Bruna Cabrera, torcedora do Inter, vai ao estádio desde a infância. Gosta de acompanhar de perto seu time do coração. Mas tem algo que a desagrada muito, especialmente a partir do momento em que não escondeu ser homossexual: ela percebe que o estádio ainda é um espaço preconceituoso. Neste Dia Internacional do Orgulho LGBT+, a jornalista de 32 anos relata o que pensa e como luta por um ambiente sem discriminação:
— A gente vive um momento bem importante para combater preconceitos, não só a homofobia, mas o racismo, o machismo e outras tantas coisas que atrapalham a nossa sociedade. Então, pra mim, ir ao estádio é levantar a mão e dizer: "Mulher gosta de futebol, LGBT+ gosta de futebol."
A busca por um espaço sem constrangimentos, segundo Bruna, precisa mobilizar as torcidas, as pessoas LGBT+ e, principalmente, os clubes:
— Ir ao estádio com meu arco-íris é uma forma de educar, de ser vista. A gente só consegue se integrar à sociedade, e a sociedade só consegue “se acostumar” conosco quando a gente é enxergado.
A torcedora acredita que o Inter está dando pequenos passos, e que, em algum momento, vai abraçar a pauta LGBT+:
— A gente já teve o apoio do Internacional em dias do orgulho LGBT+. Então, ver o Beira-Rio com as cores do arco-íris (em 2019), foi um passo gigantesco, ao meu ver, para o futebol.
No ano passado, em 25 de março, Dia Nacional do Orgulho LGBT, o Inter criou o Comitê de Diversidade e Inclusão. Como parte das iniciativas, foi adicionada uma cláusula anti-discriminação em todos os contratos de trabalho dos funcionários do clube. Segundo a responsável pelo comitê, Janice Cardoso, a ideia foi trabalhar a mudança de conceitos também internamente no Beira-Rio:
— Precisamos ter um estádio que seja acolhedor, que seja humanizado, que seja inclusivo, que não discrimine.
O posicionamento do Inter em prol dos torcedores LGBT+ inclui hoje campanhas nas redes sociais e ações em datas comemorativas relacionadas à defesa da diversidade. Além disso, Janice destaca que o clube está se posicionando contra qualquer tipo de desrespeito e discriminação.
Poder treinar lideranças de torcidas é um caminho para que se possa diminuir, e até extinguir, qualquer tipo de ação, de violência, de cânticos que desrespeitem.
JANICE CARDOSO
Responsável pelo Comitê de Diversidade e Inclusão do Inter
Além das ações publicitárias, o Inter elaborou um projeto para capacitar lideranças de torcida sobre temas de gênero. Janice explica que ouvir as pessoas que fazem parte dos grupos de diversidade é o primeiro passo:
– Poder treinar lideranças de torcidas é um caminho para que se possa diminuir, e até extinguir, qualquer tipo de ação, de violência, de cânticos que desrespeitem.
Apesar das ações serem reconhecidas pelos torcedores LGBT+, Bruna destaca que a temática ainda precisa ser mais institucionalizada dentro do clube. A jornalista, que costuma acompanhar o time feminino do Inter, enaltece o papel da arquibancada:
— A torcida é a família do clube. Sem a torcida, não tem clube. Então, eu acredito que, quanto maior a torcida, melhor vai ser.
Dados no Brasil e no futebol
Conforme o Observatório de Mortes e Violência contra LGBT+, em 2021 foram registradas 316 mortes violentas contra este grupo de pessoas, sendo 285 casos de assassinato, 26 suicídios e cinco relacionados a outras causas. Mesmo com a publicação oficial dessas informações, a instituição reforça que os números devem ser bem maiores, por falta de dados oficiais.
Pela primeira vez na história, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou os dados de pessoas de 18 anos ou mais que se declaram lésbicas, gays ou bissexuais: são 1,8 milhões no Brasil e 171 mil pessoas no Rio Grande do Sul. Ao se tratar desses casos no futebol, os números são quase inexistentes.
No Brasil, não há jogador em atividade que tenha se declarado pertencente à comunidade LGBT+. No entanto, no dia 24 de junho, Richarlyson, ex-jogador conhecido pela sua passagem no São Paulo e Seleção Brasileira, em entrevista podcast do Globo Esporte, declarou ser bissexual, anos depois de pendurar as chuteiras. Ele é o primeiro jogador que atuou na Série A do Campeonato Brasileiro a falar abertamente sobre sua sexualidade.