Em dois meses, o cenário que se desenhava desolador para o futebol gaúcho deu lugar a um horizonte de renovação de expectativas. No início de setembro, o RS era o único Estado entre os principais do país a não ter mais uma agenda prevista para 2020, tirando empregos e esperanças de quem dedica a vida ao esporte. Isso, claro, sem contar a autoestima das comunidades que ficariam sem seus times por mais tanto tempo. Pois graças a um esforço de clubes e federação, a chegada de novembro traz a única notícia boa possível dentro da realidade da pandemia: o futebol, no RS, voltou.
Com a participação de 11 clubes, a Copa FGF — Taça Ibsen Pinheiro, terá início na próxima semana. A competição movimentará quase todas as regiões do Estado (entre as mais relevantes, com conquistas em algum momento, apenas a Sul não tem representantes), e dará ao vencedor uma vaga na Copa do Brasil de 2021, o que, por si só, equivale a R$ 500 mil, apenas para entrar em campo.
É de olho nessa vaga que agremiações tradicionais, como São José, Santa Cruz, Bagé, Inter-SM, Passo Fundo e Santo Ângelo, e novatas, como Marau, Riopardense, União Harmonia, Novo Horizonte e Nova Prata, decidiram aceitar o convite da Federação para a realização da competição. O Zequinha, aliás, é o favorito, por ser o único que disputa uma competição nacional, a Série C. Mas todos desejam a vaga e não estão só fazendo uma preparação para o próximo ano, cumprindo compromissos já fixados ou mantendo o clube ativo.
— Quando fui procurado, me disseram que vamos brigar por essa vaga na Copa do Brasil — afirmou o goleiro Leonardo Konzen, do Santa Cruz (leia mais na entrevista).
Essa possibilidade de estar presente em uma competição nacional foi o motivador para a confirmação dos clubes e, por consequência, para críticas aos que optaram por não jogar. Basta fazer uma busca nas redes sociais dos torcedores de times ausentes no torneio para tirar uma febre da oportunidade que foi deixada.
Ao mesmo tempo, porém, a competição não permitirá apenas que o clube faça a inscrição, apresente o grupo de jogadores, a comissão técnica, entre em campo e saia jogando. Haverá um protocolo de saúde a ser seguido, que envolve a higienização do estádio e, principalmente, testagem dos integrantes. Uma vez por semana, todos passarão por exames para detectar o coronavírus. Esse investimento será bancado pelos próprios clubes, e alguns fizeram parceria com laboratórios, hospitais, universidades e prefeituras para reduzir os custos. Outro aspecto relevante, ainda mais financeiramente, é que todas as partidas serão disputadas com portões fechados.
Assim, para que os torcedores possam acompanhar seus times, os jogos serão transmitidos pela FGF TV. Emissoras de rádio das cidades envolvidas também poderão mandar para os estádios até três profissionais, e eles também precisarão apresentar testes.
Não haverá limite de inscrição, basta o jogador ter seu nome publicado no BID que estará apto a atuar. Foi flexibilizado também o número de atletas amadores, podendo ter até 10 nessas condições por partida.
— Agradeço aos clubes pelo comprometimento. A FGF sempre manifestou interesse de fazer competições em segurança, analisando o cenário da pandemia, e que parece estar melhorando. É um campeonato regionalizado e, de certa forma, rápido. Isso dá uma satisfação em um momento tão complicado, mas só vou dormir tranquilo quando conseguirmos finalizar as duas competições (Copa Ibsen Pinheiro e o Estadual feminino adulto) — diz o presidente da FGF, Luciano Hocsman.
No fim das contas, a homenagem para Ibsen Pinheiro, personagem histórico gaúcho, ligado ao esporte, à comunicação e à política será cumprida. E o RS deixa de ser o lugar onde o futebol acabou. A partir de quarta-feira, tem bola rolando de novo. E bola rolando, no cenário gaúcho, é sinal de renovação de esperanças.
Regulamento
Os 11 times foram divididos em dois grupos, regionalizados. Como é número ímpar, uma chave ficou com cinco equipes, o que significa que uma folgará a cada rodada.
Os participantes se enfrentarão os adversários do próprio grupo em turno único. Ao final da primeira fase, os dois melhores avançam para os mata-matas.
Nas semifinais, o primeiro do Grupo A enfrentará o segundo do Grupo B, e o primeiro do B enfrentará o vice do A. Serão partidas de ida e volta, e a única vantagem para quem tiver melhor campanha será decidir em casa. Caso haja igualdade nos pontos e nos saldos (não há gol qualificado), pênaltis. O mesmo vale para a final. O campeão está garantido na Copa do Brasil 2021.