Deniria da Costa ficou desolada quando viu o Beira-Rio isolado por gradis na tarde desta sexta-feira (7). A aposentada de 60 anos só queria entrar no pátio do estádio para prestar uma homenagem junto à estátua do de Fernandão, morto há exatos 10 anos em um acidente de helicóptero.
— Por onde entro? — questionou.
— O estádio está fechando — explicou um segurança.
— Quando vão abrir?
— Vai demorar.
O perímetro do estádio foi solado e só funcionários podem acessá-lo. Ela soltou um longo suspiro, e, desanimada, se escorou em um gradil e mirou a estátua.
— Eu já fiz cada fiasqueira pelo Fefê — revela antes de iniciar a conversa.
Fefê é o modo como Deniria se refere ao ídolo colorado, com quem criou uma relação mais próxima no período em que ele era o dono da camisa 9 colorado, estendia para alguns familiares da família do ex-jogador. Entre as cenas protagonizadas está o momento em que soube que Fernandão estava deixando o Inter, em 2008.
Os lábios arroxaram quando a notícia bateu nos seus ouvidos. Meio perdida, ficou em dúvida se ia ao Beira-Rio se despedir. Sabia que passaria mal qual fosse sua decisão. Passou mal ficando em casa. Não demorou muito, uma ambulância estacionou em frente à sua casa. O destino foi o Hospital de Cardiologia.
— Fiquei lá até as 22h da noite. Não me deixaram sair, depois queria ter ido ao Beira-Rio — conta.
A visitação à estátua tornou-se um ritual nesses 10 anos de ausência de Fernandão. De tempos em tempos, ela se dirige até o símbolo para conversar com o Fernandão.
— Conto a minha vida para ele. Falo sobre o Inter, sobre os jogos. Parece que o time nunca vai para frente — conta, entre o relato, a análise e o lamento.
Com o passar dos anos, criou uma memorabilia de itens relacionados ao ex-jogador. Na visita ao Beira-Rio nesta sexta, vestia a camisa 9, com a efigie de Fernandão dentro do número.
Fefê voltou ao Inter em 2011 como dirigente. Ela conseguiu informações da hora em que o voo chegaria com o novo executivo de futebol colorado. Não havia mais ninguém no Salgado Filho o esperamos.
— Nos abraçamos e choramos muito — conta, mostrando uma foto um tanto desfocada do momento.
Quando acordou na manhã de 7 de junho de 2014 e soube da morte de Fernandão, o seu mundo acabou. Foram horas e horas perambulando sem rumo dentro de casa até ir para o Beira-Rio, onde uma procissão de colorados se formou.
— Naquele dia eu queria morrer. Saí daqui, do Beira-Rio, só a meia-noite, congelada de frio, porque uma amiga me colocou no táxi, senão não tinha ido embora.
Frustrada, Dona Deniria teve de se contentar com uma foto ao longe da estátua. A próxima conversa com Fernandão ainda não tem data, pois como diz o segurança, ainda vai demorar para o Beira-Rio reabrir.