As investigações sobre a morte de Diego Armando Maradona tiveram um novo capítulo nessa segunda-feira (14). O enfermeiro Ricardo Omar Almirón, cuidador noturno do ex-jogador e uma das últimas pessoas a ver o ídolo Diego Maradona com vida, disse em depoimento ao Ministério Público (MP), que tinha ordens para não acordar o craque argentino e que atendeu Maradona como alguém com problemas psiquiátricos, sem nunca ter sido notificado de suas cardiopatias. O MP suspeita de que ele mentiu, ao afirmar que o ex-capitão da seleção argentina dormia e respirava normalmente poucas horas antes de sua morte, quando a necropsia revelou que ele agonizava. O enfermeiro manteve a versão nesta segunda-feira.
O acusado permaneceu sete horas no MP de San Isidro, arredores de Buenos Aires, junto com seu advogado, Franco Chiarelli. Durante seu depoimento, explicou qual era sua tarefa na última internação domiciliar do craque.
— Meu cliente sempre tratou Maradona como um paciente com uma complexidade psiquiátrica, uma questão ligada à abstinência, mas nunca lhe entregaram um diagnóstico de qualquer questão ligada a cardiopatia — afirmou Chiarelli à imprensa ao deixar o Ministério Público.
Diante dos promotores, Almirón insistiu em que, embora "tivesse ordem para não acordá-lo", conseguiu constatar que Maradona estava vivo e apresentava sinais vitais antes das sete da manhã do dia 25 de novembro de 2020, quando trocou de turno com outra enfermeira, cerca de cinco horas antes dele ser encontrado morto na cama, contou o advogado.
— Foi indicado por seus superiores que não incomodasse o paciente (Maradona). Meu cliente teve a sabedoria de poder cumprir sua tarefa sem que o paciente se sentisse invadido, que era algo com que teve que lidar por todo o tempo que esteve lá — ressaltou o advogado.
O enfermeiro foi o primeiro a depor ao Ministério Público de um grupo de sete pessoas, que inclui também o médico e a psiquiatra do falecido. Todos podem responder por "homicídio simples com dolo eventual".
Maradona faleceu em 25 de novembro de 2020 de uma crise cardiorrespiratória, aos 60 anos. Ele estava sozinho em seu leito em uma residência do bairro privado San Andrés, ao norte de Buenos Aires, onde convalescia de uma neurocirurgia e de outras enfermidades.
Os promotores se recusaram a classificar a morte como "fato culposo, ou involuntário", o que implicaria "negligência, ou imprudência", mas a classificaram como "dolo eventual", ao detectar "falsificações" nos relatórios sobre o estado de saúde do ex-jogador.
A acusação considera que os médicos e os cuidadores não cumpriram seu dever para com Maradona, "conscientes de sua delicada situação e com conhecimento de que, muito provavelmente, tal omissão levaria ao desfecho fatal que finalmente ocorreu". A pena é de 8 a 25 anos de prisão.
Antes do início da audiência, Jana Maradona, uma das filhas do craque, dirigiu-se ao Ministério Público de San Isidro, mas não deu declarações.
As acusações foram feitas após um duro relatório de uma junta de 20 peritos, segundo o qual o tratamento de saúde aplicado foi "inadequado, deficiente e temerário" e que Maradona "foi abandonado à própria sorte".
Os suspeitos podem se recusar a depor. O juiz do caso decidirá, para cada um, se determinará o arquivamento, ou o prosseguimento do processo. Nesta situação, haverá um julgamento oral que poderá levar meses, ou anos.
Os próximos depoimentos, na quarta-feira (16), serão os da enfermeira Dahiana Gisella Madrid e do coordenador Mariano Ariel Perroni, funcionários de uma empresa contratada para cuidar do ex-campeão mundial na Copa do Mundo de 1986.
As audiências serão concluídas em 28 de junho, data em que será ouvido um dos principais acusados, o neurocirurgião Leopoldo Luque. Os demais suspeitos são a coordenadora de internação domiciliar Nancy Edith Forlini, o psicólogo Carlos Ángel Díaz e a psiquiatra Agustina Cosachov.