Por Ivan Pacheco
Diretor médico da Federação Gaúcha de Futebol (FGF)
A prática regular do esporte é um dos fatores que mais impactam em uma melhor qualidade de vida. Com a covid-19, milhões de pessoas foram impedidas de exercitar-se, muitas vezes por medidas sem respaldo da ciência e do pensamento lógico.
Não é lógico impedir a entrada de pessoas em um determinado lugar porque elas têm febre. Dezenas de doenças causam febre e não são infectocontagiosas. As medidas tomadas devem ter um julgamento criterioso para não termos ações desnecessárias.
As restrições não podem se basear na crença de que qualquer proximidade ou contato é caso de contaminação certa. O risco aumenta com a proximidade e a duração de cada contato. Com o contato indireto, a contaminação é improvável. Para que ela aconteça, há também a interferência da temperatura, umidade, vento etc.
Em abril, a média diária de morte no mundo pelo Sars-CoV-2 era a sexta no ranking de doenças infectocontagiosas. Hoje ela é a segunda. Isso mostra que, mesmo com todas as medidas restritivas, houve um progresso da doença.
A área cardiovascular é onde se tem o maior cuidado preventivo nos atletas. Atletas estão longe de compor o grupo de risco para formas graves, ainda mais com medidas protetivas. Os exercícios ao ar livre ocupam a última colocação da categoria baixo risco. O risco em estádios é aumentado quando se considera a rotina de lotação plena sem uso de máscaras.
Também não se pode ignorar que o lazer e a situação econômica possuem influência no estado das pessoas. O estresse é um dos fatores de mortes por infartos e acidentes vasculares. No Brasil, em 2019, 200 mil pessoas morreram devido ao AVC. O esporte e o exercício têm um impacto significativo na diminuição do estresse.
Enfim, segundo os dados disponíveis, a baixa taxa de gravidade entre atletas, o baixíssimo risco em ambientes ao ar livre e a diminuição do contágio com medidas protetivas, não há uma razoabilidade em se proibir as pessoas de praticarem esportes. É muito mais eficaz a conscientização do uso de máscaras em ambientes fechados e a higiene das mãos do que muitas das restrições até agora impostas.
O esporte é saúde. O esporte, mesmo para os fãs, diminui o estresse. E isso é motivo de saúde pública.