O São Paulo se complicou bastante na Libertadores. Depois de ter perdido por 2 a 0 na Argentina, o time paulista precisa vencer na próxima quarta-feira (13), no Morumbi, por três gols de diferença (sem sofrer gols) para passar à próxima fase. Depois, para ingressar no Grupo A (composto por River Plate e Inter), ainda terá de enfrentar o vencedor do confronto entre Independiente Medellín e Palestino — que empataram em 1 a 1 no jogo de ida, no Chile. Ou seja, o caminho será árduo. Se para o gigante brasileiro o momento é de tensão, para o Talleres, o que vier é lucro.
— O time teve participações muito importantes na década de 1970, quando quase foi campeão nacional. Em seu pior momento da história, jogou na terceira divisão, em 2014. Hoje está vivendo dias muito importantes. O São Paulo parece ter sentido a pressão. O Talleres ganhou de maneira merecida, para uma festa total na cidade e que teve uma enorme repercussão — comenta Maximiliano Molina, repórter da Rádio Sucesos 104.7, de Córdoba, na Argentina.
De volta ao torneio continental 17 anos depois, o clube de Córdoba até vem recebendo destaque na imprensa gaúcha nos últimos tempos depois de ter contratado o ex-colorado Guiñazu. Foi dele, por exemplo, o gol que devolveu a equipe à elite do futebol argentino em 2016. Já veterano, aos 40 anos, o volante é ídolo e dono da braçadeira de capitão. Porém, a noite desta quarta (6) comprovou que não se trata apenas do "time de Guiñazu" — embora ele seja seu grande nome.
— É o líder, é o técnico dentro do campo. É o termômetro da equipe. Pelos 40 anos, se desgasta mais ao longo dos jogos. Mas é o jogador mais experiente, com vasta carreira, e, em um jogo de suma relevância como o desta quarta, Guiñazu é um estandarte — completa Molina.
Atualmente, a posição do Talleres no Campeonato Argentino não assusta muito os rivais — é o 12º, 20 pontos atrás do líder Racing. Situação bem diferente do ano passado, quando terminou na quinta posição, que rendeu a última vaga direcionada aos argentinos na Libertadores.
A explicação pode estar na jovialidade do elenco. Dos 11 que entraram em campo contra o São Paulo, apenas um jogador, além do ex-volante colorado, tem mais de 30 anos: o atacante colombiano Dayro Moreno, de rápida passagem pelo Athletico-PR na década passada e que rodou por diversos clubes — até mesmo da Romênia e México — antes de chegar ao Talleres. Apesar disso, o plantel também conta com Maurício Caranta, goleiro do Boca Juniors na conquista da Libertadores de 2007 sobre o Grêmio. Porém, ele é reserva de Guido Herrera, um dos poucos remanescentes do acesso de três anos atrás.
— O goleiro é um dos pontos altos do time. Foi revelado aqui, e o Talleres o buscou de volta em 2016. Tem ótima impulsão. Certamente, terá um destino importante assim que terminarem a Libertadores e o Campeonato Argentino — revela o jornalista argentino.
O técnico é Juan Pablo Vojvoda. Ex-zagueiro, revelado pelo Newell's Old Boys na década de 1990, fez praticamente toda a carreira de atleta na Espanha e virou treinador há apenas três anos, como interino do clube que o lançou para o futebol. Está à frente do time cordobês desde maio do ano passado, quando foi contratado junto ao Defensa y Justicia.
Fundado em 1913, o Talleres nunca foi campeão da primeira divisão argentina, mas tem como grande triunfo de sua história a conquista da Copa Conmebol de 1999 sobre outro brasileiro — o CSA.
Apesar de ter como casa o pequeno Estádio Francisco Cabasés, com capacidade para 13 mil pessoas, manda seus jogos também no Estádio Mário Kempes, assim como o rival Belgrano, para aproveitar os mais de 50 mil lugares disponíveis. O mais curioso de tudo é a surpresa dos argentinos ao saberem que o nome do clube gera piadas no Brasil. Acontece que, apesar de sugerir o contrário, Talleres não quer dizer "talheres". Em espanhol, os utensílios de cozinha são chamados de "cubiertos". Na verdade, o time leva este nome em referência ao bairro.
—Chama-se assim em referência aos ingleses que fundaram o clube e trabalhavam no sistema ferroviário do bairro de Talleres — conclui Maximiliano.