O homem na Lua, meio milhão de pessoas em Woodstock, Caetano e Gil exilados e, no Brasil, Roberto Carlos lançando As Curvas da Estrada de Santos. Nixon tomando posse nos EUA; Médici, no Brasil. Em Porto Alegre, a inauguração do Estádio Beira-Rio — em um terreno onde até pouco tempo atrás havia apenas água. Em meio à efervescência de 1969, um fato inusitado teve lugar no Rio Grande do Sul há 50 anos. Mais precisamente no futebol gaúcho. Uma das mais importantes figuras do esporte em todos os tempos, o protagonista do bicampeonato mundial brasileiro na Copa do Chile, o anjo das pernas tortas, a alegria do povo, o Mané vestiu as camisas do Novo Hamburgo e do Riograndense, de Rio Grande, repetindo o que havia feito no ano anterior ao jogar pelo 14 de Julho, de Passo Fundo.
Segundo maior jogador dos anos 1960, atrás apenas de Pelé, Mané Garrincha sofria no final daquela década. Aos 36 anos, fora de forma, pouco instruído, deslumbrado pela fama e acusando sintomas de alcoolismo, o craque vivia também uma penúria financeira. O auge da carreira, vivido poucos anos antes, já havia passado — sem lhe dar grandes quantias de dinheiro. Na biografia Estrela Solitária (Cia. da Letras), o autor Ruy Castro conta que, quando renovava contrato com o Botafogo, o eterno camisa 7 assinava uma folha em branco. Ele não sabia ler. Assim, nunca tomou conhecimento, de fato, do quanto ganhava.
Seja lá quanto fosse, era pouco. Tanto que chegou o fim da década, e Garrincha vivia tempos obscuros. Depois de brilhar no Botafogo e na Seleção, enfrentou dores no joelho e tentou a sorte em outros clubes, sempre com contratos curtos: Corinthians, Red Star (da França), Portuguesa-SP e Flamengo. O Olaria, em 1972, foi seu último time. Por isso, só aparecia no noticiário acompanhando sua mulher, a cantora Elza Soares.
A diva da música brasileira esteve no Rio Grande do Sul na metade de 1969 para uma turnê de uma semana em Porto Alegre. Ele veio junto. A combinação formada pela presença de Garrincha, as necessidades financeiras do craque e a presença de Elza Soares no Estado foi a equação que transformou a visita na inusitada oportunidade. De olho nos cachês a receber, Mané vestiu cores de tradicionais clubes do interior gaúcho. São essas as histórias contadas a seguir.
O Beira-Rio havia sido inaugurado pouco menos de três meses antes. Já tinha recebido Eusébio, Pelé e Figueroa. Faltava Garrincha deixar suas pegadas tortas no gramado. O Teatro Leopoldina havia sido inaugurado pouco menos de seis anos antes. Localizado na esquina da Avenida Independência com a Rua João Telles, tornou-se uma casa tradicional, com um clássico piano de cauda e um andar inferior perfeito para fazer festas luxuosas. Já tinha recebido alguns dos principais artistas brasileiros. Faltava Elza Soares. Na primeira semana de julho, Beira-Rio e Teatro Leopoldina abrigaram as duas celebridades. Com uma diferença: enquanto Elza podia se resguardar e conservar sua voz potente, Garrincha precisava treinar. Segundo as edições daquele período de Zero Hora, ele estava três quilos acima do peso ideal. Leia a matéria completa clicando aqui.
No final de semana seguinte, Mané representou o colorado. Mas o colorado de Rio Grande, no sul do Estado. O Riograndense-RG, entidade que completou 110 anos no dia 11, teve em Garrincha o nome ideal para atuar em um amistoso de celebração de sua sexta década de vida. Atualmente com departamento de futebol profissional fechado, mas em vias de reabrir, o clube notabilizou-se historicamente por promover a inclusão, pela ausência de preconceito e por ser berço de craques como Chinesinho e Scala, ambos com passagens pela Seleção. Nada poderia ser mais Riograndense do que abrir as portas para um outsider — o Garrincha que chegou à Zona Sul, com seus traços indígenas e tendo vivido do céu ao inferno, de fato estava fora de forma, além de enfrentar problemas com a bebida. Leia a matéria completa clicando aqui.
As experiências que tiveram Riograndense e Novo Hamburgo não foram as primeiras de Garrincha com um clube do Rio Grande do Sul. Um ano e quatro meses antes, o 14 de Julho, de Passo Fundo, havia contratado o craque para que ele participasse de um amistoso contra o Atlântico, de Erechim. Era um esquema semelhante ao que seria registrado nos dois jogos do ano seguinte: o craque figuraria como astro maior em uma única partida. Leia a matéria completa clicando aqui.