Logo após a “obrigação”, termo utilizado pelo presidente Alessandro Barcellos para a retomada da temporada, o Inter se mobilizou para colocar em prática uma ação de marketing com os seus uniformes na partida contra o Belgrano. Apesar da derrota por 2 a 1, na Arena Barueri, a campanha emblemática conseguiu o objetivo de um recado institucional sobre a enchente no Rio Grande do Sul. GZH traz bastidores sobre o acontecimento que marcou a semana no futebol brasileiro.
Após a Conmebol confirmar o confronto com os argentinos para o dia 28, o vice de marketing, Nelson Pires, e o presidente Alessandro Barcellos sabiam da necessidade de relembrar a tragédia. Desta forma, foram convidados para uma reunião com Fábio Bernardi, CEO da HOC, agência de publicidade que trabalha com o clube.
Após vários slides de apresentação contextualizando o assunto, o projeto de atuar com um uniforme “embarrado” foi sugerido aos dirigentes:
— Levamos dois segundos para decidir — explicou Pires para GZH.
Poucas horas depois, o Inter apresentou a ideia à fornecedora esportiva, a Adidas. A marca, mesmo com a alta demanda, já que muitos uniformes foram perdidos pelo alagamento do CT Parque Gigante, também aceitou.
Uma gráfica em São Paulo foi recomendada para fazer o serviço. A agência de publicidade preparou máscaras e as tonalidades marrons para fazer a sobreposição ao vermelho. Uma técnica de impressão diferente foi utilizada:
— Cada camisa é única. Cada jogador teve a sua, foram feitas duas camisas para cada, mas diferentes. As duas do Enner Valencia eram diferentes — contou o vice de marketing Colorado.
Os detalhes também foram acrescentados em calções e meias. No total, 138 peças foram produzidas. O trabalho foi mantido em sigilo nos bastidores e pegou o elenco de surpresa momentos antes da partida.
— Ninguém sabia. A Conmebol fez as filmagens (no vestiário antes da partida) com os uniformes tradicionais. Os roupeiros, que foram informados, trocaram e não revelaram para os jogadores — disse Pires.
Aos poucos, o clube deu sinais nas redes sociais que preparava algo. O símbolo nas redes sociais foi alterado para uma foto do jornalista Tomás Hammes da marca do Sport Club Internacional coberta pela metade pelo nível da água do Guaíba no CT.
A avaliação é que o recado foi dado. Segundo o dirigente, a campanha pontual, que levará a leilão 23 camisas autografadas, além de ter gerado um uniforme para cada relacionado do jogo, relembrará a crise no Estado:
— O impacto foi legal em virtude de não ter vazado. Todos entenderam somente quando o time saiu do vestiário. Causou um impacto (ao relembrar que canais não esportivos comentaram a ação) — reforçou Pires.
— Uma obrigação nossa do Rio Grande é não deixar morrer o assunto. Reconstruir o Estado talvez leve 10 anos. Vamos fazer o nosso papel, trabalhando para relembrar. Os clubes são veículos de comunicação muito fortes — complementou.
Nos próximos duelos, o Inter voltará a utilizar os uniformes tradicionais, mas não descarta outras ações em um futuro próximo. A projeção é colaborar com a reconstrução do Estado, mesmo tendo que atuar longe do Beira-Rio nos próximos meses.