Após quase uma década de recessão, a Venezuela começa a apresentar — ainda tímidos — sinais de recuperação econômica, que ainda insuficientes para animar os clubes de futebol do país. A falta de estrutura para treinos, a ausência de investimentos e, sobretudo, os baixos salários pagos a atletas e treinadores desanimam os venezuelanos em relação ao sonho de conquistar uma vaga na Copa 2026 e de subir de patamar no futebol sul-americano.
— A economia do país está melhorando, mas ainda não é o melhor momento do país em termos estruturais. Ainda nos falta muita coisa. Os nossos clubes profissionais não tem grandes complexos e centros de treinamento, como têm, por exemplo, Grêmio e Inter. Acredito que isso é um grande limitador para o crescimento do nosso futebol — conta a GZH o técnico do Metropolitanos-VEN, José Maria Morr, que trabalhou em todas as seleções de base da Venezuela e chegou a ser auxiliar do técnico Rafael Dudamel na seleção principal.
O adversário colorado na partida desta quinta-feira (25), por exemplo, treina geralmente em um gramado sintético, através de uma parceria com um clube de base de Caracas. Ocasionalmente, o clube aluga um gramado natural para que os atletas possam se adaptar às condições dos jogos.
— Lamentavelmente o futebol venezuelano vive uma instabilidade esportiva e institucional. Há muitos clubes com dívidas com jogadores que já saíram e com outros que ainda estão nos clubes. Para a Copa do Mundo 2026, por exemplo, a única saída é desenvolver os jovens talentos, tanto os que atuam na Venezuela, como os que jogam no exterior — relata o jornalista Jair Pineda, do diário Noticias Express, de Caracas.
No entanto, apesar da existência de atletas de qualidade na base do país e dos esforços dos clubes, as perspectivas de desenvolvimento do futebol venezuelano esbarram naquele que é o principal problema de toda a Venezuela hoje: a falta de dinheiro.
— Não vou te mentir. Os nossos salários são baixos, e a inflação no país é alta. Sabemos que, em um clube de futebol, como em qualquer empresa, precisamos de investimento financeiro para crescer. Seria muito importante os clubes venezuelanos melhorarem as suas estruturas, seus campos e suas academias para que possamos desenvolver melhor os nossos jogadores — completa Morr.
A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica desde 2013, quando a queda nos preços do petróleo abalou a principal fonte de renda da nação caribenha, e que foi agravada pela crise política pela qual o país passou entre 2018 e 2019. Neste período, a recessão e a hiperinflação superior a 350.000% ao ano, conforme levantamento de entidades internacionais, corromperam o poder de compra da população, causaram crises de desabastecimento e limitaram todas as atividades econômicas, inclusive o futebol.
Contudo, nos últimos dois anos, a economia da Venezuela apresentou alguns sinais de recuperação, especialmente devido ao aumento da produção de petróleo. Com a Guerra na Ucrânia e às restrições impostas à Rússia, os Estados Unidos voltaram a recorrer ao óleo venezuelano e derrubaram parte das sanções econômicas impostas ao regime de Nicolás Maduro, dando algum fôlego à nação sul-americana.
Além disso, o governo venezuelano liberou em 2019 o uso do dólar, que, na prática, vem sendo mais utilizado que o bolívar, moeda oficial do país e cujo valor foi bastante corrompido nos últimos anos por conta da alta inflação.
— Está liberdade para utilizar diferentes moedas melhorou a nossa situação consideravelmente — explica Pineda.
Ainda assim, o país segue em crise e sofrendo com altas taxas de inflação — embora não mais hiperinflação — miséria, fome e criminalidade. Conforme estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação deve chegar a 400% em 2023, e há incerteza sobre o quão sustentáveis são os atuais sinais de recuperação da economia venezuelana.