O dia 25 de novembro de 2020 ficará marcado de forma triste na história do futebol. Aos 60 anos, o ídolo argentino Diego Armando Maradona sofreu uma parada cardíaca e não resistiu. A morte do craque causou comoção entre personalidades do esporte. Ex-jogador e hoje comentarista, Walter Casagrande Jr. deu um forte relato ao programa Seleção SporTV.
— Eu fiquei muito chocado. Eu sou um dependente químico e quando um dependente químico morre por causa da droga, pela consequência dela, é uma derrota para todos os dependentes químicos. Eu sofri muito por isso na minha vida. Minha família foi a coisa mais importante, que me salvou. Fiquei internado por um ano e sei a dor e a dificuldade que o Maradona deve ter passado — contou.
Casagrande falou sobre o histórico dos dois em relação às drogas e também a respeito das dificuldades encontradas por quem enfrenta esse desafio.
— Risco de morte eu tive várias vezes. E quando recebo uma notícia dessas, de um cara que eu já joguei contra, joguei com o irmão dele e acompanhei todo esse desespero de anos por causa da droga, e ele acaba morrendo, vem a cabeça toda a minha história e vem também a frase de que poderia ser comigo. Foi com ele hoje, mas poderia ser comigo — afirmou.
Na Copa do Mundo em que Maradona assombrou a todos e levou a Argentina ao título mais importante do futebol pela segunda vez, em 1986, Casagrande defendia a Seleção Brasileira. O ex-centroavante lembrou da genialidade do meia dentro das quatro linhas. Ambos foram rivais quando atuaram na Itália:
— Ele foi uma coisa mágica. O jogador do meu time que ia marcar ele no domingo não dormia a semana toda porque ia ser um desespero.
Visivelmente emocionado, Casagrande abordou a perseguição que sofre por ser um dependente químico, mas mostrou força para assumir toda a luta contra o vício e comemorar a sobriedade, que define como a sua "maior loucura".
— O que mais mexe comigo é que eu não acredito que as pessoas ainda não conseguem entender a dependência química como uma doença, que é grave e não tem cura. Muita gente fala que o cara que usa droga é vagabundo, que é só trabalhar que se para de usar. Eu canso de ouvir isso. Canso de ouvir nas redes sociais, quando querem me atacar, que me chamam de viciado e de drogado. Eu fui um viciado e um drogado. Isso eu assumo. E assumo também que sou dependente químico, mas lutei para estar onde estou hoje, sóbrio. A minha maior loucura é a minha sobriedade — destacou.
Ciente da importância de se tratar do tema relacionado à dependência química, Casagrande aproveitou para lamentar a falta de políticas públicas de prevenção às drogas por parte do poder público.
— Eu sofro muito quando vejo que o Estado (governos federais e estaduais) não tem a mínima preocupação com as pessoas que sofrem com isso e não tem a mínima preocupação de prevenir, com as nossas crianças, antes dela trombarem com o fantasma da droga. Também não tem a mínima preocupação em tentar salvar a vida das pessoas em que a droga já dominou. Isso chegou muito forte em mim. É muito chocante. É a morte de um ser humano dependente de drogas. Isso me machuca muito — concluiu.