A empresária paraguaia Dalia López é, até o momento, a principal peça por trás dos episódios que culminaram na prisão preventiva de Ronaldinho Gaúcho e do seu irmão, Roberto de Assis Moreira, decretada neste sábado (7) pela Justiça do país. Também fazem parte do enredo os brasileiros Wilmondes Sousa Lira, empresário e amigo dos irmãos Assis Moreira, e Nelson Luiz Belotti dos Santos, um dos proprietários do cassino Il Palazzo, em Lambaré, nos arredores da capital Assunção, no Paraguai.
Igualmente detido, Lira prestou depoimento perante o juiz Mirko Valinotti, fornecendo uma versão dos fatos que esclarece as origens da aproximação entre Dalia, Ronaldinho e Assis, além dos projetos que pretendiam desenvolver juntos.
O jornal paraguaio ABC Color menciona que, nas suas declarações em juízo, Lira disse ter iniciado contatos em 2019 com Dalia, tratando de uma possível relação comercial. Atuando como representante dos Assis Moreira, Lira falou com Dalia sobre a ideia de lançar o livro "Crack en la vida" (Craque na Vida), sobre a trajetória de Ronaldinho, e também de uma ação social que consistiria em oferecer assistência médica móvel a pessoas carentes.
Conforme o depoimento, Dalia se interessou pelos projetos e, com o intuito de tocá-los adiante, era necessário abrir uma empresa no país. Surgia, então, a "Brasil Paraguay Inversiones". A empresária teria disponibilizado advogados e contadores para os procedimentos legais.
A esposa de Lira, Paula Regina Oliveira Lira, foi nomeada presidente da companhia recém-criada. Para assumir a condição, ela precisava de documentos paraguaios, os quais teriam sido providenciados por Dalia. Depois, mais tarde, a empresária teria feito o mesmo procedimento para conseguir documentos como passaporte e cédula de identidade para o próprio Lira, Ronaldinho e Assis. Os documentos eram falsos, motivo inicial da prisão do trio na última quarta-feira, dia 4 de março, em Lambaré, no hotel de luxo Yacht y Golf Club. Dalia tem contra si um mandado de prisão expedido, mas ainda não cumprido pela polícia paraguaia.
A partir da abertura da firma, Dalia teria viajado com seu marido Luis Alberto Gauto por mais de uma vez ao Rio de Janeiro e Brasília para conversar sobre a sua Fundação Fraternidade Angelical, que promove ações sociais, tratar de negócios e conhecer Ronaldinho. A empresária e a sua instituição já eram investigadas no Paraguai por suspeita de crimes fiscais, como lavagem de dinheiro e sonegação fiscal.
Na quarta-feira, Ronaldinho e Assis chegaram à capital Assunção e, no aeroporto, foram recepcionados por Lira e Dalia. Na agenda do ex-jogador pelo país, havia diversos compromissos. Na quarta, ele participou de evento beneficente com crianças paraguaias, promovido pela Fundação Fraternidade Angelical, de Dalia. Também estava previsto o lançamento da biografia do ex-jogador, além de aparições em eventos e publicidades relacionadas à inauguração do cassino Il Palazzo.
O empreendimento fica no mesmo hotel em que Ronaldinho, Assis e Lira estavam hospedados. O ex-craque gravou vídeos promocionais para o cassino. Em um primeiro depoimento, Ronaldinho e Assis disseram que estavam no Paraguai a convite do empresário Belotti, brasileiro que é um dos donos do Il Palazzo.
Outro personagem do escândalo envolvendo a família Assis Moreira, Belotti chegou a ser investigado pela Operação Lava-Jato no Brasil por ter feito depósitos na conta do doleiro Alberto Youssef, um dos delatores do esquema. Apesar de ter tido o sigilo quebrado, Belotti não foi denunciado pelo Ministério Público Federal.
Também personagem central da história, Lira é empresário e reside em Brasília. Ele é próximo dos irmãos Assis Moreira e é marcado pela discrição: até o escândalo e prisão no Paraguai, eram exíguos os registros sobre a vida de Wilmondes Sousa Lira.