Foram 3.277 dias de Jon Gruden fora da NFL. Desde a demissão pelo Tampa Bay Buccaneers em 16 de janeiro de 2009 até a assinatura que confirmou a volta ao Oakland Raiders em 6 de janeiro de 2018, o técnico tentou manter a proximidade com o futebol americano. Na maior parte do tempo, foi comentarista da ESPN no Monday Night Football, percorreu treinos e comandou o Gruden's QB Camp, um programa em que entrevistava os principais prospectos de cada draft para a posição de quarterback. Mas muita coisa mudou.
O acordo coletivo de trabalho, assinado em 2011, alterou drasticamente as relações entre técnicos e jogadores, incluindo uma redução nos tempos de treinos e o aumento na necessidade do aproveitamento de jovens jogadores em função dos contratos tabelados para calouros.
Com seis semanas da temporada disputadas, o Raiders já deve se perguntar se foi inteligente demitir Jack Del Rio, que ficou no cargo de 2015 a 2017, levou o time aos playoffs pela primeira vez desde o título do Super Bowl na temporada 2002, e colocou a equipe num caminho de campanhas decentes após pegar um elenco que não passava de quatro vitórias há três anos.
O problema é que Gruden assinou um contrato de 10 anos, US$ 100 milhões, e os seus assistentes também receberam vínculos com tempo e dinheiro acima da média. É tarde para mudar tudo de novo, e o técnico deve receber pelo menos três anos para concluir o que começou — até porque é dele, e não mais do general manager Reggie McKenzie, a palavra final a respeito do elenco.
— Atribuir todo o poder para uma cadeira raramente, se é que já ocorreu alguma vez, dá certo para uma franquia da NFL. Independentemente das suas habilidades, Gruden se dividir entre as chamadas das jogadas ofensivas, ser o técnico principal e o desenvolvimento do elenco é muito para qualquer um lidar com facilidade — avalia Austin Gayle, editor do site Pro Football Focus, em entrevista ao Prime Time.
Os problemas do Raiders no início da temporada vão além do retrospecto de uma vitória — sobre o Cleveland Browns, na prorrogação — e cinco derrotas —para Los Angeles Rams, Denver Broncos, Miami Dolphins, Los Angeles Chargers e Seattle Seahawks. O olhar de desconfiança sobre Gruden começou ainda antes da temporada regular começar, quando ele disse que gostaria de fazer o Raiders jogar um futebol americano no padrão de 1998 — ano em que ele assumiu o time pela primeira vez — e logo tornou o elenco do time o mais velho da NFL. As críticas ficaram mais consistentes quando ele decidiu trocar o astro Khalil Mack para o Chicago Bears. Recentemente, surgiram informações de que o Raiders está disposto a trocar o wide receiver Amari Cooper e o safety Karl Joseph — até negociar o quarterback Derek Carr não parece fora de cogitação. As derrotas apenas consolidaram as contestações.
— Já podemos ver o impacto que isso causou dentro de campo: Oakland tem sete sacks na temporada, enquanto Mack, sozinho, já soma cinco. Em relação aos outros rumores de troca, me parece que Jon Gruden está tentando montar seu próprio time, com seus próprios jogadores. Lembra um pouco o que o Chip Kelly estava fazendo nos Eagles um tempo atrás. Resta ver se vai dar certo — observa Wesley Mota, técnico do Bulls Futebol Americano.
Jon Gruden descartou, em entrevista coletiva na última terça-feira, que o Raiders está perdendo de forma deliberada para ter uma escolha mais alta no draft e iniciar um processo de reconstrução — estratégia que os americanos chamam de "tank".
— Reggie (McKenzie, general manager do Raiders) e eu tivemos uma reunião ontem (segunda-feira). Eu sei que é chocante para todo mundo. Mas nós vamos seguir com o pé no acelerador e ir com tudo o que temos — afirmou o treinador.
Para Austin Gayle, a má fase do Raiders não passa pelas questões táticas aplicadas por Gruden:
— O sistema ofensivo de Gruden, como se esperava, é muito detalhado. É mais do que capaz de ser bem-sucedido na NFL moderna, se executado de forma apropriada. A execução tem sido a preocupação.
Como se não bastassem os problemas dentro de campo, o Raiders vive um clima de incerteza fora dele. Com a mudança para Las Vegas marcada só para 2020 e contrato com o Oakland Coliseum até o fim da temporada, a franquia não sabe onde jogará em 2019.
— É normal qualquer time ter dificuldades no primeiro ano de um novo head coach, ainda mais quando este passou 10 anos longe de uma sideline. Jacksonville e Philadelphia passaram por situações parecidas recentemente. Ou seja, não acho que esse início de temporada bem abaixo do esperado seja o fim do mundo para o Raiders — opina Wesley Mota.
O calendário até o fim do ano prevê jogos complicados contra Chargers, Ravens, Chiefs (duas vezes), Stelers e Bengals. Mas Jon Gruden não desistiu:
— Deixem os torcedores do Raiders saber: estamos trabalhando duro. Temos um bom grupo de jogadores e vamos ser divertidos de assistir.
Estatística da semana
A torcida do Chicago Bears ficou confiante quando soube que Brock Osweiler seria o titular do Miami Dolphins devido a uma lesão de Ryan Tannehill. Pois não deveria, porque o histórico de Osweiler em estreias diante do Bears é perfeito.
Brock Osweiler estreou nos três times em que jogou em temporada regular exatamente diante do Bears. Venceu com o Denver Broncos em 2015, com o Houston Texans em 2016 e, agora, com o Dolphins em 2018.
Tannehill segue machucado, e Osweiler será o titular novamente contra o Detroit Lions, no próximo domingo.
Jogador fora do radar
Robert Woods foi um wide receiver eficiente, mas discreto em sua passagem de quatro anos pelo Buffalo Bills. Nas quatro temporadas, ficou entre 550 e 700 jardas por ano. A ida para o Los Angeles Rams colocou o recebedor em outro patamar.
Logo na primeira temporada no novo time, em 2017, teve os melhores números da carreira — 781 jardas e cinco touchdowns. Este ano, o seu papel é ainda maior. Ele lidera o time em jardas recebidas (524), à frente de Brandin Cooks (505) e Cooper Kupp (438). Com a lesão de Kupp, Woods será ainda mais relevante para o sistema de Sean McVay nas próximas semanas.
Fique de olho
O equilíbrio da Divisão Leste da Conferência Nacional é notável. Só o New York Giants está abaixo da média. Washington Redskins (3-2), Dallas Cowboys (3-3) e Philadelphia Eagles (3-3) brigam de perto pelo título da divisão. Dois deles se enfrentam em um dos principais jogos do domingo. Às 17h25min, o Redskins recebe o Cowboys. Quem vencer fica na liderança da NFC Leste.