A sentença do ex-presidente do Inter Vitorio Piffero e seu parceiro na diretoria Pedro Affatato, condenados por estelionato, formação de quadrilha e, no caso de Affatato, lavagem de dinheiro, foi destaque nesta terça-feira (5). Para esclarecer detalhes do caso, o Promotor de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul Flávio Duarte falou ao programado Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha.
—A sentença é uma consequência relativamente esperada, porque quem tinha conhecimento dos fatos, tinha noção que o desfecho seria esse. Mas há a surpresa positiva de a Justiça estar acatando uma investigação de fôlego. Dá para dizer que foi a maior investigação financeira por um Ministério Público Estadual. Maior porque envolveu o Inter, que tem um orçamento superior ao de muitas prefeituras. Foram cerca de quatro anos para fazer a apuração financeira, que envolveu o clube, uma série de pessoas jurídicas, físicas e empresários — explicou o promotor.
Ele ainda destacou que a sentença proferida é do processo principal, oriundo da investigação original, sobre as obras e os adiantamentos. A partir dessa investigação, existem outros processos, alguns mais adiantados do que outros, mas que devem ser proferidas sentenças nos próximos meses.
— O crime, além do prejuízo de mais de R$ 12 milhões ao clube, pesou muito além do desfalque financeiro. Um clube é uma associação sem fins econômicos e tem finalidade desportiva. Os fatos praticados no clube atingem indiretamente mais de 100 mil pessoas do quadro social, além de milhares de torcedores espalhados pelo Brasil que depositam sua confiança na correta condução da administração. Na condição de dirigentes de um dos clubes mais relevantes do Brasil e do mundo, durante quase a integralidade da gestão, eles aderiram a um grupo criminoso bastante estruturado para a prática de sucessivos delitos — afirmou.
O promotor fez questão de destacar que nem todos os envolvidos tiveram vantagem financeira. Mas, nesse esquema criminoso, pelo menos alguma pessoa levou vantagem financeira. Durante as investigações foi visto que o clube teve prejuízo e parte significante dessas quantias foi identificada em uma das empresas dos réus condenados, que no caso pertence a Affatato.
— No início, o que se percebia era algo que não era cogitado por ninguém. Essa área esportiva nunca foi atacada de uma forma contundente por qualquer órgão de investigação. De uns tempos para cá, isso vem mudando. Essa condenação é paradigmática em nível nacional — exaltou Flávio Duarte.
Por fim, o promotor destacou a importância de se comunicar quando algo está errado. A sentença não seria proferida se alguém não tivesse tido a iniciativa de denunciar coisas ilegais dentro do clube.
— No caso do Inter, o que motivou a investigação foi a questão do rebaixamento e a não aprovação das contas do clube naquele ano. Não posso dizer que foi algo incomum, o que foi absolutamente incomum foi o impulso dado. Se não fosse aquela comunicação lá atrás, nós não chegaríamos aonde chegamos. Pode acontecer em outros clubes, acredito que sim. É importante criar uma cultura, não só de adversários políticos, mas de ter a iniciativa de procurar as autoridades noticiando algo que possa ser algo criminoso e que justifique essa investigação — finalizou.