O chute que selou a vitória no Gre-Nal 353, em 2003, quebrando o tabu contra o maior rival, saiu do pé esquerdo de Daniel Carvalho. A finalização que calou Morumbi, em 2006, e abriu o caminho para a conquista da primeira Libertadores, partiu do pé direito de Rafael Sobis. Os anos 2000 foram pródigos para o Inter, tanto em conquistas quanto na revelação de talentos.
Na década passada, o Colorado pareceu ter perdido a receita para lançar talentos. Os meias e atacantes cobiçados pelo Exterior deram lugar a jogadores do meio para trás que acabaram não dando tanto retorno financeiro. Quem acompanha a base, no entanto, não tem dúvida em apontar quem pode quebrar essa escrita.
A maior promessa colorada no momento atende pelo nome de Gabriel Carvalho. Com 16 anos recém completados, assinou em agosto seu primeiro contrato profissional com o Inter, válido por três anos. A multa rescisória é de 60 milhões de euros, cerca de R$ 317 milhões na cotação atual. Com o talento demonstrado, tem recebido as primeiras oportunidades no profissional
— É o maior prospecto da base do Inter. É o jogador que tem maior projeção no momento. Tudo depende do extracampo e dele fazer boas escolhas. O que vai definir muito será a adaptação dele no sub-20. Ele é protagonista no sub-17 e precisa ter protagonismo no sub-20 para ganhar visibilidade e apoio externo, o que influencia bastante — destaca Mozart Maragno, fundador do Portal Olheiros, especializado na cobertura da base.
Gabriel Carvalho está desde os nove anos de idade no Inter. Da geração 2007, começou a ganhar visibilidade em janeiro deste ano, quando, com apenas 15 anos, foi inscrito na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Mesmo em meio a atletas de maior porte físico, aproveitou os minutos que teve em campo para mostrar desenvoltura. Com 1m70cm e 69kg, atua tanto como meia, atrás do centroavante, quanto como segundo atacante.
— Ele é um atleta versátil. Já jogou por dentro, por trás dos atacantes e pelos lados. Ele tem o jogo curto e bate bem na bola. Tem muitas virtudes. Fisicamente, está se desenvolvendo. Tem potencial para ser um atleta muito valorizado no futuro do Inter, talvez gerando uma grande venda, o que faz um tempo que o Inter não tem. É um meia-atacante de mobilidade e associativo — ressalta Maragno.
Natural de Porto Alegre, mais precisamente do bairro Bom Jesus, de onde também surgiu Luiz Adriano, Gabriel Carvalho teve na família, ligada ao futebol de várzea, o incentivo para apostar na carreira. A chegada ao Inter se deu por acaso, ainda que a paixão pelo Colorado predominasse em casa.
— Foi o primeiro atleta que levei para o Inter. Um amigo falou que tinha uma "fera" na Bom Jesus. Como ele tinha nove anos, não deu muita bola. Depois, esse amigo me mandou um vídeo, que chamou atenção. Eu fui ver um treino. Ele era bem menor do que os outros meninos. Uma hora, o goleiro deu um balão. A bola subiu, ele foi dominar, e ela colou no pé. Eu direto falei para ele se apresentar no Inter no outro dia, sem precisar passar por teste. Um talento desse é fácil de ver — pontua Otavio Rotunno, que jogou na base do Inter e, logo após deixar os gramados, atuou como observador técnico colorado de 2016 até 2021.
Até o momento, Gabriel Carvalho disputou seis jogos com a camisa colorada, sendo três como titular. Com a lesão de Alan Patrick, ele tem ganhado ainda mais espaço com o técnico Roger Machado.
— É um menino que, desde as categorias menores, sempre foi um líder positivo em relação ao comportamento e a treinabilidade. Ele é mais um valor. O nosso trabalho é fomentar os destaques para que eles cheguem ao profissional — comenta Eder Moraes, técnico da categoria sub-17 do Inter.
Números totais pelo profissional
- 6 jogos (3 como titular)
- 292 minutos jogados
- 2 assistências
Números pelo Brasileirão
- 4 jogos (3 como titular)
- 1,5 finalização por jogo
- 2 assistências
- 44,5 toques por jogo
- 2 grandes chances criadas
- 1 lançamento certeiro (50% de acerto)
- 0,3 cruzamentos precisos (11% de acerto)
- 0,3 interceptação por jogo
- 1,5 desarme por jogo
- 3 bolas recuperadas por jogo
- 0,3 cortes por jogo
- 2 dribles (67% de acerto)
- 4,5 duelos ganhos pelo chão (49% de eficiência)
- 1 duelo ganho por cima (44% de eficiência)
- 12,8 perdas de posse de bola