A injúria racial denunciada por Edenilson contra o lateral Rafael Ramos está longe de ser um fato isolado. Um levantamento feito pelo Observatório Racial no Futebol aponta que 32 casos de racismo já aconteceram envolvendo o futebol brasileiro neste ano. Desses, quatro aconteceram fora do Brasil por parte de torcedores estrangeiros em jogos da Libertadores e Sul-Americana. Ou seja, os outros 28 foram em território nacional envolvendo atletas, dirigentes ou torcedores.
Os números atuais indicam que pode ser alcançado o maior número de casos já registrados em uma temporada desde que o Observatório Racial no Futebol faz levantamentos. Em 2019 foram 70 casos ao longo do ano.
— O ano de 2022 está nos levando para 2019. Em termos de estatísticas, 2019 foi o ano em que o Observatório mais monitorou casos. Foram 70. Em 2020 e 2021, por causa da pandemia, nós tivemos menos denúncias. Em 2020, foram 31, mas com três meses sem futebol e com oito meses sem torcida nos estádios. Em 2021, foram 53 casos. Estamos chegando aos dados de 2019, que foi o maior número já monitorado pelo Observatório. É um momento, de fato, muito complicado na sociedade — apontou diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, em entrevista à Rádio Gaúcha.
Edenilson se manifestou nas redes sociais horas depois do caso no Beira-Rio. O jogador do Inter chegou a dizer que demorou a entender como deveria reagir por nunca ter passado por ato discriminatória. Marcelo Carvalho aponta que entre as medidas de combate ao racismo no futebol deve estar também a preparação da vítima para agir nessa situações.
— O futebol precisa pensar em um protocolo para casos de racismo. Precisamos estar mais preparados para quando esses casos acontecem. Não podemos dizer que isso não acontece sempre. Não são casos isolados. Só em 2022 houve 32 denúncias de racismo no futebol brasileiro. Ou seja, nós precisamos estar preparados e conversar com os atletas. Precisamos dialogar com os atletas sobre a forma de agir quando isso acontece, para não colocarmos eles nesta situação em que o Edenilson se sentiu — afirmou Carvalho, que alerta para a tendência de seguir aumentando casos se nada for feito.
— Estamos vendo uma arquibancada muito mais intolerante. Na sociedade brasileira, os racistas, que antes se escondiam, estão hoje abertamente cometendo atos de racismo sem a preocupação de se preservar. Estamos vendo esse crescimento nos casos de racismo. Não é só a identificação dos casos que aumentou. Os racistas estão se sentindo a vontade para cometer esses crimes — completou.