Enquanto milhares de argentinos ingressavam na Arena do Grêmio para a partida entre Argentina e Catar na tarde de domingo (23), órgãos de segurança gaúchos usavam um sistema inédito no Rio Grande do Sul para identificar torcedores com histórico de violência em estádios: o de reconhecimento facial. Três torcedores argentinos foram impedidos de assistir ao jogo das arquibancadas devido a restrições acumuladas no país vizinho — são os chamados barra bravas.
O sistema de reconhecimento facial conta com dados enviados por diferentes países (inclusive a Argentina) e faz a identificação em tempo real, à medida em que os torcedores vão entrando. A Copa América é o primeiro evento em que ele está sendo usado em estádios gaúchos, em uma parceria entre diferentes órgãos de segurança.
Funciona da seguinte maneira: quando os torcedores estão entrando no estádio, o sistema vai mostrando a compatibilidade entre o rosto desta pessoa e alguém incluído no banco de dados. Quando o percentual de certeza é alto, os policiais abordam o torcedor e o conduzem ao posto policial. Pela checagem do nome, é possível confirmar se a pessoa tem restrições administrativas ou judiciais:
— A abordagem é sempre feita de forma sutil, e não agressiva, porque o reconhecimento facial não dá 100% de certeza. Depende muito do ângulo da câmera. Mas, a partir dela, vamos tendo dicas e podemos abordar o torcedor. A presença de policiais argentinos aqui também é muito importante neste processo — explica o delegado Leonel Carivali, coordenador de planejamento operacional.
Um dos argentinos identificados na tarde deste domingo já tinha tentado assistir a um jogo no Rio de Janeiro e sido deportado. Isso porque, durante a Copa América, os órgãos de controle fronteiriço e de atividades de fiscalização migratória estão instruídos a impedir a entrada no país de pessoa que conste nos sistemas de controle migratório como "membro de torcida envolvida com violência em estádios".
Os outros dois foram detidos inicialmente por conduta inconveniente. Por meio do reconhecimento facial, os agentes identificaram que eles também eram impedidos de entrar em estádios da Argentina. Os três foram levados para o Juizado do Torcedor, que os encaminhou à Delegacia de Imigração da Polícia Federal, onde seria iniciado o procedimento de deportação.
Doze barra bravas impedidos de entrar no RS
Entre quinta-feira (20) e domingo (23), 12 barra bravas foram impedidos pela Polícia Federal de ingressarem no Rio Grande do Sul. Foram oito em Uruguaiana — principal acesso de torcedores —, três em Santana do Livramento e um em São Borja. Em todo o Brasil, foram 20 barrados.
No total, 12.032 argentinos cruzaram a fronteira com o Brasil pelo Rio Grande do Sul neste período, incluindo os que chegaram à Capital pelo Aeroporto Salgado Filho. A Polícia Federal montou uma operação especial nos principais acessos para barrar a entrada de torcedores violentos, impedidos de entrarem em estádios do país vizinho.
O delegado regional da Polícia Federal para a Copa América, Alessandro Maciel Lopes, explica que há diversas formas de entrada no Estado e que os torcedores que já têm restrições buscam pontos mais vulneráveis:
— Eles já têm conhecimento dos impedimentos, mas mesmo assim tentam ingressar. Quando são impedidos, buscam outra maneira, outros pontos. Nós temos uma grande extensão de fronteira seca. Há os pontos onde há afunilamento e todos passam por uma ponte, mas a fronteira com o Uruguai é mais permeável, em Livramento e Rivera — relatou, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade.
A Arena do Grêmio ainda vai receber dois jogos da Copa América. Na próxima quinta-feira (27), O Brasil enfrenta um adversário ainda indefinido, pelas quartas de final. No dia 3 de julho, o estádio gremista vai sediar um jogo de semifinal. O esquema de segurança no Rio Grande do Sul conta com 1,4 mil agentes.