Predestinado é aquele destinado à glória. Como Fernandão. Neste 7 de junho de 2024, o gigante que mudou a história do Inter completa os primeiros 10 anos de sua eternidade. Fernandão foi tudo no Beira-Rio. Foi jogador. Foi heroico desde o primeiro jogo. Foi ídolo. Capitaneou as conquistas da América e do Mundo. Foi dirigente. Foi treinador. Se tornou colorado. Muito colorado. Foi vencedor. Virou estátua. Hoje, Fernandão, para os colorados, é aquela lembrança que faz brotar um sorriso no rosto e a saudade no peito.
No dia em que se completam 10 de sua morte em um acidente de helicóptero, GZH publica um especial que mostra como aquele predestinado que desembarcou em Porto Alegre em uma noite de junho de 2004 mudou a história do Inter.

Fernandão chegada em POA
Robinson Estrásulas/ Agência RBS/ BD/ 15/06/2004

Das origens ao Inter

Nascido Fernando Lúcio da Costa em 18 de março de 1978, Fernandão podia ter vivido uma história no Inter completamente diferente. Sabe-se lá o que o destino reservaria se em 1997 ele tivesse desembarcado no Beira-Rio. O futuro camisa 9 colorado era então um promissor jogador do Goiás e da seleção brasileira de base. Seu destino foi a França, primeiro no Olympique de Marselha e depois no Toulouse. Em 2004, quando a direção colorada o procurou, o Flamengo estava perto de contratá-lo. O predestinado Fernandão chegou ao Beira-Rio em junho daquele ano.

A contratação e o amor pelo clube
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Fernando Carvalho conta como ocorreu a contratação de Fernandão e que monitorava o jogador desde as categorias de base

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Marli Costa, mãe de Fernandão, contou sobre o amor do filho pelo Inter, em entrevista à Rádio Gaúcha

O gol mil

10 de julho de 2004. 17h41min. 34 minutos da etapa complementar. Fernandão. Ao narrar na Rádio Gaúcha o gol mil dos Gre-Nais, Pedro Ernesto Denardin bordou para sempre na história colorada o dia, a hora, o tempo de jogo e o autor de um dos lances mais emblemáticos da vida do clássico. Em seu primeiro jogo pelo Inter, Fernandão saiu do banco de reservas para entrar para a história. E aquela era apenas a cabeçada inicial.

O gol em áudio
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O gol mil dos Gre-Nais narrado por Pedro Ernesto na Rádio Gaúcha

A conquista inédita

Os primeiros libertadores da América surgiram no século XVIII. Desde 1960, quando o principal torneio do continente foi criado, Simon Bolívar e outros revolucionários ganharam novos companheiros. Em 2006, chegou a vez de o Inter se libertar das amarras continentais. Foi quando Fernandão, Clemer, Índio e o restante do elenco colorado ingressaram no grupo de libertadores. O jogo do título teve gol de Fernandão (Tinga fez o outro) e drama nos minutos finais do empate em 2 a 2 com o São Paulo, no Beira-Rio lotado. Na semana anterior, no Morumbi, o Inter venceu por 2 a 1, com dois gols de Sobis. Na campanha da conquista, Fernandão esteve presente em 13 dos 14 jogos que o Inter atuou. Só não foi a campo na partida contra o Nacional-URU, na fase de grupos, que terminou empatada em 0 a 0. Ao todo, ele marcou 5 gols e deu 8 assistências.

Os gols em áudio da semifinal e da final
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Gol contra o Libertad que levou o clube à decisão

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Fernandão abriu o placar contra o São Paulo na finalíssima

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Fernandão fez o primeiro gol na vitória sobre o Nacional-URU por 3 a 0, na fase de grupos. Foto: Valdir Friolin/ Agência RBS/ BD/ 23/2/2006
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Comemoração do gol na vitória colorada sobre o Pumas por 3 a 2, na fase de grupos. Foto: Marcos Nagelstein/ Agência RBS/ BD/ 23/3/2006
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Atacante fez o segundo contra o Libertad-PAR, garantindo a presença do time na final. Foto: Valdir Friolin/ Agência RBS/ BD/ 3/8/2006
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Momento em que Fernandão finaliza para fazer o primeiro gol do Inter na final contra o São Paulo. Foto:Valdir Friolin/ Agência RBS/ BD/ 16/8/2006
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Capitão colorado festeja após balançar as redes. Foto: Daniel Marenco/ Agência RBS/ BD/ 16/8/2006
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Imagem histórica de Fernandão comemorando seu gol na final. Foto: Mauro Vieira/ Agência RBS/ BD/ 16/8/2006
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Instante em que Fernandão dá o passe de cabeça para Tinga fazer o segundo gol do Inter. Foto: Daniel Marenco/ Agência RBS/ BD/ 16/8/2006

O mundo é do Inter

Em 17 de dezembro de 2006 o sistema solar ganhou mais um planeta vermelho. Naquela noite fria no Japão e manhã quente em Porto Alegre, contra o Barcelona de Ronaldinho, o destino mostrou que prega peças até em um predestinado. O esforço para parar o time espanhol impediu que Fernandão terminasse a partida. A lesão na panturrilha esquerda permitiu que Adriano Gabiru entrasse para decidir o jogo. Coube a Fernandão levantar a taça inédita de campeão do mundo.

Os áudios da decisão
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Discurso de Fernandão no vestiário antes do jogo

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Fernandão fala sobre a estreia e o milésimo gol em clássicos

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Gol de Gabiru narrado por Pedro Ernesto na Rádio Gaúcha

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Com Fernando Carvalho, antes da decisão. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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Fernandão em disputa de bola durante o jogo. Foto: Toru YAMANAK/ AFP/ BD/ 17/12/2006
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Fernandão se lesionou no segundo tempo da partida. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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Abraço entre Fernandão e Carvalho após a conquista. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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O capitão colorado levanta a taça de campeão mundial. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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Fernandão comemorando o título nas ruas de Yokohama. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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No avião, de volta para casa com o elenco vencedor. Foto: Ricardo Duarte/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2006
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Saída do avião, mostrando a taça para a torcida. Foto: Júlio Cordeiro/ Agência RBS/ BD/ 19/12/2006
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Com Clemer, no Beira-Rio, festejando com a torcida. Foto: Mauro Vieira/ Agência RBS/ BD/ 19/12/2006
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Fernandão canta junto com os colorados “Vamo, Vamo, Inter". Foto: Fernando Gomes/ Agência RBS/ BD/ 19/12/2006

Tríplice Coroa

O trabalho como jogador colorado ainda não estava concluído. Fernandão ficou mais um ano e meio no Beira-Rio. Tempo para engordar suas estatísticas, completar a tríplice coroa e recuperar a hegemonia estadual, com o título gaúcho de 2008. Seus últimos três gols com a camisa colorada saíram no 8 a 1 sobre o Juventude. Dias depois, em 14 de junho, não conteve a emoção ao anunciar a sua saída para o futebol árabe.

Fernandão no futebol árabe
Valdir Friolin/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2007

Capitão comemorando a vitória sobre o Pachuca-MEX por 4 a 0, que deu ao clube o título da Recopa Sul-Americana

Áudio da entrevista de despedida de Fernandão

Vídeo: Fernandão, o gigante colorado

Relembre a trajetória de Fernandão neste vídeo especial com imagens de arquivo e depoimentos dos comentaristas identificados do Grupo RBS.

Fernandão no futebol árabe
Daniel Marenco/ Agência RBS/ BD/ 4/5/2008

F9 festeja um dos gols da vitória contra o Juventude, em 2008, que deu o título de campeão gaúcho ao Inter

Raio X de Fernandão

Reencontros

Entre encontros, desencontros e reencontros, Inter e Fernandão tiveram vários. Primeiro como adversário. Foram cinco vezes em que causou a estranha sensação de vestir outras cores, uma com o Goiás e quatro com o São Paulo. Em 2011, voltou ao Inter como dirigente. No ano seguinte, assumiu como técnico. Depois de 26 partidas, foi demitido sob os burburinhos de boicote dos jogadores. Na despedida, não conteve as lágrimas, mas uma relação entre os dois não poderia terminar com uma última cena triste. Em 2014, no dia 5 de abril, ele foi um dos protagonistas da festa que marcou a abertura do novo Beira-Rio.

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O ídolo colorado jogou pelo Goiás em 2009. Foto: Mauro Vieira/ Agência RBS/ BD/ 30/8/2009
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Em 2011, assumiu o cargo de diretor de futebol do Inter. Foto: Tadeu Vilani/ Agência RBS/ 28/12/2011
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Fernandão ficou pouco tempo como treinador, em 2012. Foto: Félix Zucco/ BD/ 23/01/2012
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Emocionado, Fernandão se despediu após demissão como treinador. Foto: Fernando Gomes/ BD/ 20/11/2012

O acidente

Na madrugada de 7 de junho de 2014, Fernandão e outras quatro pessoas morreram em um acidente de helicóptero. O voo fatal, às 1h27min, partiu de uma ilha no meio do Rio Araguaia e levaria o grupo ao centro de Aruanã, onde o ex-jogador tinha uma fazenda. A queda aconteceu 430 metros após o ponto da decolagem. O ídolo colorado foi socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos. Relatório realizado pelo pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), órgão da Aeronáutica, apontou uma série de equívocos do piloto do helicóptero e rechaçou a possibilidade de falha mecânica. O documento indicou que ele “foi vítima de desorientação espacial, quando não há noção do horizonte”. Fernandão deixou a esposa Fernanda Bizzotto Costa, os filhos Thayná, Eloá e Enzo, que se tornou jogador de futebol. Naquele mesmo 7 de junho, colorados e até gremistas foram ao Beira-Rio para homenagear o ídolo do futebol gaúcho. Um mural de mensagem foi improvisado pelos torcedores para deixar mensagens a Fernandão. Tempos depois, o mural foi demolido, em seu lugar foi colocada uma estátua do capitão colorado.

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Após saber da morte, colorados improvisaram um mural em homenagem ao ídolo. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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Mural foi improvisado em um espaço destinado à Copa. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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“Eterno capitão, te amamos” dizia uma das mensagens. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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Colorado exalta a idolatria a Fernandão. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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Torcedor escreve sua mensagem de agradecimento. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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Em 17 de dezembro de 2014, foi inaugurada uma estátua no Beira-Rio. Foto: Camila Hermes/ Agência RBS/ BD/ 8/6/2014
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A imagem relembra o momento em que Fernandão levantou a taça do Mundial. Foto: Adriana Franciosi/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2014
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Confeccionada em bronze, estátua tem 2m50cm de altura. Foto: Adriana Franciosi/ Agência RBS/ BD/ 17/12/2014
Fernandão no futebol árabe
Mauro Vieira/ Agência RBS/ BD/ 10/7/2004

O ídolo

Personagens que são tudo em um clube se tornaram uma espécie em extinção no futebol moderno. Jogador. Técnico. Dirigente. Campeão. Ídolo. No Inter, Fernandão foi destes raros personagens. A construção de um ícone desta grandeza sucede uma série de acontecimentos definidos pelo acaso para acontecerem em um determinado dia, de uma determinada maneira, de uma certa forma que se fosse de qualquer outro jeito teria um desfecho diferente. Os astros precisam se alinhar. Assim se formou o mito Fernandão no Sport Club Internacional. O que teria acontecido se Fernandão tivesse vindo em 1997 na primeira tentativa de contratá-lo? O que o destino reservaria se ele tivesse assinado com o Flamengo em 2004? E se o gol mil dos Gre-Nais saísse de outra cabeça? Qual história seria contada se ele não tivesse se lesionado na final do Mundial? Será que teria voltado ao Beira-Rio se aquele acidente não tivesse acontecido? Ao se olhar pelo retrovisor 10 anos depois da sua morte, 20 anos depois de sua chegada em Porto Alegre, tudo parece ter sido milimetricamente arquitetado. Fernandão sempre foi, para o Inter, o homem certo na hora certa. Foi necessário apenas um jogo para entrar na história. Foi amor ao primeiro gol. Fortalecido em 1.397 dias como jogador do Inter. Tempo para construir uma história que rompeu fronteiras para os colorados.
Um ídolo se constrói com feitos relevantes, com os gols e os títulos. Se consolidam quando entram no imaginário de um grupo de pessoas. Se torna eterno quando simboliza em uma atitude o sentimento de uma nação. Se enraízam em forma de estátua. Fernandão, vives a brilhar.