Juliano Fontana, 41 anos, gaúcho de Porto Alegre é auxiliar técnico e homem de confiança do técnico Alexandre Guimarães no América de Cali. Na terça-feira (3), ele será adversário do Grêmio, na estreia da Libertadores. Porém, o começo da sua trajetória no futebol foi justamente no tricolor.
Aos 7 anos, Juliano começou a jogar nas categorias de base. Depois, como integrante da comissão técnica, trabalhou no próprio Grêmio e teve também passagem pelo Inter. Após comandar o Inter-SM, se aventurou pela Índia, onde ficou 10 anos. E foi lá que surgiu a sua ligação com Alexandre Guimarães.
Em Cali, o profissional tem participação importante no trabalho diário do América ao lado de outro gaúcho, o preparador físico Rodrigo Poletto. Em uma conversa com a reportagem de GaúchZH, Juliano contou como parou na Colômbia e o que o Grêmio vai encontrar na terça-feira.
Confira os principais trechos da entrevista:
Como surgiu a parceria com Alexandre Guimarães?
— Trabalhava na Índia desde antes da liga ser milionária. Cheguei a ser campeão com o time que tinha o “Pelé deles”. Depois, quando surgiu a ISL, eu não poderia ser treinador por falta de alguns requisitos da nova liga, como ter passado por seleção, enfim. Pela proximidade que tinha com um agente de lá, surgiu o nome do Guimarães. E, na Índia, para quem não conhece, se tu for sozinho, tu não vai ter sucesso, porque tu precisa conhecer o local, a cultura que é diferente e tudo mais. Surgiu a possibilidade, o agente me indicou para o Alexandre. A gente conversou e as coisas começaram a andar. Fechamos a parceria no primeiro ano, fizemos uma competição fantástica mas não saímos campeões por detalhe. A partir daí foi deixando de ser uma parceria profissional e virou amizade.
O América tem tu e o Poletto, preparador de goleiros, gaúchos. Como receberam o sorteio, e ter de voltar para Porto Alegre como adversários da dupla Gre-Nal?
— No sorteio eu estava fazendo o curso da CBF. Sentava na frente do Renato na sala de aula. A gente brincava que daria nós no mesmo grupo da Libertadores, ele dizia que não, ficávamos nessa. Ele sempre comentando que tentava contratar esse ou aquele jogador. Quando deu o sorteio com América e Grêmio no mesmo grupo, ele já veio dizendo que não me revelaria mais nada, para evitar que eu estudasse o time dele (risos). Às vezes falam do Renato. Ele é uma pessoa na frente das câmeras e outra diferente fora. É um cara fantástico, alegrou o curso. Nesse aspecto foi muito legal a convivência com ele, lá.
E como foi tua trajetória no futebol gaúcho?
— Comecei com 7 anos na categoria de base do Grêmio. Fiz toda a base lá, de 1986 a 1996. Nossa equipe era fortíssima. Cresci ali dentro. Quando comecei a faculdade de Educação Física surgiu a chance de começar a trabalhar na própria base do Grêmio. Comecei em núcleos, em Gravataí, Cachoeirinha. E a gente fez trabalhos bons, nos destacamos em copas pelo interior. Me levaram para o Grêmio principal em 2003. Naquele ano trabalhei de graça, por passagem e vale-alimentação.
Ao fim do ano não fui contratado, e acabei indo para o Inter. Fiquei um ano, daí assumi a categoria 1994 do Sporting Sul e ganhei do Grêmio. Aí sim o Grêmio me contratou. Eu e o André Jardine tivemos bons embates — ele no Inter. Fomos colegas de faculdade. Em 2008 fui convidado pelo Paulo Porto para ser auxiliar no Inter de Santa Maria. Fomos campeões do interior, o Paulo foi demitido e eu fiquei como interino. Disputamos a Série C gaúcha e apareceu a chance de ir para a Índia. Fui em 2009 e fiquei 10 anos lá.
Que ambiente e energia o Grêmio vai encontrar em Cali?
— A torcida do América, aqui, é comparável ao Flamengo no Brasil. É uma religião. Se falar mal do América pode arrumar um inimigo mortal aqui. E nosso grupo é fantástico. Não temos nenhum problema de nada, são todos amigos. Isso foi um ponto fundamental para conquistarmos o título no ano passado. O modelo de jogo foi muito bem entendido pelos jogadores. O Grêmio vai enfrentar uma equipe competitiva. Não é a favorita para classificar mas vai competir, vai buscar o espaço e a oportunidade de chegar às oitavas. Porque aqui pensamos um passo de cada vez.
O que o Grêmio vai encontrar em campo?
— Vai encontrar um time que joga limpo e procura jogar o futebol, tal qual é o Grêmio. Gosta de circular a bola, jogar no campo do adversário. A gente sabe dessas valências positivas do Grêmio. É como o Guimarães falou, temos que respeitar as camisas pesadas de Grêmio e Inter, mas não podemos esquecer da Católica que é campeã nacional e ainda não perdeu este ano. Vai ser um grupo bastante competitivo, contando que haverá dois Gre-Nais — e aí tudo pode acontecer, quem é do Estado sabe.