João Milgarejo, único sobrevivente do trágico acidente que vitimou nove pessoas há dois meses, chamou a atenção por ter sofrido apenas ferimentos leves.
Deitado na última fileira da van, o atleta teve pequenas escoriações e uma lesão nas costas. Foi hospitalizado, recebeu alta poucas horas depois e retomou os treinamentos em novembro.
O nosso projeto só teve visibilidade por causa do acidente, porque antes não tinha nada disso
JOÃO MILGAREJO
Atleta do Projeto Remar para o Futuro
Considerado uma promessa do remo brasileiro, conquistou em São Paulo, na competição que antecedeu o acidente com a van do Projeto Remar para o Futuro, o ouro na categoria four skiff masculino, com os companheiros Samuel Benites, Henry Fontoura e João Kerchiner, todos mortos no acidente.
João ficou profundamente abalado psicologicamente e evita voltar à sede onde treinou com os colegas em Pelotas. Após uma homenagem recebida do Flamengo, no Rio de Janeiro, João foi convidado a passar um período de treinamentos na equipe carioca, onde treinou até quinta-feira (19). Acompanhado de uma amiga e com suporte psicológico, ainda tenta processar o que aconteceu.
— É inacreditável. A ficha ainda não caiu. Eu não me sinto bem ao estar treinando no Projeto e não ver meus companheiros ali. Sinto que tudo desmorona, como se eu nunca fosse me reerguer. Estar no Rio de Janeiro me ajudou muito, mas toda vez que eu remo, lembro deles, e a saudade aperta — conta, emocionado, o atleta.
Treino na Itália
Filho da técnica de enfermagem Graciele Milgarejo, João perdeu o pai ainda na infância. Com a vida marcada pelo luto desde cedo, o atleta passou a receber ainda mais atenção e carinho da família após sobreviver à tragédia.
No início de dezembro, recebeu um convite para participar de um período de treinamentos na Itália. A convocação foi feita pela Sociedade Armida, em Turim, uma das maiores equipes náuticas da Europa. Os treinamentos ocorrerão entre 17 de janeiro e 17 de fevereiro, e o treinador pelotense Davi Rubira viajará com João para acompanhá-lo durante esse período.
— Tenho um sentimento bom e ruim ao mesmo tempo. O bom é que vai ser uma experiência nova, treinar e conhecer um novo país. A parte ruim é que tudo isso veio depois do acidente, né? Se não tivesse acontecido nada desse acidente, nada disso estaria acontecendo. O nosso projeto só teve visibilidade por causa do acidente, porque antes não tinha nada disso — lamentou o atleta.