A Audiência Nacional da Espanha anunciou nesta quarta-feira (24) a absolvição do ex-presidente do Barcelona, Sandro Rosell, das acusações de crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa em um caso que envolvia a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Rosell era acusado de usar a empresa de marketing esportivo BSM para negociar pela CBF a venda dos direitos de televisão de 24 amistosos da Seleção Brasileira para um grupo da Arábia Saudita. O valor da negociação seria de US$ 30 milhões (R$ 118,5 milhões). O Ministério Público da Espanha afirmava ainda que Rosell e o então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, teriam recebido comissões ilegais na negociação dos direitos de transmissão dos amistosos da Seleção.
Rosell cumpriu 21 meses de prisão preventiva pela acusação e, depois de julgamento realizado entre fevereiro e março deste ano, teve o pedido de prisão por parte do Ministério Público da Espanha diminuído de 11 para seis anos. O ex-dirigente estava em liberdade condicional desde fevereiro.
Porém, em decisão anunciada nesta quarta, a primeira seção do tribunal informou que os crimes não foram provados e, neste caso, prevalece o princípio "in dubio pro reo", que significa quem, em caso de dúvida, o réu deve ser considerado inocente.
No acórdão, os magistrados disseram ser "razoável" que a Polícia iniciasse uma investigação sobre Rosell diante das denúncias de recebimento de subornos e de provas de movimentações suspeitas de capitais. As hipóteses de lavagem de dinheiro e organização criminosa também foram consideradas razoáveis, mas eles decidiram que no julgamento a defesa levantou "dúvidas" ao tribunal "que devem ser resolvidas em favor da absolvição".
Relembre o caso
Rosell era acusado de ter ficado irregularmente com 20 milhões de euros (R$ 88,3 milhões) da CBF. Ele era apontado como integrante do esquema iniciado com o repasse de comissões irregulares ao dirigente, por ter intermediado contrato entre a Nike e a CBF, assinado em 2008, e direitos de transmissão de 24 amistosos da Seleção.
Segundo a acusação, os dois acordos foram firmados ainda quando a entidade era dirigida por Ricardo Teixeira. Ao todo, o desvio seria de 14,9 milhões de euros (R$ 65,8 milhões), pelos jogos, e de 5 milhões de euros (R$ 22,1 milhões), pelo acordo com a marca esportiva.
Rosell e a mulher teriam recebido 6,5 milhões de euros (R$ 28,7 milhões) pelos amistosos e, com a colaboração de outros acusados, ocultado parte da comissão de 5 milhões de euros que recebeu. Também teria devolvido o dinheiro ao dirigente brasileiro, em seguida, pelo contrato com a Nike.
A acusação apontava que os envolvidos "pelo menos, desde 2006, formaram uma estrutura estável, reforçada por vínculos de amizade e parentesco, dedicada à lavagem de dinheiro, em grande escala". A promotoria ainda apontava que Rosell era o líder da quadrilha.
Além disso, o MP da Espanha afirmava que Ricardo Teixeira -que está sendo investigado no Brasil, Estados Unidos, Andorra e Suíça- também recebeu uma parte das comissões ilegais, "em claro abuso da posição e em prejuízo aos interesses da administração" da CBF.
Com relação aos jogos amistosos, o contrato de gestão teria sido assinado em 2006 pelo ex-presidente da entidade com a International Sports Events, sediada nas Ilhas Cayman e ligada ao grupo saudita Dallah Albaraka Group, que é dirigido pelo xeque Saleh Kamel.
Pelos direitos desses jogos, Rosell teria recebido 6,5 milhões de euros em cinco transferências feitas entre novembro de 2010 e janeiro de 2011, recebidos em contas na Espanha que mantem com a mulher. O dinheiro vinha de bancos da Suíça e da Arábia Saudita em nome do xeque Kamel.
O dirigente afirmou à receita do país natal que os pagamentos eram referentes à venda, em maio de 2011, de uma empresa que mantinha com Marta Pineda a um grupo no Líbano, pertencente a Shahe Ohanneissian, que é amigo pessoal de Rosell.
Sobre o contrato da Nike, em que uma empresa do espanhol, Ailanto, figurava como intermediária, foi descoberta uma série de movimentações em uma conta em Andorra pertencente a Rosell, que serviria, segundo o Ministério Público, para ocultar a transferência de 5 milhões de euros para Ricardo Teixeira.
O ex-presidente do Barça se defendeu no julgamento dizendo que a transação se referia ao pagamento de um empréstimo adquirido junto ao brasileiro.