O cargo de presidente da CBF é marcado por peculiaridades: um ex-mandatário está preso nos Estados Unidos, outro pode parar atrás das grades se deixar o país e o mais recente ocupante virou um representante decorativo devido às bizarrices internacionais que proporcionou.
Em meio a este cenário, o paulista Rogério Langanke Caboclo, de 46 anos, assume nesta terça-feira a Confederação Brasileira de Futebol para um período de quatro anos. O advogado será o vigésimo presidente da história da CBF e ficará no cargo de abril de 2019 a abril de 2023.
Antigo diretor-executivo da entidade, Rogério Caboclo foi eleito como candidato único na eleição presidencial. Porém, internamente, venceu a queda de braço contra Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol.
A relação do advogado com o futebol teve início nos anos 2000. Na época, assumiu o cargo de diretor financeiro do São Paulo e foi convidado para atuar na Federação Paulista de Futebol. Ao lado do "padrinho" Marco Polo Del Nero, cresceu dentro da entidade e ficou conhecido pela boa relação com cartolas da entidade nacional e dirigentes de diferentes clubes.
Sua popularidade aumentou quando participou do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. Logo após, Caboclo seguiu como diretor-executivo da CBF e ganhou voz entre os clubes ao "salvá-los" de punições junto a Profut. Além disso, foi um dos responsáveis pelo crescimento da Copa do Brasil, que passou a ter uma premiação milionária — maior que do Campeonato Brasileiro. Mas não é apenas de elogios vive o novo número 1 da entidade.
A relação com Marco Polo Del Nero
O maior desafio de Rogério Caboclo será se desprender a imagem de Marco Polo Del Nero. O problema é que a trajetória de sucesso do cartola tem bastante influência do ex-presidente — desde os primeiros passos até a chegar ao topo da maior entidade esportiva do Brasil. O "padrinho" abriu portas no caminho até chegar ao cargo máximo da CBF.
Foi Marco Polo Del Nero quem o levou para a FPF e para a diretoria do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014. Antes desconhecido, ganhou notoriedade com a proximidade junto ao poderoso cartola. O "prodígio", como é conhecido, virou "homem forte" para a presidência por não estar sendo denunciado nas investigações contra a CBF. A imagem transparente que tenta demonstrar se confirma.
Caboclo também se destaca por ser um grande negociador — fator importante em meio a crise que vive a entidade. Foi ele quem tomou as rédeas das relações com Alejandro Domínguez, na Conmebol, e Gianni Infantino, na Fifa, após Coronel Nunes ter votado em Marrocos para sediar a Copa do Mundo de 2026. Se Nunes virou uma figura decorativa, Caboclo passou a ser ativo.
Dentro da CBF, também chamou atenção por convidar 37 cartolas para assistirem pessoalmente à Copa do Mundo da Rússia, com despesas bancadas pela entidade. Entre sorrisos, abraços e incógnita sobre o seu futuro, Caboclo se mistura entre o continuísmo da ligação Marín-Del Nero e a novidade por decisões individuais. Resta saber qual será o caminho seguido.
Ligação com o São Paulo e polêmica com clubes "rebeldes"
O coração de Rogério Caboclo é são-paulino. Não ligado à cidade, mas ao clube — e isso não é surpresa. O mandatário trabalhou no clube paulista dos anos 1990 até o início dos anos 2000 e, mesmo silencioso, ganhou poder dentro da Federação Paulista. Além disso, recebeu os parabéns do clube no dia em que foi eleito.
A nota, publicada no site oficial do São Paulo, relembrou o passado de Caboclo no Morumbi. O atual presidente da CBF é filho do ex-conselheiro Vitalício Carlos Caboclo e trabalhou como diretor adjunto de marketing do Tricolor por um ano, de abril de 1991 a abril de 1992. No início dos anos 2000 também atuou como diretor financeiro do clube. Em um dos trechos, o Tricolor destaca a postura de Caboclo como conciliadora.
Tal histórico lhe favoreceu para se tornar presidente da CBF. Conselheiro vitalício do São Paulo, o seu grupo político teve a preferência da maioria das federações na votação para ser eleito. Apenas três clubes não votaram na chapa apoiada por Marco Polo Del Nero: os "rebeldes" Corinthians, Flamengo e Athletico-PR — e isso gerou um dos primeiros atritos no cargo.
No discurso de posse, Caboclo declarou "estar plenamente comprometido com quem o apoiou". Ou seja, deu a entender que os "rebeldes" seriam tratados de forma diferente. Na ocasião, o Flamengo se absteve e o Corinthians votou nulo — inclusive, com o presidente Andrés Sanchez reclamando publicamente da escolha. Já o Athletico-PR não esteve presente na votação.
Patrimônio multiplicado
Desde que virou personagem conhecido no meio do futebol, Rogério Caboclo teve o seu patrimônio multiplicado. Em 2001, quando assumiu o cargo como diretor da FPF, detinha R$ 570 mil em bens registrados. Após 17 anos, acumula R$ 8,6 milhões, cerca de 15 vezes a quantia original. As informações são da Folha de São Paulo.
Caboclo afirma que o crescimento é condizente com a sua renda no período. Entre os bens adquiridos pelo mandatário estão dois apartamentos que, somados, custaram R$ 4,5 milhões, um carro BMW de R$ 320 mil e um veículo da marca Mercedes-Benz, com custo de R$ 360 mil. Além disso, tem cinco imóveis adquiridos por R$ 7,2 milhões pela empresa da família, da qual é sócio.
O investimento da firma do novo presidente triplicou após o ingresso de Rogério Caboclo no Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014 e na CBF. A empresa arrematou quatro imóveis, dois em São Paulo e dois em São Bernardo do Campo (SP), por aproximadamente R$ 1,7 milhão. Além disso, adquiriu um prédio e um terreno na Zona Sul de São Paulo por R$ 5,5 milhões em 2017.
Ainda de acordo com a reportagem da Folha, o futuro presidente da CBF recebia salário de R$ 120 mil quando era diretor executivo. Seu último salário na FPF, onde trabalhou entre 2001 e 2015, foi de R$ 35 mil — atuou como diretor financeiro da federação.
Quem são os vices de Caboclo?
Além de Caboclo, foram eleitos oito vice-presidentes — até esta eleição, eram escolhidos cinco. São eles: Fernando Sarney (Maranhão), Gustavo Feijó (Alagoas), Marcus Vicente (Espírito Santo), Antonio Carlos Nunes (Pará), que já eram vice-presidentes, e agora terão a companhia de Francisco Noveletto (Rio Grande do Sul), Ednaldo Rodrigues (Bahia), Castellar Guimarães (Minas Gerais) e Antonio Aquino Lopes (Acre).
Houve um crescimento no número de vices-presidentes da CBF se comparado com a gestão anterior. Eram cinco nomes até novembro de 2016, com Marco Polo Del Nero. Com a chegada de Rogério Caboclo, o número aumentou para oito — a maior quantidade da história da entidade.