As histórias do "Sala de Redação" e da Rádio Gaúcha estão entrelaçadas. Conforme o programa se consolidava, conquistando novos ouvintes, a emissora assumia a liderança de audiência no Estado. A partir da retomada das transmissões de futebol, a equipe de esportes também passou a ganhar reforços de peso. Em 1978, o comentarista Ruy Carlos Ostermann foi buscado na principal concorrente e começou a dividir a apresentação do programa com seu grande criador.
A primeira parte, voltada ao jornalismo geral, ficou a cargo de Cândido Norberto, enquanto os debates futebolísticos ganharam a mediação do “professor”, que também assumiu a chefia da editoria. Foi o desmembramento do programa como se conhece atualmente.
— O Sala marcou muito a minha vida. Eu era um jovem estudante, que trabalhou em jornal e teve essa oportunidade. E nesse momento se transforma tudo. O Sala é, para mim, a revelação pessoal e profissional. É um programa ricamente humano e a consequência disso influenciou na minha personalidade — comenta o próprio Ruy.
Obviamente, Ruy não foi a única novidade entre os integrantes. Com o passar dos anos, jornalistas notáveis, como João Carlos Belmonte, Lauro Quadros e Wianey Carlet, entre outros, passaram a compor a mesa redonda. Ainda assim, os holofotes, inevitavelmente, caíam sobre os representantes da dupla Gre-Nal e seus embates memoráveis.
— Eu sou bem honesto e sincero em lembrar que, desde a minha época de dirigente, gostava de dar uma provocada, sempre em alto nível, sempre respeitando o torcedor do Inter. Mas, como eu tinha do outro lado do programa o Kenny Braga, que era muito fácil de provocar, ele ficava furioso, ele entrava direto nas provocações. Tenho muita saudade de trabalhar com o Kenny e os outros companheiros — suspira Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, que passou a integrar o programa depois de presidir o Grêmio.
— Um debate muito acirrado, mas um debate do bem, era Kenny Braga e Paulo Sant'Ana. Ou lá atrás, Cid Pinheiro Cabral, pelo lado colorado, e Oswaldo Rolla, o Foguinho, pelo Grêmio. Era e é até hoje o tempero do Sala de Redação. E muitas vezes, quando estava para pintar um mau humor e um conflito até carnal, o meu bom humor, modéstia à parte, descontraía o ambiente e isso era positivo — recorda Lauro.
Entretanto, nem sempre os bate-bocas se davam entre gremistas e colorados. Uma das confusões mais lembradas, por exemplo, envolveu o então presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) nos anos 1970, Rubens Hoffmeister.
— Ele era muito criticado pelo Ibsen. Na metade de um programa, ele chegou no estúdio e disse: “Vim aqui para tomar satisfações e bater em ti”. Foram até a escadaria engalfinhados, trocando socos. Aquilo foi um momento tenso — conta Brito.
O dia que eu não gostaria que tivesse acontecido é o dia de maior repercussão do Sala: a briga do David Coimbra com o Sant’Ana
PEDRO ERNESTO DENARDIN
atual apresentador
Outro episódio marcante se deu décadas depois, quando a bancada já havia sofrido inúmeras modificações em relação ao seu quadro original.
— O dia que eu não gostaria que tivesse acontecido é o dia de maior repercussão do Sala: a briga do David Coimbra com o Sant’Ana. Eles discutiram, o Cacalo entrou no meio, o Guerrinha também. Esse, para mim, foi o pior dia — opina Pedro Ernesto Denardin que, em 2012, assumiu o comando do programa no lugar de Ruy Carlos Ostermann.
— Eu me irritei mesmo, e fiz algo que não devia ter feito, que foi chutar uma cadeira. O Sant’Ana se assustou e levantou a bengala. O Cacalo gritou: “Calma! Calma!”. E o Pedro encerrou o programa. Admito que o fato de eu ter ficado bravo fez a diferença, porque tinham outras brigas, mas não alguém num nível de fúria que eu estava. Foi uma briga feia — conta David.
Convidados famosos
Mas nem só de altercações se construiu a história do Sala de Redação. O sucesso do programa fez com que o formato do debate fosse copiado em outros lugares do país, atraindo a atenção de ouvintes famosos.
— Personagens importantes da cultura brasileira, quando vinham a Porto Alegre, faziam questão de participar do Sala. O Chico Anysio, por exemplo, era fã do programa e dizia: “Quem não aprecia o Sala de Redação, não merece respeito”. Imagina só — conta Kenny Braga.
O Chico Anysio era fã do programa e dizia: “Quem não aprecia o Sala de Redação, não merece respeito”
KENNY BRAGA
ex-integrante
Passaram pelo estúdio da Rádio Gaúcha inúmeros jogadores, treinadores da dupla Gre-Nal e da Seleção Brasileira, como os campeões mundiais Zagallo e Carlos Alberto Parreira, além de personalidades, como o humorista Ary Toledo, o apresentador Faustão, o músico Gonzaguinha, ou as cantoras Elza Soares e Alcione — que cantou no aniversário de 20 anos do programa, na Praça da Alfândega.
Aliás, outro ponto alto do Sala de Redação estava justamente aí, quando o programa saía do estúdio, atraindo multidões consigo.
— Viajamos para Livramento, Santa Maria, Caxias do Sul... E ali tu tinhas uma ideia melhor do que representava para as pessoas. Hoje não tem acontecido pela pandemia. Tomara que volte a se repetir — recorda Guerrinha.
E assim o Sala foi angariando ouvintes por todos os cantos, anônimos ou famosos.