Leonardo Konzen apareceu em GZH, em setembro, trabalhando na construção civil. Pintando muros, reformando residências, o jovem de 24 anos se virava para ajudar no sustento da família, composta pela mulher e por uma filha recém-nascida. Era a nova realidade para o homem que, até então, tinha passado a vida defendendo embaixo das traves, rodando o Interior como goleiro. Mesmo naquela época dura, mantinha a esperança de voltar a jogar, de realizar seu sonho, viver do futebol. Há algumas semanas, foi contatado pelo Santa Cruz, rival do Avenida, clube no qual iria disputar a Divisão de Acesso. Acertou seu retorno aos gramados e reacendeu a esperança no futuro da profissão, a partir da Copa Ibsen Pinheiro.
Ele fazia parte do grupo de quase 90% dos jogadores de clubes menores que precisaram encontrar empregos fora do esporte para conseguir sobreviver a um 2020 sem futebol no Rio Grande do Sul. Felizmente para Leonardo, conseguiu se realocar e agora passa os dias treinando no Estádio dos Plátanos, ao lado dos companheiros Fabiano Heves e Guilherme Medina, seus concorrentes pela camisa 1. Foi depois de um treino que o goleiro — e não mais trabalhador da construção civil — atendeu a reportagem.
Como foi o acerto com o Santa Cruz?
O clube resolveu que ia disputar a Copinha, e o técnico, o William Campos, falou que o objetivo era buscar uma vaga na Copa do Brasil. Então eles procuraram atletas, da região e de fora, e eu fui um deles. Aceitei na hora.
E o emprego antigo?
Pedi um tempo na empresa para voltar ao futebol. É uma empresa familiar, de um parente da minha esposa. Ele entendeu de boa, sabe que é meu sonho jogar futebol e que almejo chegar em um time grande.
Na época, disseste que ganhavas mais na construção civil do que no futebol.
É verdade, e continua assim. Diminuiu meu salário, comparando com o que ganhava antes, mas consegui guardar quando estava trabalhando. O principal é que eu gosto de jogar. O futebol é o meu lugar, agradeço a Deus por estar de volta aos gramados. Espero que seja para sempre, enquanto tiver oportunidade e saúde para isso.
Sobre saúde: te preocupa voltar a jogar ainda na pandemia?
Olha, estamos fazendo testes, o meu deu negativo. Antes das partidas também vamos fazer exames. É aquela coisa, enquanto a gente não pega a doença, parece que vai tudo bem. Estamos nos cuidando.
Como está esse retorno?
Tem sido diferente, acho que pelo tempo que ficamos parados. O corpo demora a voltar no ritmo, a gente fica cansado mais rapidamente. Mas é uma sensação ótima. Acho que no final dessas duas semanas de trabalho, vou me sentir mais seguro fisicamente.