A acusação de xenofobia feita por Romero na semana passada acendeu um alerta sobre até onde o preconceito a estrangeiros afeta o futebol brasileiro. O atacante do Corinthians afirmou que, em vários momentos, ouviu críticas em tom pejorativo da imprensa por ele ter nacionalidade paraguaia.
Após o desabafo feito por Romero, a reportagem deu voz a gringos que desembarcaram em clubes brasileiros, para saber suas impressões do país.
Paraguaio que teve destaque no Flamengo entre os anos de 2005 e 2006, "El Tigre" Ramírez diz que sempre escutou piadas com sua nacionalidade.
- Sim, sempre fazem piadas com a nacionalidade paraguaia. Na verdade, isto vem só de alguns brasileiros, não de todos.
O ex-atacante crê que convencionou-se depreciar quem nasceu no Paraguai e aprovou a conduta do atacante corintiano em se posicionar.
- Há um mito sobre isto. São expressões como cavalo paraguaio, muambeiro, entre outras coisas. Acho que Romero fez muito bem em defender o seu país. Acontece isto aqui com paraguaios, assim como brasileiros são discriminados na Europa. Essas pessoas deviam lembrar do conselho de que "não faça aos outros o que não quer que façam contigo" - afirmou.
Argentino com passagem por vários clubes do Brasil, Maxi Biancucchi também vê com tristeza a situação. Aos seus olhos, a depreciação ao Paraguai é algo "enraizado" na cultura brasileira:
- Isto é em função de uma gíria que usam muito. No Brasil, sempre falam que tudo que é falso e paraguaio. Gíria triste, mas que existe. Eu amo o Paraguai, e cada vez que ouvia esta gíria, não gostava. O Brasil mesmo é alvo de ofensas quando joga Libertadores. É triste, mas são coisas do ser humano - disse.
No entanto, Maxi, que atuou por Flamengo, Vitória, Bahia e, recentemente, Ceará, teceu elogios ao carinho do povo brasileiro com ele:
- Episódio de xenofobia nunca aconteceu comigo. O Brasil é um país que amo, e todos sempre me trataram muito bem. Inclusive, tenho filha brasileira.
Já outros compatriotas de Romero recordaram as boas lembranças de suas passagens pelo futebol brasileiro. Jogador de Internacional, Grêmio, Flamengo e Portuguesa, Diego Gavilán disse que não chegou a ouvir palavras de xenofobia no país.
- Na verdade, nunca sofri diretamente uma coisa dessas. Talvez algum torcedor tenha falado pra mim, mas não cheguei a escutar. Sou muito grato ao Brasil. Sempre falei e falo que é minha segunda casa, onde tive o privilégio de jogar em cinco anos da minha carreira - afirmou.
O ex-volante foi cauteloso ao falar sobre o manifesto feito pelo atacante do Corinthians.
- Vi o que falou o Romero. Acredito que ele tenha suas razões para falar isto.
Tavarelli também manifestou gratidão pela passagem como goleiro do Grêmio em 2004.
- Nunca tive momentos como este. Só tenho lembranças de pessoas maravilhosas no Rio Grande do Sul, onde joguei. Na verdade, o problema é das pessoas que falam essas coisas. Todos os países lidam com mazelas, tinha de localizar as pessoas que dão este tipo de declaração - disse.
A discriminação ainda é um tema que rende controvérsias entre jogadores de várias nacionalidades.
Multicampeão pelo São Paulo entre 1993 e 1994 e com passagens pelo Atlético-PR e Goiás, Gustavo Matosas exalta o Brasil. No entanto, o uruguaio reconhece uma rixa sul-americana:
- Em nenhum momento senti isso no Brasil. Em todos os lugares que joguei, sempre fui muito bem recebido, e a torcida teve muito carinho. É claro que existe uma rivalidade muito forte entre os países sul-americanos, mas não cheguei a ser discriminado - disse.
Chileno com passagem pelo Vasco, Adan Vergara negou que tenha ouvido acusações de preconceito no país.
- Conheço jogadores latinos que passaram pelo Brasil e nunca sofreram preconceito nenhum. Acho que uma pessoa pública tem que ter cuidado com o que diz. Ela está sempre exposta à crítica.
O defensor ainda tece elogios à maneira como foi recebido em seu período no Cruz-Maltino.
- Fui muito bem recebido e bem tratado. Sempre me davam muito apoio, eu me sentia em casa.
As palavras de carinho sobre o Brasil também se alastram por outros jogadores que deixaram boas lembranças aos torcedores. Um dos casos é de Hernán Barcos.
Campeão da Copa do Brasil de 2012 pelo Palmeiras e com passagem pelo Grêmio, o argentino foi breve.
- Nunca recebi hostilidade de torcedores. Sempre me trataram muito bem, com todo o respeito enquanto atuei no Brasil.
Outro jogador com lembrança de títulos com a camisa do Verdão, Faustino Asprilla também rechaçou que tenha sido vítima de hostilidade. O campeão do Rio-São Paulo e da Copa dos Campeões de 2000 afirmou:
- Nunca, jamais passei por uma situação como esta. Sempre me trataram muito bem quando atuei no futebol brasileiro - disse o colombiano, que ainda atuou pelo Fluminense.
Com passagens de destaque por Palmeiras, Flamengo (onde venceu o Carioca de 1996) e Santa Cruz, Mancuso diz que restringiu sua luta às quatro linhas:
- Jamais tive este problema jogando no Brasil. Briguei em disputas de bola, mas nunca ouvi xingamentos por ser estrangeiro. E fui muito feliz no futebol brasileiro - declarou o argentino.
Com passagem pelo Flamengo, o também argentino Ubaldo Fillol é outro estrangeiro a guardar boas lembranças do ciclo no futebol nacional.
- O Flamengo sempre me recebeu muito bem, me tratou com muito carinho no tempo que joguei lá - afirmou o responsável pela meta do Rubro-Negro entre os anos de 1984 e 1985.