As autoridades paraguaias já admitem que os ex-jogadores brasileiros Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, e Roberto de Assis Moreira são investigados por envolvimento em lavagem de dinheiro. Dois movimentos recentes escancararam a linha de investigação, que vai muito além da simples falsificação de documentos encontrados com os irmãos (carteira de identidade e passaporte paraguaios, nacionalidade que eles não possuem).
Ronaldinho e Assis estão presos desde sexta-feira (6) em Assunção, capital paraguaia, por ordem do juiz Mirko Valinotti. Eles são formalmente acusados de uso de documento público falsificado, mas agora passam a ser investigados também por lavagem de dinheiro. Estão enclausurados em dependências da Polícia Nacional do Paraguai, de forma preventiva. Já o empresário deles, Wilmondes Souza Lira, foi enviado a uma penitenciária, Tacumbú. Advogados dos três pediram a libertação deles, o que será analisado em breve pela juíza Clara Ruiz Díaz. Os defensores alegam, inclusive, que Assis tem problemas cardíacos que impediriam sua permanência na prisão.
O primeiro indicativo de que os problemas dos irmãos Moreira são muito graves é que a Procuradora-Geral da Fiscalía (Ministério Público) do Paraguai, Sandra Quiñonez, mudou a chefia do caso e colocou as investigações a cargo do fiscal (promotor) Osmar Legal, da unidade de lavagem de dinheiro. Foi ele quem requisitou à Justiça (e conseguiu) a prisão de Ronaldinho e Assis.
O segundo indicativo é que a empresária que contratou Ronaldinho para inaugurar um cassino próximo à capital paraguaia, Dália López, é investigada por lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Dália, que vive no interior do Paraguai, é representante da Fundación Fraternidad Angelical, ONG destinada a dar assistência de saúde a crianças pobres. Ela empresariou a ida dos irmãos Moreira ao Paraguai. Entre outros eventos, eles iriam participar da inauguração do cassino "Il Palazzo", na cidade de Lambaré (próximo a Assunção). A casa de jogos tem mais de 200 máquinas caça-níqueis. Ela pertence, nominalmente, a Nelson Belotti, da empresa NB Entertainment S.A.
Desde setembro passado são investigadas oito empresas com as quais Dália mantém negócios ou é proprietária. Elas são de vários ramos: importadoras de produtos eletrônicos, venda de passagens de transporte, equipamentos e acessórios de informática, móveis de escritório. A Subsecretaria de Estado e Tributación do governo do Paraguai informa a suspeita de que Dália tenha ocultado ganhos de US$ 10 milhões (cerca de R$ 46 milhões) do fisco paraguaio.
A principal empresa da qual Dália é acionista é a importadora Permanent Oriental Holding SA, cujo nome de fantasia é "Permanent Offert". Ela faria negócios no Extremo Oriente, sobretudo com indústrias de Taiwan.
Os defensores de Dália, neste caso, renunciaram sexta-feira e serão substituídos por outros advogados.
Wilmondes Sousa Lira, o brasileiro que negociou a ida de Ronaldinho e Assis ao Paraguai, responsabiliza Dália pela entrega dos documentos falsos (passaportes e identidades paraguaios) aos dois brasileiros. Ele também declarou que mensagens nos celulares, trocadas com a empresária, provam isso. Os telefones foram apreendidos pela Polícia Nacional paraguaia. Wilmondes também está preso.
Passaporte de uma babá
A Polícia Nacional paraguaia também prendeu duas mulheres, em Assunção, que seriam donas dos passaportes cujos números foram usados para confeccionar documentos falsos para Ronaldinho e Assis. Uma delas disse que é babá, pobre e requisitou o passaporte para trabalhar como doméstica na Argentina. Ela declarou que sequer recebeu o documento, pedido por uma amiga.
GaúchaZH contatou dois integrantes do Ministério Público Federal brasileiro, ambos experientes em investigar lavagem de dinheiro. Eles trabalham com a hipótese de que os documentos paraguaios utilizados pelos irmãos Moreira não sejam apenas um "presente" dado pela empresária como "recordação", algo alegado pelos brasileiros presos. Qual, então, o interesse de Ronaldinho e Assis em forjarem nacionalidade paraguaia?
Os dois procuradores relacionaram uma série de vantagens comerciais e financeiras para quem é natural de um país. Em se tornando paraguaios (mesmo que com documentos falsos), os irmãos Moreira poderiam ser sócios majoritários em algum empreendimento vetado a estrangeiros. Teriam interesse em cassinos? É uma das coisas que o Ministério Público paraguaio investiga. Outra possibilidade é que desejassem fazer aplicações financeiras naquele país, sem uso de intermediários (laranjas). Com identidade paraguaia, ficaria mais fácil.
Empresa de Bitcoin investigada
O Ministério Público Federal (MPF) analisa duas representações contra a 18kRonaldinho, uma empresa suspeita de fazer pirâmide financeira, prática proibida pela legislação brasileira. Ela também é alvo de investigação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), entidade que fiscaliza o mercado de investimentos. A 18kRonaldinho, que fez propaganda de Ronaldinho como sócio fundador, promete rendimento de até 2% ao dia a clientes que comprarem pacotes que vão de US$ 30 até US$ 12 mil. Os rendimentos seriam resultantes de operações de "trading e arbitragem" na criptomoeda Bitcoin.
A 18kRonaldinho tem sede em Barueri, na grande São Paulo, mas teria operações feitas nas Bahamas, em Miami e em Hong Kong. Advogados de Ronaldinho disseram que ele rescindiu contrato com a empresa e não deu autorização para negócios com Bitcoin.