Diego Armando Maradona Franco foi um homem de passagens rápidas e históricas. Foi assim na primeira experiência pelo Boca Juniors, em que ficou apenas cerca de um ano e virou ídolo absoluto. Foi assim no Barcelona, em que jogou apenas de 1982 a 1984, mas fez história.
E foi assim na vida. Aos 60 anos, o eterno ídolo argentino partiu nesta quarta-feira (25), após sofrer uma parada cardíaca na cidade de Tigre, na Província de Buenos Aires, onde se recuperava de uma cirurgia no cérebro. Na história, deixa seu nome escrito como um dos maiores de todos os tempos — e um inesquecível título mundial em 1986.
A história do ídolo
A discussão sobre o melhor de todos os tempos sempre haverá no futebol, como em qualquer esporte. Mas certamente qualquer lista terá Maradona. Se pelos feitos em campo o debate será eterno, a idolatria que Maradona alcançou, talvez, seja indiscutível. Por sua personalidade, que lhe atrapalhou em vários momentos ao longo dos 60 anos de vida, Don Diego despertou paixão e admiração de fãs que poucos alcançaram.
Diego Maradona nasceu em 30 de outubro de 1960. Quinto dos oito filhos do casal Don Diego e Dalma Salvadora Franco, a Dona Tota, viveu a infância em Villa Fiorito, na periferia de Buenos Aires. O talento para o futebol apareceu cedo, e ainda criança despertou interesse dos clubes da cidade. Foi pelo Argentinos Juniors que estreou profissionalmente, com apenas 15 anos, em 20 de outubro de 1976, mas já era conhecido dos torcedores desde muito antes por ser o menino de rara habilidade que brincava com a bola no intervalo dos jogos no estádio que atualmente leva seu nome.
Maradona elevou o patamar do Argentinos Juniors e fez o pequeno time de Buenos Aires brigar com os grandes. Ainda que tenha sido cinco vezes artilheiro do Campeonato Argentino, não conseguiu levar a equipe ao então inédito título nacional. No final de 1980, ele já despertava interesse do futebol europeu, mas optou por transferir-se para o Boca Juniors para realizar o sonho de jogar no clube do coração, mostrando, aos 20 anos, a personalidade que lhe marcaria nas décadas seguintes.
No Boca, Maradona foi campeão nacional e acabou vendido ao Barcelona em 1982. Sua chegada à Espanha foi cercada de euforia, mas ele passou no país europeu um período difícil de sua vida. Em dois anos, não chegou a jogar uma temporada completa. Sofreu ao contrair hepatite e também uma grave fratura na perna, causada por uma entrada violenta do defensor do Athletic Bilbao Andoni Goikoetxea. O período longe dos gramados levou Maradona a profundas crises emocionais que o fizeram iniciar o uso de cocaína, conforme revelado por ele no livro Yo Soy El Diego de La Gente, publicado em 2000.
— Eu sempre soube tudo o que aconteceria na minha vida. Sabia que jogaria na primeira divisão, que compraria uma casa para os meus pais, jogaria na seleção argentina, que seria campeão pela Argentina. Disse tudo isso quando era criança, está gravado. O que não sabia era que usaria cocaína — lamentou Maradona em documentário produzido pelo cineasta e músico sérvio Emir Kusturica, lançado em 2008.
Maradona deixou Barcelona para jogar no Napoli em 1984. Muita gente não entendeu como o então melhor jogador no mundo foi para um clube que não era um dos grandes da Itália. O Napoli pagou US$ 10 milhões para comprar seu passe, um valor recorde na época.
Antes de levar o Napoli à glória, Maradona viveu seu maior momento na Copa de Mundo de 1986, no México, quando conduziu a Argentina ao bicampeonato com uma atuação que até hoje é considerada por muitos a maior da história dos mundiais. Além da genialidade demonstrada no "gol do século", contra a Inglaterra, nas quartas de final, ou do passe certeiro para Jorge Burruchaga fazer o gol do título na final contra a Alemanha, os números de Maradona naquela Copa foram assombrosos. Autor de cinco gols e cinco assistências, ele teve participação direta em 10 dos 14 gols marcados (71%) pela Argentina em território mexicano.
De volta à Itália, Maradona cumpriu a missão de levar o Napoli ao título italiano na temporada 1986/87, quando também conquistou a Copa Itália. O clube ainda foi campeão da Copa Uefa de 1989 antes de voltar a levar o Scudetto em 1990,ano em que também ganhou a Supercopa da Itália. Foram os anos de maior glória do Napoli, que desde então não voltou a ser campeão nacional.
Em 1990, também na Itália, Maradona chegou à segunda final de Copa do Mundo, mas acabou derrotado pela Alemanha na decisão. Sua trajetória no país teve fim em 1991, quando ele foi flagrado pela primeira vez no exame antidoping e suspenso pela Fifa.
Maradona chegou a fazer uma recuperação inesperada para chegar em forma na Copa do Mundo de 1994, quando estreou fazendo um golaço contra a Grécia e dando o passe para o amigo Caniggia garantir a vitória diante da Nigéria na segunda rodada. Após o jogo contra a seleção africana, foi flagrado no antidoping e excluído do torneio pela Fifa outra vez. Diego ainda retornou ao seu Boca Juniors em 1995, mas teve apenas lampejos de genialidade, sem voltar a atuar em alto nível com regularidade até a aposentadoria, em outubro de 1997.
Problemas de saúde
O fim da carreira de jogador deixou Maradona ainda mais exposto ao vício em cocaína. Em janeiro de 2000, o ex-craque teve uma overdose em Punta del Este, no Uruguai. Ele ficou internado em um quadro crítico. Em 2004, Maradona, já longe da forma física dos tempos como atleta, foi internado em Buenos Aires com complicações cardíacas.
Depois disso, passou por um tratamento em Cuba para se curar do vício. Maradona voltou a aparecer publicamente 40 quilos mais magro – em razão de uma cirurgia para redução de estômago – e mostrou-se recuperado, inclusive tornando-se apresentador de um programa na TV argentina. Em 2010, ele foi o treinador da seleção do seu país na Copa do Mundo, novamente apresentando uma melhor saúde.
Nos últimos tempos, Maradona encarou a carreira de treinador com maior seriedade. Trabalhou no Al-Wasl, dos Emirados Árabes Unidos, e no Dorados, do México, antes de retornar à Argentina para treinar o Gimnasia de La Plata, clube que vinha comandando até voltar a ser hospitalizado. Nos últimos anos, Maradona garantia estar livre da cocaína, mas o abuso no uso de bebidas alcoólicas foi apontado como um fator que complicou sua saúde.