A crise econômica que acompanha o avanço do coronavírus atingiu em cheio o esporte, com a paralisação das competições em todo o país desde o início da pandemia, em março. Os efeitos da covid-19 abalaram especialmente o futsal gaúcho, deixando dúvidas sobre o futuro da modalidade que gera em torno de 5 mil empregos diretos em todo o Rio Grande do Sul.
O futsal é exemplo de sucesso no Rio Grande do Sul, estado que coleciona mais troféus na histórias da Liga Nacional, com nove títulos. Soma ainda nove conquistas da Taça Brasil e outras oito do Brasileiro de Seleções Estaduais. O histórico de vitórias ultrapassa as fronteiras do país, com oito taças da Libertadores e seis do Mundial de Clubes. A presença do esporte na rotina dos gaúchos, no entanto, vai além das grandes equipes. Há clubes de futsal sediados em quase um quarto dos municípios do RS e, ao longo dos anos, os jogos e competições se tornaram programa para famílias e grupos de amigos no Interior. Ginásios costumam lotar nos finais de semana em diferentes regiões do Estado.
Desde 2018, a organização do futsal está dividida no RS. Um atrito na eleição da Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS) levou à criação da Liga Gaúcha (LG), uma entidade independente. A principal divisão da LG conta com 12 equipes. ACBF e Atlântico estão nela. Outro representante gaúcho na Liga Nacional, a Assoeva ficou ao lado da FGFS e disputa a Sério Ouro.
Um estudo feito pela Liga Gaúcha mostra o impacto econômico do futsal no Estado. Sem o coronavírus, a expectativa para 2020 era de que a modalidade injetaria R$ 30 milhões na economia entre os setores hoteleiro, de transporte e de alimentação e no pagamento de atletas e funcionários dos clubes.
— O estudo é nossa forma de mostrar o tamanho da nossa modalidade na economia do Estado. É uma contribuição que será fundamental na discussão de qualquer plano para o retorno das atividades nas quadras — afirma o presidente da Liga Gaúcha, Nelson Bavier.
As duas entidades que comandam o futsal já ouviram do governo do Estado que treinos e competições só poderão ocorrer com a realização de testes para covid-19. No momento, a ACBF é a única equipe gaúcha que retomou os treinamentos, em maio. Atlântico e Assoeva têm planos para retornar às atividades ainda em junho. A Liga Gaúcha e a FGFS buscam parceiros para viabilizar as testagens para as pequenas equipes.
Nossa intenção é buscar parceria com um laboratório ou algum patrocinador. Nós, como entidade, não temos como dar esse aporte. Gostaria que fôssemos como uma CBF ou Fifa da vida para poder ajudar os clubes — lamenta Bavier.
O planejamento é de que Liga 1, a divisão de elite da Liga Gaúcha, seja reiniciada em agosto. A dificuldade financeira, porém, torna incerta a retomada da competição nesse prazo. Até mesmo a sua realização em 2020 não está garantida.
— Eu sou otimista por natureza. Acredito que sim (haverá competição), mas ao mesmo tempo, como presidente de uma entidade, temos que ver se será possível. Estamos falando de mais de cinco mil pessoas envolvidas. Não dá para pensar em um retorno com o mínimo de risco — completa.
O início da Série Ouro, a divisão principal da Federação Gaúcha de Futebol de Salão, também está previsto para agosto. A FGFS fez uma parceria com um laboratório para reduzir os gastos dos testes de covid-19. Ainda assim, com os clubes perdendo receitas de bilheterias e patrocinadores, a opção pode ser pela realização de um torneio curto em sede única para diminuir custos com viagens.
— Os clubes não querem começar em agosto com ginásios fechados porque não têm arrecadação. Se for com ginásio fechado, podemos fazer um campeonato sediado — avalia o presidente da FGFS, Ivan Rodrigues.
A FORÇA DO FUTSAL
- A modalidade está presente em 113 dos 497 municípios gaúchos
- Essas cidades respondem por 58% da população do Estado
- Entre atletas e quadro de funcionários, os clubes inscritos nas competições empregam 4.293 pessoas
IMPACTO ECONÔMICO
- Projeção de valores que seriam movimentos em 2020 (antes da pandemia)
- Folha salarial R$ 23 milhões
- Arbitragem R$ 1,3 milhão
- Transporte R$ 3,6 milhões
- Hospedagem R$ 364,5 mil
- Alimentação R$ 1 milhão
Total
R$ 29,3 milhões