Já faz cinco anos e meio que se fala de Keiller como um goleiro de enorme potencial no Inter. Mas desde abril de 2017, quando estreou, até hoje, quando parece ter virado titular definitivamente, ele tem apenas 11 partidas com a camisa colorada. Diante do Botafogo, neste domingo, 18h, no Nilton Santos, o gaúcho de Eldorado do Sul, 25 anos e 1m93cm começará o sexto jogo seguido debaixo das traves. E mesmo com uma carreira ainda curta, foi responsável indireto por uma mudança de regulamento no futebol gaúcho.
Mas para falar sobre como chegou até aqui, é preciso voltar para 23 de abril de 2017. Um Inter se recuperando do tombo para a Série B encarava o Gauchão e passava por um perrengue inusitado: apenas três goleiros estavam inscritos na competição. Durante o campeonato, Danilo Fernandes se lesionou. Ok, ainda havia Marcelo Lomba e Keiller.
Pois na semifinal do Estadual, contra o Caxias, no Estádio Centenário, Lomba foi cobrar um tiro de meta e abriu o músculo da perna. Keiller entrou, seu primeiro jogo profissional. Pois na estreia, defendeu um pênalti no segundo tempo e uma cobrança nas penalidades. Foi o herói da classificação. O destino sorria para o então goleiro de 20 anos que tentava cavar um espaço entre os grandes depois de passar sete anos na base colorada.
Na partida de ida da decisão do Gauchão, no Beira-Rio, saiu para cortar um cruzamento para a área e imediatamente deu um grito. Seu braço estava deslocado. Pânico na arquibancada e no campo. Keiller havia fraturado o cotovelo. Lomba arrastou os minutos finais daquele jogo e um descontado Danilo Fernandes sacrificou-se na final. Basicamente sem goleiro, o Inter perdeu o campeonato.
Depois desse episódio, que obviamente foi cercado de polêmicas, com o Inter tentando colocar mais um atleta na lista e não sendo autorizado, a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) mudou o regulamento. Desde então, o Estadual não tem limite de inscrição para goleiros.
Mas assim como o Inter perdeu o Gauchão, Keiller também perdeu espaço. Quando se recuperou, jogou apenas pelo time sub-23. Até conquistou o Brasileirão de Aspirantes de 2019, em uma final vencida sobre o Grêmio. Mas a busca era outra, de ser, de fato, profissional.
Foi assim que aceitou ser emprestado para a Chapecoense. A campanha do time catarinense foi terrível, terminou em último no Brasileirão 2021. Mas para Keiller, a chance foi aproveitada. Ele jogou 30 partidas, deu até uma assistência e se destacou o suficiente para voltar ao Inter.
— Sou muito grato pela oportunidade que tive na Chapecoense. Foi muito importante para mim. Vinha de alguns anos tendo pouca visibilidade. O Inter tinha o Danilo, o Lomba e também o Daniel na minha frente. Achei que tinha de buscar o meu espaço. Foi muito importante respirar um novo ar e viver uma nova cultura, até para voltar melhor. Estava há 12 anos no clube. Foi muito proveitoso — declarou em entrevista a GZH.
No CT Parque Gigante, reencontrou o preparador de goleiros Leonardo Martins, que ajudou em sua formação e lhe apelidou de "Advogado" porque costumava enchê-lo de perguntas nos treinos. E também Daniel, seu eterno companheiro de profissão (e de certa forma, de banco de reservas). Foi em razão de uma lesão do colega, que já vinha sendo contestado, que ganhou uma chance.
— O Daniel é um amigo meu. Fizemos o mesmo caminho na base. Ele é um espelho. Felizmente, teve a oportunidade dele em 2021. Eu optei por buscar a minha fora. Creio que tivemos um crescimento na mesma hora. É um cara gente boa. Sempre conversamos muito. Nossa relação sempre foi muito boa — afirmou.
A oportunidade bateu na porta. Keiller, contra o Botafogo, vai para sua 25ª partida em Série A do Brasileirão. A hora é de, novamente, aproveitar como fez em 2017. E, desta vez, torcendo para o destino conspirar a seu lado.