Ficou mais nítido do que nunca o problema físico pelo qual atravessa o Inter, na quinta-feira (25). Se nas partidas em que perdeu (Atlético-MG, São Paulo e Grêmio) poderia haver alguma questão sobre a preparação dos atletas, e a derrota caberia na caixinha de ter enfrentado um time melhor, contra o Metropolitanos, isso não se aplica. Pelo contrário: não fosse a equipe venezuelana um adversário bem mais fraco, a vitória poderia ter escapado em Caracas. Os colorados desabaram no segundo tempo. A expectativa é de que possa ocorrer alguma melhoria depois da parada da data Fifa, entre 12 e 20 de junho. Mas como sobreviver até lá, estando em uma zona perigosa do Brasileirão e tendo decisões por Copa do Brasil e Libertadores? Há compromisso já neste domingo (28), contra o Bahia.
A preparação física foi uma das desavenças entre Mano Menezes e os antigos chefes, Sandro Orlandelli e William Thomas. Defensores de Jean Carlo Lourenço, preparador físico que foi demitido no início do mês, os dirigentes foram responsabilizados pelo mau desempenho dos atletas. Nos bastidores, comenta-se que desde fevereiro havia sinais de problemas e que tinham sido alertados. Mas existia uma "expectativa" de melhora gradual ao longo dos meses, o que não se percebeu até o final de maio.
Mano chegou a mencionar publicamente que tentou servir de escudo para essa defasagem, e que "talvez tenha sido um de seus erros". Ele se referia à preparação física. Na última entrevista coletiva, o presidente Alessandro Barcellos levou dados comparando os índices da equipe no primeiro semestre de 2023 com o segundo de 2022, que apontavam quedas em itens como distância percorridas e distâncias em zonas do campo, o que causou um rendimento inferior. Jean Carlo Lourenço e William Thomas foram procurados pela reportagem, mas preferiram não se manifestar.
O Inter ainda não anunciou outro preparador físico, e encontra problemas para recontratar Flávio de Oliveira, demitido do Corinthians. O profissional tem uma cláusula de contrato que lhe garante salários do clube paulista até dezembro, caso não assine com outro clube. Na prática, recebe R$ 120 mil para não trabalhar. A primeira oferta colorada era de R$ 40 mil. O clube estuda uma eventual contraproposta. Enquanto isso, o preparador interino João Goulart executa o planejamento do coordenador de performance Antonio Carlos Fedatto.
Faltam cinco jogos até a parada para os jogos das seleções nacionais. O Inter terá, na ordem, Bahia, América-MG (ambas em casa, a segunda pela Copa do Brasil), visita Santos e Nacional-URU (os uruguaios pela Libertadores) e recebe o Vasco. Como resistir?
Como resolver o problema físico?
Para esses cinco jogos que restam antes da parada para a Copa do Mundo, o Inter está aumentando gradativamente a carga de trabalho. Mas não é possível recomeçar como se fosse pré-temporada. Já há jogadores com lesões musculares, como Mercado, Renê e Bustos. Assim, é feita mais uma adequação do treino do que propriamente uma revolução. Dois profissionais da educação física ouvidos por GZH, os preparadores Michel Huff e Márcio Corrêa, afirmaram que será preciso aguardar três semanas para ver os resultados.
Durante a parada, será como uma intertemporada. O Inter correrá atrás da recuperação física dos jogadores e buscará equilibrá-los com os demais times brasileiros, apostando em uma arrancada no segundo semestre.
O que fazer até 12 de junho?
Ex-coordenador de performance do Inter, atualmente assistente de coordenação técnica do Santos, Elio Carravetta escreveu um artigo sobre o tema.
"O alto rendimento depende de fatores que ultrapassam o controle do preparador físico: fatores como a inteligência e a qualidade dos jogadores, jogadores reservas com potenciais para a titularidade, a idade média do time, as táticas aplicadas pelo treinador, o calendário, as viagens, o gramado, a relação com a torcida, e, principalmente, o plano de treino em geral. O preparo físico decorre do nível de exigências nos treinos com bola", escreveu.
Há dois focos para Mano Menezes tratar no campo que poderão ajudar a não sentir tanto a defasagem física. O primeiro é arrumar o time taticamente. Seja "reduzindo o campo" (ou seja, deixando seus jogadores mais próximos), fazendo-os correr menos ou mantendo a posse de bola, obrigando os oponentes a esforçarem-se mais para recuperar, será preciso mudar a mentalidade. Apenas baixar linhas e apostar em contra-ataques não darão a resposta.
A outra decisão que Mano terá de tomar é de rodar o time. Mesmo que entrem jogadores de qualidade técnica inferior, eles poderão compensar os problemas físicos dos titulares. Algumas mudanças ocorrerão por força maior, como Alan Patrick ausente do jogo contra o América-MG, por estar suspenso. Mesmo caso de Nico Hernández diante do Nacional.