Tite quer o Arthur do Grêmio na partida de hoje, a segunda do Brasil na Copa América. Diante da Venezuela, às 21h30min, em Salvador, o técnico da Seleção não confirmou, mas deverá ter o retorno do volante do Barcelona, já recuperado da lesão no joelho direito, ao time titular. O treinador já afirmou que deseja ver em campo o desempenho que o jogador teve em azul, preto e branco, não em blaugrana, as cores (em catalão) do clube espanhol.
A declaração tem um significado claro: Tite precisa de um volante protagonista, que marque, controle, passe e chegue à frente. Como Arthur era no Grêmio, entre 2017 e 2018. No Barcelona, até marca, controla e passa, mas pouco finaliza. Os números provam isso: fez seis gols na equipe gaúcha e nenhum na catalã. Deu somente duas assistências no futebol europeu. Tem média de uma finalização a cada quatro partidas e quase um passe para chute por jogo. Falta, mesmo, é pisar na área, bater a gol, participar efetivamente das conclusões. Até porque seu índice de acerto de passes segue próximo a 95%, como nos tempos da Arena.
O próprio Arthur falou sobre essa característica. Em entrevista à CBF, disse:
– Quando comecei a conhecer mais futebol, é o estilo que me encantava, que achava ser o certo, que me chamava a atenção. Por gostar desse estilo de jogo, fui me aperfeiçoando, por isso quando cheguei lá (Espanha) tive uma adaptação mais fácil.
Em um time entrosado como o Barcelona, Arthur basicamente precisa dar sequência às jogadas, prepará-las para os atletas de frente, Messi, Suárez, Dembélé. Como foi definido pelo astro argentino, logo que chegou, uma espécie de Xavi, de toques curtos e aproximação, ditando ritmo. Na Seleção, que tem pouco tempo para se organizar, Tite necessita de uma presença frequente de seu volante. Até por isso a menção ao “Arthur do Grêmio”.
Um dos precursores da nova característica de volante, com participação na construção de jogadas e não só no desarme, estava em campo na equipe mais festejada da história da Seleção. Na Copa de 1970, Clodoaldo deveria carregar o piano para Gerson, Rivelino, Pelé, Tostão e Jairzinho garantirem o espetáculo. Mas o cenário mudou durante a campanha do Tri. Mais especificamente, na semifinal contra o Uruguai. É o próprio Clodoaldo quem descreve:
– Gerson me disse para avançar porque o adversário estava acabando com ele. Daí fui para frente e vi aquelas feras todas. Pensei em ir, mas precisava cuidar atrás. Então apareceu o espaço, abri a bola na esquerda e entrei na área, consegui fazer o gol. Não tinha nem percebido quando recebi um abraço, meio de lado. De repente, entendi. Era o Pelé me abraçando e agradecendo. Entende isso? O Pelé!
Situação assim é o que se espera de Arthur. Clodoaldo afirma ver no jogador do Barcelona uma qualidade acima da média, principalmente de passes, mas diz entender o fato de ele não se soltar tanto na Seleção:
– Avançar, ir para o ataque, é uma coisa de momento. De entender o que acontece no campo. O volante ainda precisa cuidar do setor, fazer coberturas de laterais, ainda mais ofensivos. Quando perceber que é possível ir para a frente, aí vai. Mas é um cara muito bom, controla o jogo.
Tite não quis confirmar Arthur entre os titulares. Repetiu “respeitar o trabalho de todos”, mas que evitaria anunciar a equipe para “não dar armas aos adversários, por se tratar de uma competição”. Evitou até comentar se o time jogaria com um atleta mais avançado, à frente de Casemiro e quase ao lado de Philippe Coutinho, ou se formaria uma dupla.
– Se eu responder isso, vou revelar quem joga – brincou o treinador, que completou: – Na nossa formação do meio-campo temos versatilidade, com características diferentes e combinações diferentes. Isso gera outro tipo de liberdade para outros atletas. Mas Coutinho sempre terá liberdade para criação.
Coutinho livre, Arthur no controle e Casemiro na contenção. O Brasil que tenta garantir vaga antecipada para as quartas de final da Copa América deverá ter esse trio.