Inesperado, possivelmente, seja o adjetivo mais adequado para descrever as primeiras semanas de Sergio Rochet no Inter. Não pela capacidade do goleiro, que é titular da seleção de seu país e era capitão do Nacional-URU, antes de desembarcar em Porto Alegre, mas pela rapidez como se adaptou ao clube e atingiu o sucesso. Aos 30 anos, viveu um gostinho que muitos companheiros sonham, de terminar uma noite de Copa como herói no Beira-Rio. Agora, tenta entrar no panteão colorado, cumprindo a característica de goleiros estrangeiros que levantaram troféus. E de uruguaios que marcaram época no Brasil.
Rochet foi anunciado pelo Inter quando ninguém esperava. E nem era uma necessidade. John estava sendo o melhor em campo em partidas seguidas, dono de uma posição que fazia tempo desde o último confiável.
Foi em 13 de julho que o Inter confirmou a contratação de Rochet. Seis dias depois, Eduardo Coudet começou seu trabalho no Beira-Rio. Foi a senha. Goleiro, normalmente, só é trocado em dois casos: sequência de falhas ou mudança de técnico.
Seu primeiro jogo, contra o Bragantino, foi marcado por boas intervenções e 0 a 0 no placar. Foi a única vez em que saiu do campo zerado. Diante do River Plate, no Monumental, começou a escrever sua história.
É curioso dizer isso, mas foi uma derrota, levando dois gols, que mudou seu status. É que naquela noite em Buenos Aires, Rochet evitou uma derrota pior do que o 2 a 1 que deu chance ao Inter de remontar no Beira-Rio. A consagração no jogo da volta foi nos pênaltis.
Também é curioso que foi numa disputa em que ele levou oito gols (na verdade, nove, só que o de Solari teve dois toques no escorregão). A glória chegou por assumir o risco de cobrar o pênalti decisivo. Especialmente porque ele mesmo contou:
— Segunda-feira, treinei. Bati três e errei dois, um para fora e outro na trave (risos). Mas tenho confiança e, por sorte, pude fazer o gol — contou Rochet na zona mista.
Rochet vive o começo de uma história que já deu certo em outras situações. O Inter teve alguns títulos com estrangeiro no gol. E o futebol brasileiro viveu grandes momentos com uruguaios debaixo das traves.
Começando pelo Inter. Os colorados contaram com o paraguaio José Benítez no tri do Brasileirão de 1979. Seu compatriota Gato Fernández era o goleiro do fim da fila de títulos, na Copa do Brasil de 1992. E o argentino Pato Abbondanzieri foi importante na caminhada do bi da Libertadores de 2010, ainda que tenha perdido o lugar de titular depois da contratação de Renan.
No futebol brasileiro, goleiros uruguaios também se deram bem. Ladislao Mazurkiewicz, presente em três Copas, ficou dois anos no Atlético-MG (e teve até uma passagem pelo Pelotas). Corbo era o goleiro do Grêmio no Gauchão de 1977. Martín Silva defendeu o Vasco. Fabián Carini, que passou anos na Juventus, também foi do Galo. Ele, aliás, mantém contatos frequentes com Rochet. Em entrevista a GZH, descreveu o goleiro colorado:
— É um goleiro que deixou ótima impressão no Nacional. Melhorou tecnicamente com os pés, com as mãos e no jogo aéreo. É recordista de tempo sem levar gol no futebol uruguaio. Está em uma ótima idade para chegar ao futebol brasileiro, cuja liga é importante, com jogadores de nível muito alto.
Além deles, teve também Rodolfo Rodríguez. No Brasil, o histórico uruguaio marcou época em Santos, Portuguesa e Bahia. Entrou para os livros do futebol por dois lances especiais. Um foi em 1984, quando, vestindo a camisa do Santos, fez uma sequência de defesas inacreditáveis contra o América de Rio Preto. Se não viu, procure no YouTube. Em 1993, pelo Bahia, desesperou-se diante de um inspiradíssimo Ronaldo Nazário, foi reclamar de sua defesa e levou o quinto gol do então jovem atacante de 17 anos que assombrava o país. Ele tem autoridade para avaliar o goleiro colorado:
— Teve experiência europeia e voltou para o Uruguai com esse cartaz. Foi campeão aqui. Tem todas as condições para dar certo no Inter, pelo que vi do time na Libertadores. Vai se adaptar rapidamente ao futebol brasileiro.
O começo é promissor. Mas para seus compatriotas, não é inesperado.
Rochet pelo Inter
- 5 jogos
- 7 gols sofridos
- 18 defesas
- 21 lançamentos certos
- 1 pênalti convertido