No final de semana seguinte ao jogo pelo Novo Hamburgo, contra o Inter, Mané representou o colorado. Mas o colorado de Rio Grande, no sul do Estado, em 6 de julho de 1969. O Riograndense-RG, entidade que completou 110 anos no dia 11, teve em Garrincha o nome ideal para atuar em um amistoso de celebração de sua sexta década de vida.
Atualmente com departamento de futebol profissional fechado, mas em vias de reabrir, o clube notabilizou-se historicamente por promover a inclusão, pela ausência de preconceito e por ser berço de craques como Chinesinho e Scala, ambos com passagens pela Seleção. Nada poderia ser mais Riograndense do que abrir as portas para um outsider — o Garrincha que chegou à Zona Sul, com seus traços indígenas e tendo vivido do céu ao inferno, de fato estava fora de forma, além de enfrentar problemas com a bebida.
Para contar com ele, a direção do clube desembolsou 1,5 mil cruzeiros novos (o equivalente a R$ 25 mil). A estratégia deu certo: de acordo com o jornal Rio Grande, as bilheterias registraram um borderô com mais do que o dobro desse valor. O Estádio Torquato Pontes lotou para ver o confronto com o Brasil-Pel.
Dessa vez, no entanto, não houve treino ou qualquer outro tipo de preparação, nem mesmo Elza Soares. Garrincha, de fato, viajou a Rio Grande para fazer uma partida de exibição. Formou o trio de ataque com Paulo Renato e o centroavante Nico, o maior ídolo da história do clube, goleador do Gauchão de 1967.
— Tínhamos uma grande expectativa. Então, por volta das 13h30min, chega aquele rapaz simpático e cumprimenta todo mundo. Ele está com uma bolsinha pequena, mirradinha.
Tira de dentro uma liga e uma chuteira. Tinham comprado uma para dar a ele, mas não quis. Foi humilde, jogou com o material dele — recorda Nico, que garante lembrar de uma grande jogada de Garrincha, na qual enfileirou dribles, durante a partida.
O jornal Rio Grande não é tão condescendente. A publicação até registra os efusivos aplausos que Mané recebeu antes da partida, mas refere que ele “decepcionou a maioria dos desportistas que estiveram no Torquato Pontes”. As razões: Garrincha só conseguiu jogar um tempo, e, nos 45 minutos, “somente apareceu em três ou quatro lances”. A reportagem detalha: “O craque passou caminhando em campo para não se enregelar, pois o frio reinante era bastante intenso”.
Nem com Mané, nem após sua saída, Riograndense e Brasil saíram do 0 a 0.