Neymar é um gênio. O maior craque brasileiro recente, talvez mais jogador do que todos os outros brasileiros de sua geração somados. Ganhou quase tudo. Com a bola que tem, chega onde quiser. Por que, então, é tão difícil gostar de Neymar?
Se futebol fosse só futebol, talvez Neymar fosse a estrela mais popular do esporte mais popular do mundo. Se futebol se resumisse aos 90 minutos entre os dois apitos do juiz, talvez fosse mais amado do que Zico, Romário, quem sabe até Ronaldinho Gaúcho. O diabo é que futebol é esporte, mas também é produto cultural, social, histórico. Como dizem, é uma metáfora da vida. E é aí que se torna inevitável a comparação com Ronaldinho.
Após a aposentadoria do craque gaúcho, o Chelsea demonstrou seu carinho com o vídeo de um de seus maiores gols, em 2005, durante um confronto entre o time inglês e o Barcelona. É mesmo uma obra-prima: Ronaldinho samba na frente do marcador e dá um chute mágico. Mas, veja bem, um dos times mais tradicionais da Inglaterra orgulha-se, mais de 10 anos depois, de ter tomado um gol de Ronaldinho em casa (sou colorado, conheço a sensação). Você já imaginou isso para Neymar?
Corta para 2018. Neymar está em seu terceiro clube. E, aos 25 anos, parece prestes a sair pela porta dos fundos de um clube pela terceira vez. Não conseguiu ser ídolo do Santos, time pelo qual jogou uma final de Mundial de Clubes já negociado com o adversário. Fez manha no Barcelona por não gostar de jogar ao lado do melhor do mundo. E é provável que saia sem fazer história no PSG — clube em que o meia Nenê é ídolo —, simplesmente porque não consegue entender o valor que seu futebol tem — não o valor financeiro, mas social, cultural, histórico, como é da natureza do futebol.
Essa é a diferença entre os dois. Não é pela beleza do gol que o Chelsea se orgulha de ter enfrentado Ronaldinho, mas porque o gaúcho conseguiu transcender o esporte. Neymar passou por Santos, Barcelona e Paris, três cidades históricas para o futebol, e não soube fazer parte de nenhuma delas. Ronaldinho é amado mesmo em estádios que destruiu. Maior craque de seu tempo, jogava como que prestando serviço a um bem maior, o futebol. Questão de personalidade. Neymar não está nem aí. Não parece entender o futebol além das quatro linhas. Como um moleque birrento que se acha dono da bola, não abre mão de fazer seu quarto gol, mesmo quando a torcida (e o que é um clube, se não sua torcida?) gritava pelo ídolo Cavani, por exemplo.
É por isso que Neymar é um gênio, mas dificilmente será tão amado como Ronaldinho.