Na noite em que a previsão do tempo antecipou uma tempestade sub-tropical para Porto Alegre, em que a defesa civil emitiu alerta para a população ficar em casa, em que aulas foram suspensas e supermercados fecharam mais cedo, teve futebol no Beira-Rio, com 4 mil pessoas nas arquibancadas. No frio de sensação térmica inferior a 10ºC, o Inter venceu o Independiente Medellín por 2 a 0 e assumiu a liderança do Grupo E da Copa Sul-Americana após cinco rodadas. Foi também a noite redentora de Edenilson, que após ter alegado sofrer injúria racial no sábado, marcou os dois gols.
O camisa 8, capitão do time, inclusive foi o atleta selecionado pela Conmebol para conceder entrevista após a partida. Os gols foram importantes, mas ele havia mais a falar, especialmente pelo que viveu nos últimos dias. Desde sábado, virou centro das atenções por ter denunciado uma agressão verbal com termos racistas por parte de Rafael Ramos, jogador português do Corinthians. Em um post nas redes sociais, chegou a pedir desculpas por "receber destaque fora do campo". Desta vez, no microfone, disse:
— Gostaria de responder só agora sobre isso. É o que falei na nota do Instagram. Não queria nem expor o jogador do Corinthians nem a mim. Sou pai de família, ele também tem a dele, está em outro país. Tento ver a bondade das pessoas, não quis expor o menino. Quero que a verdade venha. Foi o que ouvi. Por isso solicitei que ele fosse ao vestiário para explicar o porque de ter usado aquelas palavras, prestei queixa, estou deixando para as autoridades resolverem. Não quero usar um espaço que ele talvez não tenha para falar. Nem quero fazer um vitimismo. Tenho certeza do que ouvi.
Tão bonito como o gol foi o ato na comemoração. Ignorando a noite fria, a chuva e a regra, Edenilson tirou a camisa e mostrou a pela negra, punhos cerrados, com o gesto antirracista.
— Naqueles minutos finais (contra o Corinthians) queria ter feito o gol, fiquei com isso na cabeça. Tenho orgulho da minha cor, de todas. Somos todos iguais no final. Sou leigo no assunto racismo, nunca me interessei como deveria e poderia. A partir de agora, de ter sentido na pele como foi, vou me expressar mais para defender a minha cor — completou.
Além de Edenilson, o outro destaque da partida foi Wanderson. Com força, velocidade, criatividade e dribles, comandou basicamente todas as ações ofensivas. Partiu do lado esquerdo, mas soube ocupar as demais faixas do campo, conduziu a bola por dentro e mirou sempre o gol.
— Estamos encarando tudo como uma final e pudemos sair daqui com a vitória. Para a torcida e para o grupo é muito bom e nos deixa com confiança — afirmou o atacante.
O técnico Mano Menezes não poupou elogios ao camisa 11:
— Tem crescido a cada jogo, é uma etapa de conhecimento dos jogadores, ver como evolui com novas orientações. É um jogador valioso porque é de beirada, mas entra na área quando a jogada ocorre no lado oposto e tenta fazer o gol. Ele tem drible, transpõe a marcação. Mas o futebol cobra o preço tático. Acho que está indo bem. Está conseguindo terminar os jogos, readquirindo ritmo.
O Inter agora viaja ao Mato Grosso, onde no sábado à noite enfrentará o Cuiabá pela sétima rodada do Brasileirão. A vitória será importante para devolver a equipe à ponta de cima na competição nacional, na qual o time vem de três empates seguidos. Na terça-feira, porém, já tem novo compromisso pela Copa Sul-Americana. Em casa, receberá o 9 de Octubre, para tentar confirmar a classificação.