindados à condição de integrantes oficiais do programa.
— O Sala era uma espécie de Copa do Mundo a ser conquistada. Quando fui convidado para ser um participante diário, foi como ser campeão da minha Copa do Mundo, a Copa do Mundo do jornalismo e do meu sonho — atesta o comentarista Mauricio Saraiva.
— Entendi o que o Arthur (ex-volante do Grêmio) tinha sentido quando foi para o Barcelona. Jogar no Barcelona é estar entre os melhores, é estar em um clube de ponta, na elite. Eu, que cumpri toda uma trajetória no esporte, estava chegando ao Barcelona do rádio. Isso não é qualquer coisa — opina Leonardo Oliveira.
Além da realização pessoal de cada um, estes profissionais trouxeram consigo a velha relação de quem ouvia o programa na infância e adolescência para, enfim, chegar ao microfone da Rádio Gaúcha.
— Meu pai gostava muito de rádio, dormia escutando. Quando eu entrei oficialmente no Sala, ele já havia morrido. Escrevi a vida inteira na Zero Hora, o que é super importante, mas tenho certeza que, como era o ambiente lúdico do meu pai, a simbologia de orgulho do filho seria ele me ouvir no Sala de Redação. Então, é um dia que não existiu, mas fico imaginando como ele se sentiria — conta Diogo Olivier.
Se a gente pudesse colocar o aniversário de 50 anos na Praça da Alfândega, uma multidão estaria ali
PEDRO ERNESTO DENARDIN
atual apresentador
Ironicamente, o Sala chega aos 50 anos em um cenário em que até mesmo a sua mesa se tornou virtual. Por conta da pandemia, desde março de 2020, cada integrante participa dos debates conectado de sua própria casa, e não mais no estúdio.
— Hoje nós estamos impedidos de levar uma multidão a qualquer lugar porque estamos impedidos de fazer aglomeração. Mas se a gente pudesse colocar o aniversário de 50 anos na Praça da Alfândega, uma multidão estaria ali. O Sala de Redação é um fenômeno — atesta Pedro Ernesto Denardin, atual apresentador do programa.
E assim, o Sala segue a sua trajetória, abraçando novas gerações de comunicadores e de ouvintes, sejam eles homens ou mulheres, gremistas ou colorados, sintonizados no rádio ou conectados via internet.