O dia 23 de junho de 2019 ficará marcado na história da Copa América como o domingo em que Porto Alegre foi invadida pela torcida argentina. Milhares de hermanos cruzaram a fronteira para assistir à vitória por 2 a 0 sobre o Catar, na Arena do Grêmio, que garantiu ao time de Lionel Messi um lugar nas quartas de final do torneio.
Ainda que a bola na casa gremista só tenha rolado às 16h, a movimentação argentina na Capital começou cedo. José Pereira, de 36 anos, Renzo Rivero (35), Horácio Rivero (39) e Carlos Rivero (31) encararam nove horas de viagem entre Misiones, no nordeste argentino, e Porto Alegre. Com a manhã livre na cidade, os quatro optaram por conhecer o Beira-Rio, estádio que não conseguiram visitar há cinco anos, na Copa do Mundo de 2014, quando a seleção nacional venceu a Nigéria por 3 a 2.
— Não viemos no Mundial por questões financeiras. A situação econômica do país não ajuda, mas agora conseguimos vir para ver a Argentina — conta Renzo.
Quem também escolheu o Beira-Rio como ponto de visitação antes da partida foi a família Sá. Nascidos no país vizinho, os irmãos Pedro Menezes de Sá (71) e Jair Sá (55), mais Claudio Sá (30), filho de Jair, já viveram no Rio Grande do Sul antes de retornarem à Argentina. No domingo, voltaram ao Estado cheios da característica confiança argentina. Mesmo que o desempenho nas duas rodadas iniciais tenha sido abaixo do esperado – uma derrota e um empate –, o otimismo no time de Messi prevalecia:
— Não estamos jogando bem, mas no mata-mata é diferente, chegaremos mais fortes. Se enfrentarmos o Brasil, será difícil, mas em clássico tudo pode acontecer. Assim como no Gre-Nal ou em River e Boca — defende Claudio, que se diz torcedor de Inter e Boca Juniors.
Claudio, aliás, não era o único com um time predileto na Capital. Pedro viu o Grêmio em campo nos anos 1960, e nunca mais esqueceu:
— Eu vi o Grêmio jogar na Argentina. O time de Alcindo era muito forte, o sentimento que se criou não tem como explicar — recorda o agricultor.
Do outro lado da cidade, a Arena do Grêmio recebeu mais de 41 mil pessoas e registrou o maior público cidade nesta Copa América. A movimentação no Humaitá também começou pela manhã, com mate, festa e, claro, muito otimismo.
— Será goleada de 3 a 0 para a Argentina, dois de Lautaro (Martínez) e um de Messi — previa Miguel Caceres, enrolado em um bandeirão e com o rosto pintado.
Por pouco, a profecia de Miguel não se concretizou. Faltou um gol de Messi, e o segundo de Lautaro Martínez acabou saindo dos pés de Kun Agüero. Nada que importasse se para os milhares argentinos que invadiram Porto Alegre e levaram na bagagem a classificação para a próxima fase.