Não faz nem um mês que o Inter passou a ser comandado por Eduardo Coudet. Mas é nítida a diferença de estilo da equipe em campo. Independentemente da preferência (se é melhor ou pior), existe uma mudança de comportamento. Algumas dessas alterações dizem respeito à postura e à forma como encara o adversário. Outras são nas peças escolhidas pelo treinador. A classificação diante do River Plate, em tese, dá mais tempo para o técnico montar o jogo à sua maneira, mas não se descarta que haja outras alterações com o decorrer da temporada.
Por enquanto, Coudet demonstra satisfação com o que tem visto. Após a vitória sobre o River, declarou:
— Vamos seguir melhorando. Estamos trabalhando muito bem, respeitando o tempo lógico do crescimento. É uma mudança de pensar, de treinar e da maneira de jogar. Estamos aqui há três semanas. O mérito maior é dos jogadores. Não vou cansar de ressaltar isso.
Duas dessas mudanças são nítidas, em nomes mesmo. Foi com a chegada de Coudet que o goleiro Sergio Rochet assumiu a titularidade. John era o dono da posição, inclusive um dos destaques da equipe. A outra troca foi no meio-campo. Johnny assumiu a função de primeiro volante. O técnico argentino foi o primeiro a dar chance para o brasileiro naturalizado norte-americano ser titular. Em um jogo contra o Pelotas, pelo Gauchão de 2020, escalou o então meia-atacante em uma posição mais recuada. Identificou nele algumas características que julga importantes para abrir o setor, como a capacidade de dar combate e distribuir a bola.
Mesmo com o retorno de Gabriel, não há mais contestação sobre a presença de Johnny no time. Alan Patrick, que foi outra questão debatida, tem pouca diferença, na prática. Ele é "atacante" apenas na fase defensiva. A rigor, ele fica liberado de funções defensivas mais pesadas, precisando apenas controlar os zagueiros. Com a bola, é meia, como deixam claros os mapas de calor de suas partidas diante do River e do Palmeiras.
No estilo de jogo, as mudanças são claras. Como o próprio Coudet fez questão de ressaltar, não se trata de ser melhor ou pior. Mas, sim, diferente. Por isso, a comparação é inevitável. Desconsiderando os resultados no mesmo recorte (os últimos cinco jogos de Mano Menezes versus os cinco primeiros de Coudet), inclusive os de Mano são melhores, é possível analisar as alterações de postura.
— Não gosto de falar do mérito pessoal. Tento convencê-los da minha ideia, da maneira de jogar e treinar, levar isso para o campo. Entendo que minhas equipes devam ser protagonistas. É para isso que nos preparamos. Não encontro méritos meus. Só tento dar a ferramenta para que os jogadores se sintam da melhor maneira durante as partidas — completou.
O Inter sob o comando de Coudet marca mais em cima. Os combates são feitos desde o campo de ataque, imediatamente após perder a bola. O time tenta sufocar o adversário e recuperar a posse o quanto antes. Os números mostram essas diferenças: as médias de posse de bola e trocas de passe são significativamente maiores com o argentino. Os índices de finalizações feitas pesam mais para Coudet, mas com baixa diferença. O reflexo é na defesa: o Inter atual cede mais chances aos adversários do que antes.
Essa postura independe das peças. Contra o Corinthians, Coudet mudou oito jogadores na comparação com os jogos diante do River. Ainda assim, o Inter marcou alto, trocou mais passes e também cedeu espaços, fruto dos riscos inerentes a essa filosofia.
O caminho está pavimentado, mas ainda longe de ter sido percorrido. O técnico falou diversas vezes sobre a necessidade de crescer e melhorar. Inclusive, brincou na última entrevista:
— Meu lema é que o Inter não anda. O Inter corre. Outro dia, falei que dentro de um mês, estaríamos bem. É uma adaptação de trabalho, ao jeito que queremos jogar. Sempre acho que podemos correr mais.
Para os confrontos com o Bolívar-BOL, será possível tirar uma febre da evolução da equipe. Coudet quer um Inter protagonista, que sufoque os adversários e não tenha medo de perder. Os jogos contra o River serão os balizadores de agora em diante.
Últimos cinco jogos com Mano Menezes
- 15 finalizações na direção do gol
- 54 finalizações erradas
- 20 finalizações certas concedidas
- 2.185 passes (média de 437 por jogo)
- 74 desarmes
- 49,4% de posse de bola por jogo
Primeiros cinco jogos com Coudet
- 18 finalizações na direção do gol
- 56 finalizações erradas
- 24 finalizações certas concedidas
- 2.398 passes (média de 479 por jogo)
- 76 desarmes
- 51,6% de posse de bola por jogo